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O Mundo Mágico da Disney: A representatividade e o empoderamento

De crianças a adultos, abraçamos os mundos de fantasia como bons companheiros de vida – seja para fugir um pouco de nossa realidade ou até mesmo refletir e lidar com a mesma – fazendo desses mundos grandes sucessos atemporais, a exemplo os clássicos da literatura infantil. É praticamente impossível afirmar que o Mundo Mágico da Disney não tenha marcado gerações através de suas adaptações e produções por todo o mundo, e não seria estranho dizer isso ao me referir à sua linha de princesas frequentemente presentes nas mídias e nos mais variados setores comerciais.

Desde as donzelas principais mais antigas, como Branca de Neve e Cinderela, até as mais recentes, como as da produção Frozen, entre outras personagens secundárias, a Disney retrata através de suas obras valores e características sociais às suas épocas. Retrato esse, muitas vezes, exposto e interiorizado como referência de comportamento, beleza e exemplo de feminilidade à vida de muitas mulheres durante seu desenvolvimento.

A disposição da imagem feminina, inicialmente estereotipada, tanto esteticamente como comportamental, com o passar dos anos, avanços tecnológicos e sociais, deram protagonismo a uma revolução nos cenários de contos de fadas. Sem perder o encanto e as referências imagéticas, princesas ou não, doces donzelas indefesas passaram a dar espaço para mulheres ousadas, aventureiras e até mesmo heroicas, nos proporcionando histórias inspiradoras, mágicas e, claro, divertidíssimas.

A partir disso, é possível listar personagens emblemáticas das animações clássicas da Disney para o empoderamento feminino diante o seu contexto temporal e sua origem. Vejamos a seguir sobre algumas delas, de acordo com o ano de estreia e o lugar em que se passa a animação. 

Princesas da Disney emblemáticas e suas origens

Bela (1991), França

Como a 5ª princesa na cronologia de estreias, Bela não é a primeira a ir contra um sistema imposto em sua sociedade – como fez Ariel (1989) ao se rebelar contra seu pai por banir a música de seu reino -, mas, ainda assim, traz em sua trajetória sagacidade e a audácia de ser à frente de seu tempo.

Uma jovem camponesa, que tem como ambição sair do interior, se dedica aos livros, rejeita o garanhão da aldeia e ajuda seu pai em invenções malucas – até se submete a um cárcere privado com a Fera para salvá-lo. Apesar de, no final das contas, acabar se casando com o príncipe e consolidando aquele velho clichê – algumas críticas relativizam seu relacionamento com a Fera como reflexo da síndrome de Estocolmo -, Bela nos deixa com a lição de que mulheres devem ser inteligentes e pensarem por si, dando leves saudações aos ares feministas. 

Bela
Bela. | Foto: Reprodução.

Jasmine (1992), Arábia

Jasmine, princesa de nascença, chegou com uma grande novidade: a primeira princesa não-caucasiana da Disney. Além da mudança de cenário e origem da personagem (sai-se da Europa), Jasmine vem junto com um tigre de estimação para impor suas vontades, sendo a primeira a negar um casamento arranjado por seu pai com aquele que veio a ser seu inimigo, Jafar.

Determinada, com espírito de independência e vontade de conhecer o mundo fora do palácio, a princesa consegue a liberdade de se casar com quem ama e, no live-action (2019), o feito de tornar-se sultana. “Eu não sou um prêmio a ser ganho” é uma de suas falas marcantes.

Jasmine
Jasmine. | Foto: Reprodução.

Pocahontas (1995), EUA

Pocahontas, filha de chefe de tribo, traz a representação de uma ameríndia, sendo também a primeira trama baseada em uma história real. Pocahontas tem consigo a bravura para proteger seu povo, é dona do seu próprio destino e se recusa a ter um herói. É praticamente uma representação do ecofeminismo, visto que relaciona a questão de igualdade com a natureza em equilíbrio.

Pocahontas
Pocahontas. | Foto: Reprodução.

Esmeralda (1996), França

Representando os ciganos e dona de uma beleza ímpar, Esmeralda claramente luta contra a injustiça social, a discriminação de minorias e a marginalização de seu povo.

Livre, sensual e sem levar desaforos para casa, a cigana enfrenta o velho julgamento a respeito de seu comportamento “vulgar” e quebra preceitos românticos ao reconhecer o amor de um amigo (Quasímodo) e não poder correspondê-lo. Particularmente, Esmeralda é uma das figuras mais emblemáticas da Disney a respeito de causas sociais e feminismo.

Esmeralda
Esmeralda. | Foto: Reprodução.

Mégara (1997), Grécia Antiga

Desviando da curva de boa moça, a primeira aparição da envolvente, sarcástica e amorosamente desiludida Mégara se dá por uma cena de assédio, onde a mesma faz pouco de seu “salvador” (Hércules).

Meg entrou numa enrascada ao vender sua alma para Hades em troca da vida de seu namorado que, após ser salvo, a deixou por outra mulher…na busca de ter sua liberdade de volta, ela se junta ao vilão para tentar derrubar Hércules, por quem acaba se apaixonando após joguinhos de sedução e perceber que, de fato, ele a admira por ser como é.

Mégara
Mégara. | Foto: Reprodução.

Mulan (1998), China

Como a primeira de origem asiática na linha e a primeira a definitivamente não ter um herói, Mulan disfarçou-se de homem para se alistar ao exército chinês no lugar de seu pai, já debilitado por guerras anteriores. Corajosa e destemida, Mulan treina arduamente para superar seus limites, alcançar seus objetivos e dar honra à sua família de alguma forma.

A animação traz à tona questões de gênero, como uma construção social, e a discussão a respeito da inferiorização de mulheres por tradições. Para todos que duvidaram da capacidade de Mulan, a resposta foi simples: ela salva a China. 

Mulan
Mulan. | Foto: Reprodução.

Nani Pelekai (2002), EUA

Como a responsável por uma pequena e estranha família havaiana, Nani Pelekai faz de tudo para criar sozinha sua irmã Lilo. Com a chegada de seu mais novo “cachorro”, Stitch, algumas atrapalhadas da pequena fã de Elvis Presley e a dificuldade de se manter em um emprego, ela corre o risco de perder a guarda da criança. Mas, pela ohana (quer dizer família), Nani é capaz até de enfrentar alienígenas.

Nani Pelekai
Nani Pelekai. | Foto: Reprodução.

Tiana (2009), EUA

Como a primeira princesa negra e de origem humilde do subúrbio de Nova Orleães, Tiana surge para protagonizar uma jovem garçonete que trabalha arduamente para conseguir seu próprio dinheiro e realizar o sonho de ter um restaurante, onde pessoas de todos os lugares façam filas enormes para experimentar sua comida.

Após muito esforço e a aventura de ser transformada em sapo, Tiana se torna princesa ao casar-se com o príncipe Naveen, da Maldonia, e ganha parceiros na realização de seu sonho.

Tiana
Tiana. | Foto: Reprodução.

Rapunzel (2010), Alemanha

Princesa de nascença, porém sequestrada, Rapunzel passou a vida confinada em uma torre estudando, pintando, jogando e aprendendo tudo o que era possível até o seu aniversário de 18 anos, quando resolve fugir para ver as lanternas flutuantes.

Numa aventura de descoberta do mundo, de suas capacidades e de sua verdadeira história, Rapunzel ressignifica símbolos comumente associados à figura folclórica de “o que é ser mulher”: um lindo cabelo e panelas. Ela desenvolve diversas habilidades com sua cabeleira mágica, que brilha quando canta (tem poder de cura), além de revolucionar o quesito segurança com a adaptação de frigideira como arma.

Rapunzel
Rapunzel. | Foto: Reprodução.

Merida (2012), Escócia

Nascida na realeza medieval escocesa, a Princesa Merida (Valente), chega com uma beleza diferente da até então usada e um estilo mais “largadão”, com comportamentos socialmente relacionados a um garoto.

Jovem e autêntica, Merida usa seu amor e incrível habilidade com arco e flecha para salvar-se de um casamento arranjado com o filho de um dos líderes de clãs amigos. Ela abusa dos requisitos para competir pela sua mão e disputa pelo próprio destino. Depois de muita confusão, Valente consegue a compreensão de seus pais e sua liberdade de escolha, até influencia os outros líderes dos clãs a deixarem os filhos escolherem seus destinos.

Merida
Merida. | Foto: Reprodução.

Elsa (2013), Arendelle

A dona dos poderes mágicos que desenvolvem a trama de Frozen ao permiti-la dar vida ao gelo. Desde pequena, Elsa viveu rodeada pelo medo: teve que esconder seus poderes ao invés de aprender a dominá-los e precisou se afastar de sua irmã após um incidente. Ao ter seus poderes revelados, ela é obrigada a fugir de Arendelle para salvar a própria vida.

A Rainha da Neve mais adorada do mundo traz sensualidade, elegância, seriedade e muito empoderamento ao se libertar, testar seus limites, descobrir sua verdadeira essência e aceitar a capacidade de governar o reino herdado de seus falecidos pais. Elsa também nos deixa a lição de que o amor verdadeiro não está necessariamente em um príncipe, mas naqueles que amamos da forma mais genuína, no caso dela, a irmã.

Elsa
Elsa. | Foto: Reprodução.

Moana (2016), Polinésia

Filha única e sucessora do chefe da tribo de Motonui, Moana foi a escolhida pelo oceano para, literalmente, embarcar num mar de aventuras e restaurar o coração de Te Fiti, a deusa da ilha, para salvar a ilha em que vive com seu povo.

Em um dilema de liderança entre seguir os passos de seu pai e realizar seu sonho de ser viajante (ir além do horizonte), Moana nos traz coragem, intuição, confiança em seus ancestrais, o amor por um sonho, pela família e a importância da descoberta de si mesma.

Moana
Moana. | Foto: Reprodução.

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Por Lawanne Arruda – Fala! UFPE

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