O coronavírus tem dado o que falar nas últimas semanas. Ele é uma família de vírus que provoca infecções respiratórias, cujo novo agente foi descoberto na China no final de 2019, provocando a doença coronavírus (Covid-19).
E, após a sua rápida proliferação por todo o mundo, diversos países estão tendo de arcar com as consequências da perigosa epidemia, recorrendo, inclusive, à quarentena recomendada ou obrigatória, dependendo do território.
Com isso, diversas indústrias estão sofrendo um catastrófico choque, incluindo o mundo artístico, que está tendo de se adaptar ao cenário atual.
Quarentena no mundo artístico
Festivais, teatros, museus e exposições
Museus, festivais, exposições e teatros de todo o mundo tiveram que encerrar suas atividades, devido à pandemia do coronavírus. Os teatros da Broadway, em Nova York, fecharam e tiveram seus espetáculos em cartaz interrompidos a partir do dia 12 de março, fazendo com que muitas peças que estrearam por agora não consigam nem se pagar, e o prejuízo estimado é de US$100 milhões, a princípio.
O Festival South by Southwest (SXSW), que costuma gerar US$356 milhões de dólares para a economia de Austin, no Texas, onde é sediado, foi adiado pela primeira vez em 34 anos; o mundialmente conhecido Festival Coachella, que ocorre na California, teve o mesmo destino, e foi adiado para outubro desse ano, o que pode significar um rombo de US$1 bilhão para a economia; o festival Knotfest, do Slipknot; a CinemaCon; a ComicCon de Seattle; a WonderCon; a Glastonbury 2020¸que contaria com Kendrick Lamar, Taylor Swift, Dua Lipa, Paul McCartney, entre outros artistas; assim como a CCXP Cologne e o aclamado Festival de Cannes foram todos adiados, muitos com novas datas ainda indefinidas.
No Brasil, a edição nacional do Lollapalooza, assim como as edições chilenas e argentinas, foram adiadas; a PerifaCon, evento de cultura pop para pessoas das periferias paulistas; a Virada Cultural 2020 e a Parada de Orgulho LGBT, que ocorrem em São Paulo; o Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ!) e o Festival É Tudo Verdade, que reúne média e curtas-metragens, foram alguns dos principais eventos adiados por conta da epidemia.
Mas, graças à colaboração de diversos artistas e o incentivo de algumas empresas, o show pode sim continuar. Por meio de festivais de música on-line, artistas do mundo todo estão levando as apresentações para dentro da sua casa.
Dentre eles, alguns dos internacionais são Together at Home, criado pela ONG Global Citizen, em parceria da Organização Mundial da Saúde, contando com nomes como Chris Martin (vocalista do Coldplay), John Legend, Charlie Puth e Niall Horan, exibido ao vivo no Instagram e com gravações reunidas no seu canal do YouTube.
O Billboard Live At-Home, criado pela própria Billboard, é exibido em sua página no Facebook e conta com nomes como Jojo, Josh Grboan, Lauren Jauregui, Russell Dickerson e Luke Bryan, com cada show promovendo doações a organizações beneficentes selecionadas pelos cantores.
Além desses, há o Third Man PublicAccess, transmitido ao vivo no YouTube pela gravadora Third Man Records, com shows realizados no estúdio, em Nashville, e que vai ao ar todos os dias, às 14h no horário de Brasília.
E de festivais nacionais, temos em especial o Isolamento Acústico, feito pela Loop Discos, com shows ao vivo todos os dias às 22h nas suas redes socias, até 09/04, com atrações que incluem Rê Adegas, João Maldonado e Lucas Silveira (Fresno), que podem também ser assistidos pelo IGTV @loopreclame.
O festival #tamojunto, criado pelo jornal O Globo, com 32 performances de artistas nacionais, como Duda Beat, Nego do Borel, Adriana Calcanhotto, Cícero, Ana Gabriela, entre outros, que podem ser vistas no Instagram, site e redes sociais do jornal; o Lá de Casa, que ocorreu entre os dias 20 e 22 de março, contando com 35 shows pelo Instagram @festivalladecasa, feitos por nomes como Ana Gabriela e banda Hotelo, além de atrações de fotografia, cinema e artes plásticas.
Mais do que esses, existiu também o Música em Casa, que apresentou cinco lives por dia, pelo perfil de cada artista, até o dia 29/03, cujos participantes eram de diferentes estilos musicais, como Paula Fernandes, Tropkillaz, Atitude 67 e Jão e o Fico em Casa BR, versão brasileira do festival português de mesmo nome, que conta com 76 shows de artistas nacionais como Daniela Mercury, Emicida e Valesca Popozuda, pelo Instagram @festivalficoemcasabr, do dia 24 ao dia 27 de março.
Livros e HQs
No mundo dos livros, por mais que livrarias e festivais tivessem que fechar suas portas devido à quarentena mundial, as vendas on-line e de livros digitais estão sendo grandes saídas para o problema.
Visto isso, a Amazon disponibilizou gratuitamente diversos e-books em seu site, que podem ser lidos em qualquer dispositivo. Entre eles, estão incluídos clássicos da literatura e livros sobre psicologia, educação, filosofia e política.
No entanto, a principal distribuidora de quadrinhos dos Estados Unidos, a Diamond Comic Distributors, anunciou que irá suspender suas atividades a partir de 01/04, fazendo com que a distribuição de HQs no país seja paralisada.
E nem mesmo a galera da Turma da Mônica ficou de fora dessa. Em uma imagem publicada no dia 27/03, nas redes sociais da HQ, é mostrado o próprio Cascão vencendo seu medo de água e lavando as mãos! A proposta foi feita justamente para conscientizar as pessoas sobre a necessidade de se lavar as mãos por conta do contagioso vírus.
Mesmo que muitos ainda não saibam, recomenda-se que as mãos sejam higienizadas pelo menos três vezes ao dia, especialmente antes de comer, após usar o banheiro ou tossir, espirrar, mexer no nariz e visitar pessoas doentes. A Organização Mundial da Saúde reconhece o ato como um dos principais instrumentos contra epidemias, sendo extremamente importante para os dias de hoje.
Música
O cenário musical foi outro que também foi muito afetado pela pandemia do vírus, o que acarretou em muitas turnês mundiais adiadas e lançamentos de álbuns com novas datas.
Entre as diversas turnês que sofreram com o problema, estão nomes como Camila Cabello, com sua turnê The Romance Tour; Avril Lavigne, que tinha shows marcados na Europa; a vencedora do Grammy, Billie Eilish, que teve de adiar sua turnê na América do Norte; a banda Green Day, o grupo sul-coreana BTS e Madonna também tiveram seus shows adiados na Ásia e na Europa; Pearl Jam que teve seus shows adiados nos EUA.
Além de artistas que passariam pelo território brasileiro com suas turnês, como McFly, com sua turnê de retorno; a banda Offspring; o Wu-Tang Clan e Metallica, cuja turnê sul-americana ocorreria em abril desse ano.
Além disso, a cantora Lady Gaga confirmou em suas redes sociais que seu mais novo álbum, Chromatica, também foi adiado devido à pandemia, visto que a cantora achou incoerente lançar um álbum com músicas animadas e dançantes em um momento tão delicado quanto o atual.
Alguns artistas também utilizaram do clima proporcionado pela epidemia do coronavírus para lançar músicas novas conscientizando e trazendo esperança para os ouvintes.
Dentre eles tem o hit da cantora Cardi B, cujo vídeo comentando sobre o problema do coronavírus viralizou na internet, e foi lançado como remix pelo dj iMarkkevz no iTunes, além da rapper ter também confirmado que o dinheiro arrecadado com a música será doado para famílias com problemas financeiros por conta do vírus e moradores de rua.
Também foi feita uma nova versão da música por Schevchenko e Elloco, com a produção de 10G no Beat, em formato de brega-funk, com o intuito de “passar uma visão da rapaziada se prevenir dessa doença, porque muitos não estavam dando a mínima atenção”, como afirmou Schevenko a Folha de Pernambuco
A banda U2, por sua vez, lançou a música Let Your Love Be Known, como uma carta de amor para italianos e irlandeses que inspiraram a canção, e dedicada, também, a médicos, enfermeiras e cuidadores na linha de frente, como afirmou Bono, o vocalista da banda, em seu Instagram.
E, em virtude do grande caos que a epidemia trará – e já está trazendo – para o mercado artístico, a Semana Internacional de Música, evento que acontece todo ano em São Paulo, com artistas e produtores, afirmou:
Demonstrem apoio a artistas, produtoras, casas de show e festivais nas redes socias e ouçam muita, muita música. O impacto no mercado musical é inevitável e o prejuízo ainda é incalculável.
Cinema
No mundo do cinema, diversos filmes que deveriam ainda estar rodando tiveram suas exibições interrompidas devido ao surto causado pelo Covid-19.
Star Wars: A Ascensão Skywalker, Frozen II, O Homem Invisível e Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa são alguns dos longas cujas exibições tiveram de ser interrompidas e, com isso, serão disponibilizados mais rapidamente nos serviços de streaming e digitais.
Diversos estúdios também cogitam fazer estreias de filmes apenas nessas plataformas, visto que ainda nem se sabe quando será possível que os filmes sejam lançados nos cinemas.
Além disso, muitos filmes tiveram suas estreias adiadas. Dentre eles, Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou, De Perto Ela Não é Normal, Três Verões, No Gogó do Paulinho, A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou meus Pais, Aos Olhos de Ernesto, Eu Sinto Muito, Pedro Coelho 2, Trolls 2, Um Lugar Silencioso 2, Antebellum, Run, Espiral: O Legado de Jogos Mortais, Desafio de um Campeão, LoveBirds, In The Heights, Malignant, o live-action de Mulan, 007 – Sem Tempo Para Morrer, Velozes e Furiosos 9, Novos Mutantes, Minions 2: A Origem de Gru, Scooby!, Mulher-Maravilha 1984 e Viúva Negra.
E outros tiveram seus trabalhos de pré-produção e gravações interrompidas, como Shang-Chi and The Legend of The Ten Rings, Jurassic World 3 – assim como todos os outros filmes live-action produzidos pela Universal – The Batman, Red Notice – filme da Netflix que conta com Dwayne Johnson, Gal Gadot e Ryan Reynolds -, o terceiro filme da franquia Animais Fantásticos, King Richard – o drama de tênis estrelado por Will Smith -, o filme da Sony baseado no jogo Uncharted, as sequências de Avatar, Missão Impossível 7, Matrix 4 e o live-action de A Pequena Sereia.
Mas, no meio desse transtorno global, certos filmes que tratam de epidemias como seu principal tema tiveram grande aumento em suas procuras. Como Contágio, filme de Steven Soderbergh, que nove anos após seu lançamento original voltou para a lista de 10 filmes mais procurados no iTunes.
Vale ressaltar que o grave problema causado pela pandemia do coronavírus trará consequências econômicas absurdas para todo o mundo, incluindo o cinema, que já está arcando e tendo de se adaptar a isso.
Entre 13 e 15 de março, os Estados Unidos registraram sua pior arrecadação desse século nas bilheterias e o prejuízo total, que será trazido pela futura crise, ainda é incalculável para a realidade cinematográfica.
Séries e Novelas
Outra grande vítima da quarentena provocada pela pandemia de coronavírus foram as séries. Grey’s Anatomy, The Morning Show, Jovem Sheldon, Clarice – série derivada de O Silêncio dos Inocentes, Claws, Queen Sugar, Pennyworth, The Flight, Attendant, All Rise, God Freinded Me, a segunda temporada de The Witcher, The Rightous Gemstones, a primeira temporada da série derivada do Senhor dos Anéis, Snowpiercer; Stranger Things, Grace & Frankie, The Walking Dead e seus derivados (Fear The Walking Dead e o novo The Walking Dead: World Beyond), The Handmaid’s Tale, Survivor, Fargo, a gravação do especial não roteirizado de Friends, Star Trek: Discovery, Falcão e o Soldado Invernal, Supergirl, Batwoman, Supernatural, Euphoria, Riverdale e a segunda temporada de Carnival Row foram algumas das séries que tiveram suas produções interrompidas e, assim, possivelmente serão lançadas mais tarde que o previsto.
As novelas também não ficaram de fora. A Rede Globo anunciou que Amor de Mãe (atual novela das 21h) e Salve-se Quem Puder (novela das 19h da emissora) teriam suas gravações interrompidas e, com isso, seriam substituídas por reprise das novelas Fina Estampa e Totalmente Demais, respectivamente.
Malhação: Toda Forma de Amar terá seu final adiantado para abril e, após sua exibição, entrará no seu lugar uma reexibição da vencedora de um Emmy, Malhação: Viva a Diferença. E, após o termino da novela das 18h, Éramos Seis, entrará em seu lugar uma nova versão da novela Novo Mundo.
Enquanto isso, aproveitando a oportunidade, a Netflix, por sua vez, estreou a série documental Pandemia: Como Prevenir uma Epidemia, que entrou para a lista das mais assistidas do momento.
Streaming e outros serviços
Em meio ao tenso clima formado pela pandemia, e a adoção da quarentena como medida preventiva para tentar conter o problema, alguns serviços de streaming, canais de TV, entre outras plataformas liberarem conteúdo gratuito para aproveitar durante esse tempo.
O Telecine concedeu 30 dias grátis para seu serviço de streaming, assim como o GloboPlay, cujo conteúdo inclui produções da Disney, Pixar e Marvel, cotando com sucessos como Thor: O Mundo Sombrio, Capitão América: O Soldado Invernal, Monstros S.A., Cinderela, Malévola e muitos outros.
A SKY, por sua vez, liberou mais de 70 canais para seus clientes, a Vivo mais de 100 canais para aqueles que utilizam seu serviço de TV por assinatura, o Olhar de Cinema + liberou todos os Insights para serem assistidos gratuitamente nessa quarentena, a Spcine Play deixou todo o seu conteúdo gratuito por 30 dias (a partir do dia 17 de março), a Oi liberou até o dia 28 do mesmo mês diversos canais infantis – de filmes, series, notícias e esportes – e a Claro também disponibilizou mais canais e conteúdos para seus assinantes por tempo indeterminado.
Com isso, é visível o aumento do streaming, serviços de TV e digitais diante da necessidade da quarentena. Isso fez com que a Netflix tivesse um aumento de 0,8% em suas ações na Wall Street, no mesmo período em que a bolsa de valores de Nova York teve sua maior queda nos últimos 9 anos.
Diante disso, o analista de mercado Dan Salmon, da BMO Capital Market, disse a Variety que a Netflix “é obviamente beneficiada se os consumidores ficam em casa preocupados com o coronavírus, e isso se reflete no aumento considerável do preço de suas ações nesta semana”.
Seguindo tal pensamento, JC O’Hara, analista da MKM Parterns, afirmou ao CNBC que empresas de tecnologia como Amazon, Facebook, Peloton e Slack poderiam se beneficiar da expansão do surto de coronavírus. “O que as pessoas vão fazer se ficarem enfiadas em casa o dia todo?”.
Mas, contrariando o pensamento de que a Netflix faturaria muito com a epidemia, Laura Martin, analista de entretenimento da Needham and Company de Nova York, afirmou que a Netflix só ganharia dinheiro com assinaturas mensais, assim, não faria diferença se um assinante acessasse a plataforma por uma ou 24 horas ao dia.
Martin também pede ao jornal britânico, The Guardian, para que as pessoas se atentem ao impacto financeiro nas suas vidas, por conta da pandemia. “Se você tiver que decidir entre comida e sua assinatura da Netflix, me parece que você se desfaz da Netflix”.
Ainda é incerto por quanto tempo a quarentena deve permanecer para que a ameaça fatal provocada pela pandemia do coronavírus seja amenizada. No entanto, a Organização Mundial da Saúde, assim como alguns dos maiores líderes mundiais, cientistas, pesquisadores e profissionais da área da saúde, pedem para que todos permaneçam em casa.
Esse é o principal instrumento contra a proliferação do vírus e fundamental para que a economia de todos os cenários – incluindo o artístico – e para que a vida dos cidadãos seja preservada e possa voltar ao normal.
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Por João Maurício Maturana – Fala! UFRJ