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A Invisibilização do rap feminino no Brasil

O rap, a arte produzida na periferia, fruto de uma cultura originalmente negra, é um estilo musical muito presente no Brasil. Artistas como Racionais MC’s, Mv Bill e Sabotage servem como inspiração para muitos jovens, além de abordarem em suas canções a realidade velada da vida na periferia, violência policial e do racismo enraizado na sociedade brasileira, servindo sobretudo como um ato de resistência. Porém, desde a sua ascensão no Brasil, a cena do rap é dominada por homens, o que dificulta a visibilidade das mulheres na cena, somado ao machismo e à misoginia que dominam o cenário social brasileiro.

Nos anos 80, o estilo musical entrava em evidência nos Estados Unidos, mas só a partir dos anos 90 que nomes femininos começaram a ganhar visibilidade dentro da cena do hip-hop norte-americano. Nomes como Salt-N-Pepa (grupo feminino de hip-hop), Lauryn Hill e Foxy Brown mostravam que as mulheres também faziam rap, e queriam abordar sobre suas realidades e questões de gênero, dentro da música, mesmo sendo extremamente desvalorizadas e sexualizadas pela indústria musical. No Brasil, essa realidade não foi diferente, visto que mulheres pioneiras ainda têm pouca visibilidade se comparada aos homens.

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O rap feminino continua sendo invisibilizado no Brasil. | Foto: Reprodução.

Quem foram as pioneiras do rap feminino no Brasil?

O rap brasileiro começou a ganhar voz no Brasil no final dos anos 80, como uma forma de mostrar a realidade vivida pela população das favelas, local onde a mídia não chegava. Desde o início, nomes femininos permaneceram presentes na cena, apesar de serem apagados ao longo da história. Apresentar essas mulheres é uma forma de validar a importância e a representatividade de suas canções para a construção de um movimento de resistência. Seguem, abaixo, alguns dos principais nomes dentro da cultura do rap nacional feminino.

Dina Di

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Dina Di. | Foto: Reprodução.

Viviane Lopes Matias, mais conhecida como Dina Di, nasceu em Campinas, São Paulo, em 1976, e foi uma das fundadoras do grupo Visão de Rua. Iniciando sua carreira 1989, Dina Di teve uma vida muito conturbada, marcada por diversas passagens na Febem e de um lar totalmente desestruturado, vítima de diversos abusos. É considerada a primeira rapper brasileira a conseguir alcançar reconhecimento nacional. Conhecida como a “Rainha do Rap”, Dina Di lançou músicas como Confidências de uma presidiária e A noiva de Chuck. Morreu em 2010, vítima de uma infecção hospitalar.

Sharylaine

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Rapper Sharylaine. | Foto: Reprodução/Chaia Dechen.

Sharylaine Sil, nascida em São Paulo em 1966, é considerada a primeira mulher preta da primeira geração do rap brasileiro. Em 1986, ainda adolescente, foi a criadora do primeiro grupo de rap nacional formado apenas por mulheres, o Rap Girl.

No início da carreira, buscava vestir sempre roupas largas, consideradas masculinas, para tentar ser aceita dentro da cena do estilo, porém da cor rosa, o que segundo ela, dava um toque feminino em seu estilo, já que a música era dominada totalmente por homens e ela não podia apresentar nenhuma característica feminina além do aceito, pois o rap era considerado algo só para o público masculino.

Com o Rap Girls, lançou músicas como Pense o que quiser e Amigas de Verdade. Sharylaine aborda em suas músicas o feminismo, a realidade da mulher preta e periférica, além de questões políticas.

Quem são as mulheres no cenário do rap nacional atual?

Ao longo dos anos, o cenário do rap nacional se expandiu, com a ajuda dos adventos da internet e da rápida divulgação de conteúdo. Com essas mudanças, surgiram várias mulheres no Brasil com uma visibilidade um pouco maior que a de décadas atrás, porém, ainda assim são poucas se comparadas aos homens. Nomes como Negra Li, Tássia Reis, Drik Barbosa, Karol Conká, Flora Matos, Odisseia das Flores são alguns nomes presentes na cena feminina no Brasil, que ressaltam em suas canções a importância da representatividade dentro dos espaços e a busca pelo respeito dentro da sociedade brasileira.

A importância da ocupação de espaços

A presença da mulher no cenário do rap pode ser considerada um ato de resistência, o fato de simplesmente existir dentro de um espaço opressor é de uma grandeza enorme para a representatividade. É importante abrir espaços e valorizar a obra de artistas mulheres dentro do rap, já que ele serve como um instrumento de análise social, apresentando realidades e vivências que se veem distantes ao alcance midiático.

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Por Alicia Coura – Fala! UFMG

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