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Cidade sem carros é possível?

Os carros ainda são os meios de transporte mais utilizados por muitos brasileiros. Em metrópoles como São Paulo, as viagens diárias com automóveis chegam a 12,9 milhões, segundo a pesquisa Origem Destino 2017.

Pedestres perderam espaço na cidade de São Paulo

Apesar disso, algumas cidades no Brasil e no mundo estão repensando essa dependência do carro. Diante de congestionamentos e poluição, cidades como Oslo, na Noruega, e Barcelona na Espanha, apostam em maneiras alternativas de deslocamento.

Paulista com pedestres e fechada para carros — Foto: Flávio Moraes/G1
Paulista aberta aos domingos e feriados para pedestres. (Foto: Flávio Moraes/G1)

Carros deixaram de ser luxo

Na década de 1960, o carro era considerado um artigo de luxo. Nessa época, o Rei Roberto Carlos desfilava com o seu Cadillac vermelho, fazendo a alegria dos fãs. Ter um carro era um sinal de poder, ostentação e estilo.

Atualmente, o carro se tornou um equipamento banal para uso rotineiro. Como consequência, as cidades se tornaram um caos. A lentidão média em São Paulo aumentou 4,8% em relação a 2016, segundo relatório da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).

Foto tirada na terça (6) mostra milhares de veículos presos em um engarrafamento perto de um ponto de pedágio em Pequim, na China, durante a volta para casa após um feriado nacional (Foto: China Daily/Reuters)
Engarrafamento histórico em Pequim, na China, com mais de 2 mil quilômetros de extensão. (Foto: China Daily/Reuters)

Velocidade reduzida para carros

Em 2014, Barcelona, na Espanha, sofria com altos níveis de poluição, provocado principalmente pelas emissões de gases do efeito estufa. Naquele ano, foram registradas cerca de 3,5 mil mortes prematuras por ano.

Para combater esse problema, Barcelona adotou um modelo chamado Superbloco, que restringe a velocidade de carros no centro da cidade, enquanto a circulação carregada ocorre nas avenidas contíguas.

Barcelona’s Eixample neighborhood
Os Superblocos limitam os espaços em que o carro pode circular e devolve vida para o centro de Barcelona. (Foto: Shutterstock)

Os superblocos foram idealizados por Salvador Rueda, diretor da Agencia D’ecologia Urbana De Barcelona. Em princípio, esse modelo transforma vias destinadas apenas para carros em espaços de multiuso para pedestres e outros modais.

“Nós precisamos preparar as nossas cidades imediatamente”, diz Rueda, “porque eu acho que depois de cinco, seis décadas, o mundo será um desastre. O movimento de pessoas será enorme”, argumentou o especialista em entrevista para a Vox.

Para os próximos cinco anos, a estratégia é tornar o centro de Barcelona em uma área exclusiva para pedestres, com ruas pedonais – forma de pavimentação apenas para pedestres.

Carro vs Bike

Outra solução, adotada por cidades como Olso, na Noruega, e Copenhague, na Dinamarca, é a micro-mobilidade, onde os pequenos deslocamentos de um bairro a outro são feitos por bicicletas ou patinetes elétricos.

No Brasil, a cidade de Afuá, localizada no estado do Pará, é conhecida como a cidade das bicicletas. O município foi construído sobre as águas, em plataformas de madeira, que exigem a passagem de bicicletas.

Afuá é a única cidade do país em que automóveis e motos são proibidos por lei. Com quase 40 mil habitantes, Afuá conta com bicitáxi, bicilância – ambulância de bicicleta – e até ronda policial de bicicleta.

Afuá foi erguido sobre palafitas , onde as bicicletas dominam. (Foto: Jota Barbosa, fotógrafo local).

Carro para quem?

Além de Afuá, outras cidades brasileiras também estão experimentando outras relações com os carros. A Prefeitura de São Paulo, por exemplo, anunciou em fevereiro a construção do Parque Minhocão no lugar do Elevado Presidente João Goulart.

O Minhocão aberto aos domingos para pedestres. (Foto: Joel Nogueira/Fotoarena/Divulgação)

Esse movimento de reapropriar o espaço público, no qual vias historicamente reservadas para carros são revitalizadas, promove uma vitalidade, energia e coletividade para a vida urbana.

“O urbano é, portanto, forma pura; um lugar de encontro, de reunião, de simultaneidade. Esta forma não tem conteúdo específico, mas é um centro de atração e de vida”

Henri Lefebvre, filósofo e sociólogo francês, O Direito à Cidade (1968)

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