Há muitos anos vimos o futebol brasileiro perder-se cada vez mais no cenário nacional e internacional. A falta de técnicos com ideias de jogo, originalidade e resultados contribui para tal falta de direção. A falta de personalidade de alguns cartolas também deve ser levada em consideração.
Dos treinadores mais experientes aos da nova geração, o futebol nacional varia cada vez mais de acordo com o momento. Nos últimos anos, por exemplo, os clubes brasileiros renderam-se a tendências das mais variadas.
Treinadores e modismo no Brasil
Após o título brasileiro do Corinthians em 2017, com Fábio Carille de treinador, em 2018, a moda era promover novos treinadores, como Barbieri no Flamengo, Larghi no Atlético Mineiro, e até mesmo Fernando Diniz e Tiago Nunes no Athlético Paranaense.
Mas, após a reinvenção do Palmeiras sob o comando de Felipão, coroando o verdão com o título Brasileiro de 2018, diversas equipes começaram a optar por treinadores experientes. Abel Braga no Flamengo, Oswaldo de Oliveira no Galo, Vanderlei Luxemburgo no Vasco, e Cuca no São Paulo. A moda de dar chance aos novatos não resistiu.
Vem 2019 e o Flamengo traz o português Jorge Jesus, após um início de ano com muitos investimentos no elenco e sem resultados no campo. O Mister aproveita a parada para a Copa América e consegue rapidamente mudar as coisas na Gávea. Verdade que mais contratações de peso foram feitas e o elenco rubro-negro foi fortalecido em todas as posições.
Jorge Jesus, com um elenco farto e recheado, ganhou tudo no comando do poderoso Mengão, em 2019. Há de se ressaltar também o brilhante trabalho de Jorge Sampaoli no Santos, que levou o Peixe ao incrível vice-campeonato no Brasileirão.
Em 2020, a vocação não podia ser outra: o professor estrangeiro, afinal, o que vem de fora é sempre melhor. E mais uma moda está criada.
Os demais clubes não deixariam esse estilo se limitar ao Mister. O Atlético Mineiro sob o comando Rafael Dudamel (poucos meses depois substituído por Jorge Sampaoli), Jesualdo Ferreira no Santos, Eduardo Coudet no Internacional, Domènec Torrent dando sequência ao trabalho do português no Flamengo… E agora Ricardo Sá Pinto. Dudamel e Jesualdo não aguentaram nem sequer 20 jogos no Brasil.
Esses treinadores têm seus trabalhos e filosofias questionados por algum dirigente? Ou são apenas contratados por suas respectivas nacionalidades?
É claro que Jorge Sampaoli, Eduardo Coudet e Domènec Torrent brigam no pelotão de cima do Brasileirão, enquanto os outros brigam contra o nosso futebol. Infelizmente, nossa realidade se baseia em salários atrasados, jogadores sendo vendidos para estancar dívidas e um futebol extremamente “resultadista”.
Futebol brasileiro perdeu sua essência?
Há algum tempo, o futebol brasileiro tenta seguir tendências e, com isso, perde sua própria essência. A seleção brasileira, que positivamente destoa na América do Sul, não consegue os mesmos resultados contra os europeus.
O velho ditado de que “a camisa pesa”, cada vez mais vem sendo desmentido dentro de campo. O São Paulo, um dos times com mais títulos internacionais na América do Sul, por exemplo, vem mostrando que esse mito não existe. O tricolor acumula eliminações vexatórias para Cólon e Defensa y Justicia, ambos argentinos e em Copas Sul-Americanas, além de cair na Pré-Libertadores 2019 para o Talleres/AR e a queda na fase de grupos da Libertadores 2020.
O Santos, tricampeão da Libertadores, não se impõe nas competições desde seu último título, em 2011, carregado por Neymar e Ganso. As eliminações para Independiente, na Libertadores 2018, e River Plate-URU, pela Sul-Americana 2019, mostraram ao peixe que o clube perdeu sua força nos bastidores e dentro de campo.
É dessa forma que o futebol no Brasil se sustenta nos últimos anos, buscando a evolução no sucesso do outro, criando modismos que pouco ou nada duram, mas nunca pelo trabalho próprio.
Nos tempos atuais, poucos treinadores emergiram no mercado e levaram seus clubes a ganharem destaque em campo. O Fortaleza de Rogério Ceni, um dos raros exemplos, acumula quatro títulos em três temporadas. Sampaoli, seu selo argentino, mostra-se impecável no nosso futebol pela sua intensidade, personalidade e, por que não, sua sensibilidade com o torcedor, como mostrou com os meninos no CT Rei Pelé.
De forma urgente, o futebol brasileiro implora por ajuda.
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Por Guilherme Napolis – Fala! Cásper