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Crítica: ‘What If…?’ e se não existisse a fórmula Marvel?

E se fosse possível mudar qualquer história da Marvel, qual você mudaria? Neste ano, o Universo Cinematográfico da Marvel (UCM) decidiu apostar pela primeira vez na animação e lançou a série What If…? (O que aconteceria se…?, em tradução livre). A 1ª temporada contou com 9 episódios que estrearam toda quarta-feira no Disney+.

A proposta da antologia animada foi apresentar ao espectador o Multiverso, que foi instituído oficialmente após o final de Loki. Por isso, em cada episódio da série, você acompanha os personagens do mundo Marvel em situações que eles nunca experimentaram. São realidades alternativas que acontecem em linhas do tempo paralelas. Dessa forma, cada capítulo leva o público a embarcar histórias inéditas. “E se os vingadores fossem zumbis?”, “E se o T’Challa se tornasse o Senhor das estrelas?” são alguns títulos que fizeram parte da animação.

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Ultron enfrenta Uatu, o Vigia, no episódio 8. | Foto: Montagem/Reprodução.

What if…?: Leia a crítica da série da Marvel no Disney+

A Marvel iniciou a Fase 4 com um grande desafio: manter a audiência após o sucesso da Saga do Infinito. Sendo assim, depois de um ano sem estreias por causa da pandemia, em janeiro de 2021, o UCM lançou WandaVision no streaming. A série se tornou uma das mais assistidas do ano e levou três estatuetas no Emmy 2021. Logo em seguida, duas novas produções chegaram: Falcão e o Soldado Invernal e Loki. De igual forma, o público adorou as produções, porém a crítica não trouxe boas avaliações.

E assim veio What If…?, a quarta série da Marvel no Disney+. A animação carregou a missão de explorar o Multiverso, que era tão aguardado pelos fãs. A roteirista A.C. Bradley recebeu o aval de Kevin Feige para reinventar, em nove capítulos, as histórias já conhecidas pelos amantes das histórias de Stan Lee. E a partir daí surge um dos maiores problemas da animação.

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Viúva Negra e Peggy Carter protagonizam dois episódios da animação. | Foto: Montagem/Reprodução.

Alguns episódios gastam muito tempo mostrando as mesmas cenas dos filmes da Marvel desde 2008 e não apresentam novas realidades, como era a proposta inicial. Por exemplo, o piloto, que mostra a Peggy Carter como a Capitã América, perde a oportunidade de desenvolver a personagem para exibir cenas semelhantes a Capitão América: O primeiro vingador (2011), porém com uma nova protagonista.

Dessa forma, a animação segue os mesmos moldes das produções da última década. A tão conhecida “Fórmula Marvel” marca uma forte presença em What If…?. Piadas em momentos desnecessários, um vilão com um plano maligno que é facilmente vencido, batalhas com finais previsíveis, entre outros elementos.

Sim, é indiscutível o sucesso que os padrões de Kevin Feige trouxeram. No entanto, por ser uma série animada, What If…? poderia colocar novos tons em suas narrativas. A antologia poderia ter feito o que Star Wars: Visions fez. Animação reuniu antologias da saga de George Lucas, porém contadas sob a perspectiva de animadores japoneses. Os autores mostraram realidades ainda não vistas na franquia e produziram narrativas inéditas colocando suas assinaturas de obras japonesas.

Ultron reúne as Joias do Infinito. | Foto: Reprodução/Twitter.

Por que o episódio 4 foi tão elogiado?

O episódio 4 (E se… o Doutor Estranho perdesse o coração em vez das mãos?) da animação foi uma surpresa. Na trama, o Doutor Estranho perde sua amada e decide alterar a realidade para trazê-la de volta. Porém, a morte da jovem é um ponto absoluto no tempo e não pode ser revertido. Sendo assim, ele precisa lidar com o luto e com as consequências de suas ações.

Além da estética vislumbrante, esse capítulo explora o drama vivido pelo personagem e não se perde em um humor exacerbado. Você é convidado a mergulhar na dor que Stephen Strange está sentindo. O enredo recebeu excelentes avaliações do público justamente por ser tão diferente de tudo o que a Marvel já produziu. Não é à toa que o episódio foi comparado com o capítulo 8 de WandaVision, que mostrou como o sofrimento da Wanda fez com que ela criasse o Hex.

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No episódio 4, o Doutor Estranho enfrenta sua outra versão. | Foto: Montagem/Reprodução.

Em outras palavras, quando a “fórmula” é desfeita, resultado final é espetacular. Além disso, nesse episódio, o que o espectador já viu no longa Doutor Estranho (2016), quase não é mostrado. Ou seja, a ideia é realmente mostrar uma realidade alternativa. Mas em outros episódios, What If…? perde muito tempo mostrando o que todos já viram e disponibiliza poucos minutos para que o telespectador mergulhe na reinvenção.

Apesar das falhas na narrativa, não há como deixar ressaltar a incrível estética da série. A escolha pela animação Cel-Shading, que usa o 3D como uma simulação do 2D, trouxe fluidez para os seus personagens. Com isso, as cenas de ação surpreendem e potencializam os poderes dos protagonistas. As sequências de luta do episódio 8 e 9, em que o Ultron é o antagonista, são memoráveis e podem ser consideradas uma das melhores cenas já feitas pelo estúdio. Além disso, a fotografia realça a beleza dos cenários em que a série atravessa e traz uma verdadeira sensação de uma viagem transcendental.

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Uatu, o Vigia, narra cada história na série sem interferir nos acontecimentos. | Foto: Montagem/Reprodução.

Eis a questão: “O que aconteceria se…?”

Assim, a Marvel falhou por não inovar com tanta ousadia. A liberdade criativa que a temática central da trama oferece poderia ser mais usada na construção dos episódios. Sim. Os eventos foram mudados. T’Challa não era mais o Pantera Negra, e sim Kilmonger. O Ultron vence a batalha e assume o corpo do Visão. Os Vingadores morrem e Nick Fury é o grande herói. Foram boas mudanças que te fazem pensar. Porém, o pouco tempo de tela e as amarras da “fórmula Marvel” não permitem que o espectador desfrute de uma outra linha do tempo no Multiverso.

Em entrevista ao Entertainment Weekly, A.C. Bradley revelou que os episódios da segunda temporada de What If…? já estão escritos e que em breve a produção começará. Certamente, a Marvel continuará produzindo obras que serão amadas pela público que que foi conquistado desde 2008. Mas até quando a fórmula irá resistir? Será que não é o momento de aproveitar o Multiverso para além de trazer novos personagens, criar histórias mais ousadas? Aguardo pelos próximos capítulos.

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Por Lucas Kelly – Redação Fala!

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