Um dos principais segmentos do mercado de moda, sua história e suas contribuições para o desenvolvimento do setor
A origem da alta moda, pelo menos, da sua configuração atual, foi a França, no século XVIII, com o trabalho do estilista inglês Charles Frederick Worth. Assim, nessa época, vários dos conceitos e características hoje associadas a esse segmento foram enraizados e difundidos no imaginário das pessoas sobre o que é e o que representa essa arte. Nesse período, as roupas eram confeccionadas sob encomenda e os modelos eram exclusivos desses clientes, tal como acontece com as peças desenvolvidas pelas marcas de Alta Costura atualmente.
As roupas e as referências eram apresentadas em manequins durante os eventos, em uma configuração semelhante a das lojas de prêt-à-porter (em português, pronto para vestir) contemporâneas. A partir disso, eram escolhidas e produzidas para o comprador. Até que o protótipo do que viriam a ser os desfiles ou as semanas de moda surgiu e alterou a forma como esse setor funcionava. Com o advento das apresentações sazonais, da exibição das roupas em corpos reais e dos eventos em torno desses acontecimentos.
Essas características permanecem até os dias atuais, embora tenham sofrido algumas alterações. Hoje, os calendários são bem demarcados e separados de acordo com as estações do ano, bem como pelo segmento das roupas que serão apresentadas. Desse modo, representa um dos principais avanços da moda advindos do segmento de luxo para a estruturação deste setor.
Outras contribuições do mercado de luxo na moda
Ainda, outros aspectos e progressos do setor fashion foram desenvolvidos no ramo da alta moda e se difundiram nas demais áreas, tornando-se particularidades atribuídas a todo o ramo. Assim, aspectos como a utilização de determinados materiais ou equipamentos propagaram novas maneiras de elaboração das peças ou formas mais sustentáveis de criá-las, como a utilização do nylon pela Prada e a criação e aperfeiçoamento de tecidos com menor impacto ambiental pela Stella McCartney, já que a estilista não utiliza a pele animal em suas criações e opta por materiais que agridam menos a natureza.
Embora as maisons (em português, casas) de alta costura tenham possibilitado diversas inovações tecnológicas, sua principal “criação” foi o desenvolvimento na silhueta das peças femininas. Reduziram a quantidade de tecidos, o comprimento e possibilitaram uma mobilidade fluida e leve para essas roupas. Aperfeiçoamento progressivo e gradual, com oscilações e diferenças entre as décadas, uma vez que, por meio delas, os looks se tornam característicos e transformam-se em marcos para o estudo da história da moda.
A assimilação das tendências, nesse período, acontecia através do conceito do “trickle down”, ou seja, do topo para a base. Assim, as camadas mais populares “copiavam” as peças e os estilos em destaque na classe alta. Criando vestimentas características de cada período, já que eram bem semelhantes.
No entanto, atualmente, essa apropriação ocorre de uma maneira diferente, por meio do “bubble up”. Nele, as tendências possuem um caráter “horizontal”, ou seja, não são determinadas pela classe social dos indivíduos, mas pelos comportamentos e estéticas divulgados por eles, oriundos, principalmente, de suas atitudes nas ruas e nas redes sociais. Esses são interpretados e difundidos pelas marcas. Além de retornarem para um público maior do que o inicial.
Assim, diversas estruturas do setor se modificaram, desde o emprego de novos materiais até a utilização de outras formas de divulgação. Criando, incorporando, ressignificando tecidos e técnicas ou, até mesmo, produtos. Concedendo a eles outras interpretações e destaques, como coleções com estéticas esportivas nas marcas de luxos tradicionais, que antes não produziam roupas seguindo essa aparência. Entre esses modelos estão os tênis e os artigos em nylon.
Além disso, as marcas tornaram-se mais presentes nas mídias sociais e estabeleceram estratégias para a divulgação de seus produtos, associando seus aspectos clássicos e tradicionais aos novos atributos de propaganda e divulgação. Possuindo diversas frentes de disseminação de seus artigos, como influenciadores e a mídia especializada. Desse modo, esse setor contribuiu para a renovação e a estruturação de todo o segmento, criando desejos e história, com aspectos que vão além das particularidades das roupas e das demais peças desenvolvidas por essas marcas.
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Por Lucas Couto Eugênio – Fala! UFMG