No meio da maior pandemia do século XXI, o Brasil vive também uma crise política. Mas o que as brigas públicas entre o presidente e governadores podem significar para o atual governo?
O Brasil vive, hoje, uma briga política em meio à pandemia do novo coronavírus. De um lado, governadores e prefeitos de todo país, liderados, principalmente, pelos governadores Dória (PSDB/SP) e Wilson Witzel (PSL/SP), que incentivam o isolamento social e adotam medidas de contenção à doença e ao colapso do sistema de saúde. Do outro lado, o presidente Jair Bolsonaro, ainda sem partido, que segue uma briga à favor da economia, menosprezando a doença (afirmando, inclusive, que não passava de uma “gripezinha”) e apresentando a cloroquina como a cura milagrosa para a Covid-19.
Você pode ter se esquecido, mas Dória e Witzel eram apoiadores de Bolsonaro e, inclusive, foram eleitos em grande parte por causa de sua aliança com o presidente no período das eleições de 2018. Assim como políticos apoiadores de Jair no passado, nas redes sociais, percebe-se que grande parte dos bolsonaristas têm se afastado cada vez mais da figura do presidente, com duras críticas ao modo que ele vem enfrentando a pandemia.
De acordo com uma pesquisa de opinião recente realizada pela XP investimentos/Isepe, a reprovação do presidente chegou a 50%, principalmente pela forma que ele menospreza a pandemia: 76% da população aprova as medidas de isolamento social.
Bolsonaro está cada vez mais isolado em seu governo após essa briga pública com governadores e prefeitos. No início da crise, até mesmo Mourão, o vice-presidente, deu uma declaração pública a favor do isolamento.
Os governadores tomaram a frente do enfrentamento à crise, enquanto Bolsonaro resolveu seguir o presidente Trump que, na época, também não levava a pandemia muito a sério. Mas ao contrário do presidente norte-americano, que pouco tempo depois voltou atrás e encarou a pandemia com a devida seriedade, Bolsonaro segue tratando a Covid-19 como uma gripezinha e colocando a economia à frente da saúde.
O que essa briga política pode significar para o governo atual?
Segundo um levantamento feito pelo Congresso em Foco, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já recebeu 26 pedidos de impeachment contra Bolsonaro, vindos de deputados de partidos como PSDB, PSC, PDT e PV. Diante do isolamento de Bolsonaro dos governadores e prefeitos, os partidos desses políticos podem acabar se tornando a grande oposição de Bolsonaro em um eventual processo de impeachment.
Além disso, a queda constante da popularidade do governo, somada à ascensão de possíveis candidatos à presidência em 2022, como o governador Dória e o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, que também rompeu publicamente com o presidente e o acusou de tentar favorecer interesses pessoais na Polícia Federal, mostram como Bolsonaro tem perdido força, tanto no Congresso, como na corrida pela reeleição.
Cada vez mais isolado com os tantos militares de seu governo, Bolsonaro tem recebido críticas até mesmo deste lado pela forma que menospreza a crise sanitária que vivemos, o que demonstra que até mesmo dentro de seus maiores aliados, há uma divergência.
Levando em conta o histórico do presidente de sempre descartar todos que discordam de suas opiniões, parece cada vez mais claro que ele vai permanecer nessa briga contra os governadores e líderes municipais, e continuar se isolando cada vez mais no Palácio apenas com aqueles que concordam com seu governo.
Mas se engana quem pensa que ele não percebe que isso pode agravar ainda mais sua popularidade e antecipar um processo de impeachment. Bolsonaro, que fez campanha atacando a “velha política”, que ele tanto abomina, tem usado dessas mesmas técnicas para tentar se salvar, caso Rodrigo Maia decida dar sequência aos pedidos de impedimento do presidente. Bolsonaro frequentemente tem feito reuniões com partidos do chamado Centrão, negociando cargos em troca de apoio, exatamente como fez líderes como Fernando Collor e Dilma, a velha política de interesses que ele tanto critica.
Fica claro que a pandemia e a falta de seriedade do presidente com a doença evidenciaram uma ruptura que, provavelmente, aconteceria de uma forma ou de outra quando a eleição de 2022 entrasse em foco. Esse isolamento do presidente daqueles que tanto o apoiaram no período eleitoral demonstra uma certa ruptura no governo e a perda crescente de popularidade de Bolsonaro, tanto entre líderes políticos, como na própria população.
Ainda é cedo pra dizer se Rodrigo Maia vai aceitar os processos de impeachment, mas o que fica cada vez mais claro é que o atual governo se isola cada vez mais e perde força de apoiadores, de possíveis alianças e da própria população brasileira, o que pode acarretar em um possível fim da era Bolsonarista no poder.
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Por Rafaela Souza – Fala! UFMG