Promovido pela Editora e Gráfica Heliópolis, o empenho pretende fazer a inclusão de livros periféricos dentro da literatura brasileira
Foi olhando para uma realidade excludente que o coordenador da Editora e Gráfica Heliópolis, Paulo César, inaugurou o projeto que pretende dar acessibilidade aos escritores da comunidade, mediante a publicação de livros dos autores da maior favela da cidade de São Paulo.
A iniciativa veio para proporcionar o empoderamento das pessoas e da localidade, por meio da realização do sonho de muitos autores, como é o caso do professor e escritor Fagner Araújo, que leciona na Escola Técnica de Heliópolis e teve seu primeiro livro publicado pelo projeto, “Ter meu primeiro livro impresso em mãos foi a realização de um sonho e um imenso aprendizado”, afirma o escritor.
O próprio coordenador da iniciativa fundou a editora ao analisar a sua realidade, e por saber que ela não era exclusividade. Paulo César também queria escrever e publicar livros, mas descobriu que, sendo morador de periferia, enfrentaria muitas adversidades, “Quem vai querer ler um autor favelado? É preconceito ou, pelo menos, é uma visão que, de certa forma, nos prejudica diretamente”, afirmou.
Projeto publica livros de autores de Heliópolis
No final ano de 2018, através do financiamento fornecido pelo Itaú Cultural, a colaboração da empresa fabricante de papéis ecológicos Ecoquality e do Centro Educacional Unificado (CEU) Heliópolis, foi possível colocar o desejo em prática.
Ao longo do ano seguinte, o projeto publicou 56 obras de autores periféricos, contudo, a inclusão proporcionada pela ideia pretende ir além do benefício à localidade e olhar da mesma forma para a realidade de outras minorias. Segundo PC, a editora já contemplou escritores negros e negras, travestis, idosos e um morador de rua.
Por meio da iniciativa, autores que haviam começado a escrever, mas desistiram por conhecerem as dificuldades do acesso às editoras, puderam recomeçar e publicar. Alguns sonhavam tornar-se autores e puderam realizar este desejo, outros tinham obras prontas paradas que puderam ser divulgadas e valorizadas.
A proposta veio para promover o empoderamento da comunidade como um todo. Fazer com que as pessoas se sintam donas de alguma coisa e que têm um espaço de fala, além de mudar a visão da comunidade de Heliópolis para um Heliópolis literário.
esclarece PC.
Ao ser perguntado se a presença da editora na comunidade poderia fomentar o número de novos escritores em Heliópolis, PC afirma que já houve esse aumento e que, mesmo durante a pandemia do novo coronavírus, a procura foi semelhante ao ano de 2019.
Devido às questões do isolamento social, o projeto fez uma pausa, mas o coordenador afirma que a pretensão é expandir, conforme a possibilidade, “Seria interessante ter uma Editora e Gráfica Heliópolis em outras localidades, em outras quebradas, para fomento da leitura, da escrita e da literatura. A ideia é expandir, hoje não temos perna para isso, mas seria importante.”, esclarece.
Para ser contemplado com a publicação de livros pelo projeto, pessoas que morem, lecionem, trabalhem, estudem ou tenham alguma relação com a comunidade, podem procurar a editora que está localizada no CEU Heliópolis e conversar diretamente com a coordenação.
A comunidade, assim como outras distribuídas em todo o país, abriga centenas, ou até milhares, de prodígios nas mais diversas áreas das artes, como teatro e literatura, entre outras. No entanto, muitos desses talentos ficam no anonimato devido à falta de acesso e oportunidade.
Iniciativas como a de Paulo César podem alterar a realidade excludente da literatura elitista brasileira, mostrando que muitos escritores podem surgir por meio de ações que busquem driblar as desigualdades, tornando ramos, antes segregados, mais igualitários.
_______________________________
Por Bianca Rafaela da Silva – Fala! Anhembi