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Perfil: Luiz Fernando, o guia turístico do futuro

“Você realizar uma trilha, chegar ao platô, sentar, respirar e olhar a cidade lá de cima é muito magnífico.” Para Luiz Fernando (32), essa é a sensação de subir a Pedra da Gávea (RJ). Carioca da gema, ele não esconde a sua paixão pela cidade. “É daí que surge que o Rio de Janeiro é uma das cidades mais belas do mundo, geograficamente”. A experiência o encantou tanto, que ele decidiu compartilhá-la com turistas. “As pessoas vêm aqui no Rio e querem ir ao Cristo, ao Pão de Açúcar. Mas elas precisam conhecer esses ambientes naturais”.

Luiz Fernando, guiando para o futuro

Em 2017, com o intuito de divulgar roteiros ecológicos, Fernando, como também é conhecido, deu início à Rio Radical, empresa de ecoturismo e turismo de aventura. Mas não demorou para que a beleza natural encontrada por ele se contrastasse com a negligência humana, escancarada principalmente pelos lixos deixados nas trilhas. 

Para ele, uma trilha suja é sinônimo de desleixo com o seu ambiente de trabalho. “É como você me convidar para visitar o seu escritório e ter uma lata de cerveja no chão. Eu acho que fica muito feio. Qual é a visão que vou ter de você? Como você consegue frequentar aquele lugar todo o dia, olhar aquela sujeira e não se incomodar com aquilo?”. De forma parecida, ele também se sentiu incomodado durante o período em que morou na Ilha da Gigoia. “Eu via o lixo passar na porta da minha casa! Um dia a maré subia e o mar estava azul… lindo! E no outro dia a maré baixava e passava lixo. Eu pensava: meu Deus! Porque esse mar não é azul sempre? Porque esse lixo?”.

Com o espírito inquieto e muita persistência, ele então busca viabilizar um novo projeto: o Limpando Trilhas. “O início de tudo é difícil, nada é simples de começar”, Fernando ressalta. A iniciativa começou com a ação de oito pessoas na Cachoeira de Xerém. O objetivo era minimizar o impacto das visitações turísticas no local e promover a conscientização sobre o descarte irregular de resíduos sólidos. O resultado? Em duas horas, foram recolhidas 100 sacolas de lixo. Segundo o fundador do projeto, com a propagação das ações nas redes sociais, outras pessoas sentiram interesse em participar. Para ele, foi nesse momento que “as coisas começaram a acontecer com mais fluidez”.

Luiz Fernando durante a primeira ação do Limpando Trilhas.
Luiz Fernando durante a primeira ação do Limpando Trilhas. | Foto: Reprodução/Instagram.

Luiz Fernando destaca que o principal para se fazer uma ação é o local e os voluntários. “Nenhum de nós é tão bom quanto todos juntos”, ele complementa. Hoje, cada ação do Limpando Trilhas conta, em média, com 50 voluntários. Junto ao crescimento do time de colaboradores, houve também uma expansão do projeto. Atualmente, os principais locais onde a equipe atua são a Pedra da Tartaruga e a Cachoeira do Mendanha, em Campo Grande, além de estarem presentes também em diversas praias. Foi o caso da ação do dia 6 de setembro do ano passado feita no complexo lagunar da Barra da Tijuca, que contou com o  maior número de voluntários já registrado pelo projeto. “O aparato e a estrutura que nós conseguimos disponibilizar animou para que os voluntários viessem participar”, comenta o idealizador da iniciativa. 

De acordo com Fernando, o Limpando Trilhas faz com que ele repare mais frequentemente nas pessoas que jogam lixo. “Eu vejo isso constantemente nas ruas, nas trilhas. As pessoas descartam a todo tempo”, afirma. Para ele, o problema todo está na educação. “Hoje, falar para um cara de quarenta anos que ele não pode jogar uma lata de cerveja na trilha talvez entre em um ouvido e saia pelo outro, porque ele fez aquilo a vida inteira. Não vai ser você, não vai ser uma ação que vai mudar um hábito que ele já carregou para a vida dele. Ele não está se importando com o meio ambiente”. Por isso, Fernando deposita a sua esperança no futuro.

Um dos seus desejos é que o projeto alcance mais crianças, mais escolas. “Acredito que um trabalho educacional talvez não irá surtir um efeito agora. Mas quem sabe nas próximas gerações”. Portanto, é pensando nas próximas gerações que devemos preservar o meio ambiente. “Não é um privilégio, não é um querer, é uma obrigação nossa”, ele conclui.

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Por Ruth Scheffler – Fala! UFRJ

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