A onda de direita, nome dado ao sucesso que partidos da ideologia conseguiram nas últimas eleições, levou Jair Bolsonaro ao Planalto e 52 deputados de seu até então partido, PSL (Partido Social Liberal), à Câmara. E o cenário foi muito maior: agora, opositores políticos do presidente, o governador de São Paulo, João Doria, e o do Rio de Janeiro, hoje afastado, Wilson Witzel, também se beneficiaram de tal fenômeno. Desde as assembleias legislativas estaduais até o Senado, todos foram abalados. E a grande questão das eleições de 2020 é: candidatos às prefeituras ainda conseguirão surfar nessa onda?
Após o primeiro debate em TV aberta, que ocorreu na Band na quinta-feira, dia 1, ficou claro que o fator Jair Messias Bolsonaro vai ser peça-chave em algumas praças eleitorais, como São Paulo e Rio de Janeiro. Na capital carioca, o atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) tenta cada vez mais mostrar sua aproximação com o presidente e seus ideais. As tentativas vão de encontro com membros do clã e a reprodução de falas que marcaram a corrida eleitoral de 2018, como a sugestão da existência do Kit Gay por parte dos programas educacionais dos partidos de esquerda.
Por ser bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Crivella pode ter sucesso com uma boa parte do eleitorado que elegeu o presidente. A ala evangélica tem forte influência no governo. O atual ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, foi indicação de pastores de algumas das mais importantes igrejas do país. Intitulado pelo presidente como “terrivelmente evangélico“, André recebeu a “bênção” e trabalha com a aprovação máxima do gabinete do Palácio do Planalto, inclusive foi nome ventilado para uma das indicações ao STF ( Supremo Tribunal Federal) que Bolsonaro terá que fazer durante seu mandato.
Já na cidade mais populosa do Brasil, a corrida eleitoral terá o deputado federal Celso Russomano, também do Republicanos, como candidato a angariar os reflexos da forte ascensão da direita em 2018, e que agora terá sua força testada. Durante o debate na Band, o parlamentar fez questão de demonstrar seu alinhamento ao bolsonarismo. Segundo Celso, o presidente segurou em seu braço e pediu para ele “cuidar de São Paulo”.
Mesmo com essa tentativa de ligação com o governo federal, Russomano já afirmou que não se considera de direita e que nunca discutiu ideologia. Mas sua campanha eleitoral desmente a declaração. O candidato tenta a eleição pelo Republicanos, o mesmo partido de Crivella. E não é por acaso. O presidente da bandeira é Marcos Pereira, que também é bispo da Igreja Universal do Reino de Deus. Desde o primeiro momento do governo Bolsonaro, os Republicanistas demonstraram forte alinhamento às pautas do presidente.
O presidente, por sua vez, já anunciou que não vai atuar no 1º turno das eleições municipais, algo que pode esfriar esse movimento de alguns candidatos. Já o resto do clã, não pretende seguir os passos do pai. Carlos Bolsonaro, o 02, por exemplo, concorre à Câmara dos Vereadores na cidade do Rio de Janeiro e já “flertou” com uma possível parceria com Marcelo Crivella. Nada concreto.
Mais do que demonstrar se Jair Bolsonaro ainda tem a mesma força de 2018, as eleições deste ano darão um norte do que podemos esperar para a corrida eleitoral em 2022. De acordo com as últimas pesquisas, o presidente sai na frente. Em setembro, seu mandato chegou a 40% de aprovação, resultado direto do auxílio emergencial, que beneficiou cerca de 67 milhões de pessoas durante a pandemia do novo coronavírus.
Fato é que apenas nos dias 15 e 29 de novembro poderemos saber se ainda é possível surfar em onda de 2 anos atrás. As urnas, mais uma vez, esclarecerão dúvidas sobre o passado, o agora e o futuro.
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Por Lucas Soares – Fala! UFRJ