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Opinião – Invisibilidade de mulheres com deficiência: elas também existem

A invisibilidade social e o dia a dia das mulheres com deficiência

Ser uma mulher no Brasil é saber que terá de enfrentar diversos desafios como o assédio, estupro e até feminicídio.  Porém, quando se trata em ser uma mulher com deficiência, piora ainda mais. Além de sofrer o machismo, ela também encara o capacitismo e a invisibilidade social por sua deficiência, cotidianamente.

O capacitismo nada mais é do que o preconceito das pessoas com deficiência, é a dúvida e/ou anulação da capacidade dessas pessoas. Essa pauta ainda é muito pouco discutida e ouvida nas tomadas de decisões, mas, felizmente, vem ganhando espaço nesses últimos anos.

De acordo aos dados da Secretaria Especial das Pessoas com Deficiência de São Paulo, (SEDPCD), em 2020, habitava 56,86% das mulheres com deficiência. Porém, segundo a pesquisa do IBGE de 2014, as mulheres com deficiência têm maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho do que os homens, a participação das pessoas sem deficiência, economicamente ativa é de 81,8% dos homens e 61,1% das mulheres, mas quando se trata das mulheres com deficiência, cai de 56,4% dos homens e 43,1% entre as mulheres.

Invisibilidade de mulheres com deficiência

Conforme a psicóloga e ex-integrante do Coletivo Feminista Hellen Keller, chamada Laureane Marilia Lima da Costa, essa invisibilidade se dá a partir da encruzilhada do sexismo e do capacitismo. “Nossa cultura sexista, espera que uma mulher cuide do filho e do marido, além desse papel, a mulher é exigida em atrair homens heterossexuais.”, comentou a psicóloga. 

Só que, a cultura capacitista, partindo da visão generalizada que as pessoas com deficiência não são capazes, as mulheres com deficiência não estão aptas de fazer os papeis que se espera de uma mulher, sobretudo, quando precisam de cuidado ao longo prazo.

Acrescentou.
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Laureane Marilia Lima da Costa. | Foto: Reprodução.

Além disso, ainda falta representatividade, então, pouco se vê uma pessoa sem braço, uma perna amputada, uma cadeirante na mídia, na Internet e, até mesmo, nas revistas. Só se for apenas para chamá-las de inspiração, anjo, guerreira, entre muitas outras coisas apenas por existir e fazer as coisas normais do cotidiano.

“Eu lembro que quando eu era menor, eu ficava me perguntando: “Será que só eu tenho deficiência?”. Porque eu não via pessoas com deficiência na mídia, na Internet…”, disse a estudante de Letras da UnB (Universidade de Brasília), Clara Marinho, 22 anos. Ela também contou que os únicos lugares que encontrava essas pessoas, além do seu núcleo, de família, amigos era quando alguém ia entrevistar alguma pessoa com deficiência, mas os discursos eram sempre os mesmos: “Ah que inspiração!”, “Ah que guerreiro!”, “Que anjo!”, e ela indagava se nunca iria ter alguém a representasse de fato.

Clara Marinho, ou mais conhecida com Clarinha Mar nas redes sociais, começou a gravar vídeos dublando no TikTok para fugir da ansiedade e do tédio trazidos pela pandemia. E hoje conta com mais de 430.000 seguidores na Internet. Ela mencionou que quando começou a gravar o primeiro vídeo sem dublagem, perguntaram-na: “Por que você fala desse jeito?”, ”Você é doente?”, e explicou que não é doente, e que doença é diferente de deficiência. E ainda falou que recebeu muitas mensagens a partir daí. “Quando eu ouço as pessoas dizendo que eu estou representando-nas, é uma felicidade imensa! Eu me sinto honrada de verdade”, esclareceu a palestrante.

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Clara Marinho. | Foto: Reprodução.

Outrossim, segundo a base de dados da Secretaria Especial das Pessoas com Deficiência, entre janeiro de 2019 e janeiro de 2020, a maioria dos boletins de ocorrência de violência contra a mulher foi de mulheres com deficiência.  Estima-se que foram realizados dentre 0,74% de relatos.

Segundo a ex-integrante Laureane, é necessário para acolhê-las garantir acessibilidade em todos os acessos de proteção que já existem assim como: na delegacia, é preciso que tenha intérprete de libras, equipamentos de leitor de tela para a mulher que tenha deficiência visual possam preencher algum documento de forma autônoma, e o mais importante, é preciso de profissionais treinados que entendam o capacitismo e que elas sejam levadas a sério.

A sociedade percebe a mulher com deficiência como uma mulher frágil, eu vejo sempre nos comentários dos meus vídeos: ”Nossa, uma menina tão frágil e tão sábia.”. Eles nos olham com frágeis, como coitadas e gente que precisa de carinho, cuidado e de amparo, e só isso disso.

Falou Clara Marinho.

E ela acrescenta que gosta de comentar: “Mas tudo é relativo, já dizia Einstein, se alguém aponta uma arma para sua cabeça e você não tem nada para se defender, nesse momento, você é frágil, então, todos nós somos fracos em determinado momento”.

Ela também acredita que a mulher com deficiência é muito infantilizada, mesmo se for adulta. “Nós podemos ter 20, 30, 40 anos que a população nos infantiliza. Às vezes, eu estou na rua, e alguém me para e diz: “Olha que menina linda! Você é muito fofa!”, aí eu falo: Olha, já tenho 22 anos, não precisa falar assim comigo.”.

Ademais, conforme a estudante da Universidade de Brasília, acessibilidade é poder ser quem é e entende como algo plural que serve para todos. “Acessibilidade serve para equipar as pessoas, para colocar elas no mesmo nível”, explicou. “Quando uma escola agora na pandemia, tem aula on-line e alguém não tem como ter aula on-line, e a escola se planeja para dar um computador e dar aula pela televisão, isso é acessibilidade. Assim como é acessibilidade uma rampa na rua, uma adaptação curricular da escola e/ou da universidade, dependendo do tipo de deficiência.“, complementou.

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Por Laís Lacerda – Fala! Mack

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