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Opinião: figura paterna e importância no desenvolvimento da criança

É fato que a atuação presente dos pais é fundamental para a boa criação de seus filhos. Os pais (e não o Estado ou um agente externo como uma secretária do lar, por exemplo) são os principais responsáveis por inculcar valores, princípios e verdades na vida de seus filhos. São os pais os guardiões legais e os primeiros tutores na vida de uma pessoa. Com isso, a figura paterna, assim como a materna, tem o seu papel fundamental no desenvolvimento da criança. Assim, quando há a perda da referência de uma destas figuras, a balança fica desequilibrada e problemas começam a surgir. 

Por isso, é fundamental que o processo de criação dos filhos seja feito da forma correta. E qual a forma correta? A resposta é simples: pai e mãe presentes exercendo os seus papéis da melhor forma possível em um ambiente saudável. Apesar de simples, é algo bastante complexo e desafiador, sobretudo em um cenário como o que vivemos nos dias de hoje. 

Entendendo os papéis

Pai e mãe têm papéis diferenciados durante as diversas fases de desenvolvimento de seus filhos. Vale ressaltar, contudo, que ambos são importantes em todas as fases do desenvolvimento humano ainda que, em alguns momentos, um ou outro tenha maior significado e importância. 

Na infância, a figura da mãe é fundamental, uma vez que a mãe é quem provê o alimento para o recém-nascido, por meio do aleitamento materno e dos primeiros cuidados. À medida que a criança cresce, o papel do pai começa a ganhar maior destaque.

A partir dos 2 anos de idade a criança tende a respeitar mais o pai do que a mãe. Já na adolescência, as meninas tendem a se apegar mais à figura paterna em busca de segurança, uma vez que seus hormônios estão em busca de aceitação e afirmação masculina e, por sua vez, os meninos tendem a se aproximar mais da figura materna, em busca de uma companheira e de uma amiga. Por fim, na fase adulta, os pais se tornam conselheiros e âncoras no processo de criação dos netos e nos demais processos naturais da vida, tais como: escolha do cônjuge, compra de bens, entre outros. 

figura paterna
Figura paterna. | Foto: Reprodução.

Desde os primórdios da humanidade, a formação de núcleo familiar sempre foi composta por pai (sexo masculino), mãe (sexo feminino) e filhos. Esta é a composição básica de uma família. E cada uma das partes atua de modo específico para garantir a continuidade daquele núcleo familiar. O pai, por exemplo, sempre representou o papel de caçador, de protetor do lar, de líder religioso. Já a mãe, sempre representou o papel de guardiã da casa e defensora dos filhos na ausência do pai. Os filhos, por sua vez, exercem o papel de aprendizes e de auxiliadores de seus pais nas diversas funções, sempre respeitando o sexo. 

Uma vez que a sociedade muda e evolui com o passar dos anos, mediante às inovações tecnológicas, científicas e sociais, os papéis de cada uma das partes começa a ganhar novas formatações. Uma coisa, porém, é certa: os papéis básicos permanecem os mesmos.

Sempre que uma das partes tenta “roubar” o papel da outra parte surgem conflitos que, quando não administrados e resolvidos, acabam por criar tensões e problemas no lar. Dessa forma, é importante que cada uma das partes respeite a posição que a outra ocupa e busque exercer as suas funções da melhor forma possível. Para que isso aconteça, é fundamental que haja sempre diálogo e a criação de um ambiente harmonioso pautado no respeito, no amor e na paz.

O que acontece em muitos casos é a ausência de uma das partes no processo de criação/educação dos filhos. Os motivos são os mais diversos: divórcio, abandono, falecimento, ausência por motivo de trabalho ou doença, crises mentais, entre outros. Quando uma das partes se faz ausente, é natural que a outra parte tente preencher a lacuna existente. No entanto, é certo que ninguém jamais poderá substituir a lacuna da forma como o verdadeiro pai ou a verdadeira mãe faria. 

A figura paterna

Afirma-se que o pai é grande, parecendo um urso, para que ele possa representar seus filhos, a figura do protetor. A grande maioria dos homens é grande e tem um físico bem mais avantajado. O papel do pai é assegurar a proteção e a integridade física da sua família. Por isso, os homens são dotados de músculos que se desenvolvem em maior volume e rapidez em relação às mulheres. Assim, ele consegue impor sua força perante todos os elementos estranhos que ameaçam a sua família e demonstrar proteção em seus vários aspectos. Nesse sentido, a figura masculina representa a segurança física, tão fundamental nos dias de hoje.

Além disso, afirma-se também que o pai tem uma responsabilidade sacerdotal em sua família. Não importando a crença ou a religião da família, o pai tem o dever de conduzir sua família àquilo em que acredita ser verdadeiro. Por isso, em muitas religiões em que o pai não exerce este papel, os filhos acabam por desviar dos caminhos preconizados pela religião e a seguir outros deuses.

O pai (homem) seria, portanto, uma representação de Deus. Se o pai for muito carrasco, por exemplo, a ideia da criança é que Deus é um carrasco. Se o pai for uma pessoa muito amável, a ideia de Deus é que ele é uma pessoa amável. Caso o pai seja ausente, implica dizer que Deus é um Deus ausente. Um dos motivos que levam os jovens a abandonar a igreja é o fato de não terem crescido em um lar no qual o pai era apegado à religião. 

Compete ainda ao pai a função de ser o provedor da família. A provisão é o ato de prover ou garantir os elementos necessários para a família em todos os aspectos: físicos (alimento), segurança (estabilidade emocional e um lar), crenças e valores (espiritualidade e religião). As sociedades nas quais os filhos são criados apenas pela mãe tendem a gerar filhos mais instáveis e inseguros. A provisão garante o equilíbrio e a estabilidade no lar. A provisão diz aos filhos e à mãe que tem alguém cuidando da família. Por isso, quando o pai é preguiçoso ou não consegue prover, os lares acabam desmoronando.

Por fim, a figura paterna representa os valores e caráter da família. No processo de aprendizagem infantil, a criança tende a repetir os comportamentos dos pais muito mais do que aquilo que eles falam. É algo natural, uma vez que a criança ainda está entendendo e assimilando o significado e sentido das palavras. Via de regra as mulheres ensinam por meio da fala, enquanto os homens, por falarem pouco, ensinam pelo exemplo, pela repetição. Por isso, é válido o ditado: o que você faz, fala muito mais do que aquilo que você diz.

Resumindo, o papel do pai, da figura paterna, é o de provedor, líder espiritual e formador do caráter.

A figura materna

O papel da mãe é auxiliar o pai em suas atividades e zelar pelo lar em seus mais vastos aspectos. Apesar dos movimentos feministas recentes pela luta de igualdade e direitos iguais, o papel da mãe na criação dos filhos é o de auxiliadora do pai. Ser auxiliar não diminui o papel ou importância da mulher. De fato, ser auxiliar traz grande responsabilidade, importância e relevância.

Ser auxiliadora não é concordar em tudo com as decisões e ações da outra parte. Ao contrário, é fornecer o suporte e a base necessária para que o homem possa exercer o seu papel da melhor forma possível. O papel de auxiliar tem o poder de influenciar nas decisões a serem tomadas.

Por fim, é responsabilidade da mãe zelar pela casa. Historicamente o homem sempre saiu à caça enquanto a mulher ficava em casa cuidando dos filhos e da casa, mantendo em ordem a sujeira, a bagunça, preparando o alimento e deixando o ambiente acolhedor ao marido. O que ocorre atualmente é uma cultura na qual as mães, por terem de trabalhar como os homens, abrem mão dessas atividades do lar. Daí o ditado: lar bagunçado, vida bagunçada. E é um fato comprovado. Mulheres são mais estressadas por terem de competir em pé de igualdade com muitos homens.

Criação dos filhos

Pais e mães dividem o papel de criar e educar os filhos. O pai é o responsável maior por fazer com que isso aconteça, mas ele jamais conseguirá fazer isso sem o apoio da mãe. Por isso, é preciso haver harmonia, amor, respeito, cumplicidade e fidelidade entre as partes. Quando um destes elementos se perde no processo de criação e educação dos filhos, começam a surgir pequenas rachaduras na embarcação chamada “família”, que podem levar ao naufrágio.

No processo de criação de filhos, o homem precisa assumir o seu papel como provedor e líder da família, ensinando os valores e as crenças por meio do exemplo. Já a mulher precisa assumir seu papel como auxiliar de seu marido, ensinando a forma correta de viver sempre buscando respeitar aquilo que o pai ensina. A forma como um homem trata a sua esposa (e vice-versa) diz muito sobre o caráter e valores que estão sendo ensinados aos filhos.

É bem verdade que o processo de criação de filhos mudou bastante nos últimos séculos. E, neste início de séculos XXI, temos visto muitas outras mudanças. A principal delas tem sido na composição da família. As famílias deixaram de ser um local de abrigo, de refúgio e se tornaram um local cada vez mais confuso e desafiador para muitas crianças.

Existem muitos pais espalhados por aí que não sabem como disciplinar seus filhos. A culpa é deles? Depende. Não se pode julgar sem conhecer a história. A grande verdade é que a culpa é dos pais desses pais que, quando preciso, não os disciplinaram da forma correta ou como deveriam ter feito. Pais que mimam demais os filhos ou não repreendem da forma devida estão prestando um desserviço à sociedade e à sua família.

Alegria dos pais

O que todo pai e toda mãe deseja é que seus filhos tenham sucesso na vida. Sucesso não é, necessariamente, mensurado em termos financeiros. O verdadeiro sucesso vai além de dinheiro. Engana-se quem mede seu sucesso, seu valor em termos financeiros. Pergunte a um pai ou a uma mãe o que eles pensam ser sucesso para os seus filhos. O sucesso é muito maior que o dinheiro. O sucesso dos pais é ver filhos bem criados, cidadãos exemplares e que mantêm vivo o legado da família. Este é o verdadeiro sucesso.

A maior alegria de um pai é ver que seus filhos são pessoas de caráter, que estão longe de drogas, longe da perversidade, longe de tudo aquilo que pode destruir a sua vida e afundá-los em um buraco do qual jamais consigam sair. Todo pai deseja que seu filho estude, se forme, tenha um bom emprego ou uma carreira bem-sucedida e uma bela família.

A herança dos pais são seus filhos e, por isso, precisam ser bem cuidados e lapidados. Isso requer muita disciplina, instrução, sabedoria, apoio e muita conversa. O sucesso é uma construção e não um número. Para isso, é imprescindível considerar a importância da figura paterna nesse processo.

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Por Paulo Machado – Fala! Universidade Federal do Amazonas

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