99,17% dos mais de 258 milhões de votos computados para eliminar somente uma única pessoa: a rapper curitibana, Karol Conká (35)
Nunca antes nas mais de vinte edições brasileiras do reality show Big Brother, uma participante obteve tamanha – e surreal – rejeição. Mas o que justifica esse ódio a alguém que teoricamente está confinada em um programa televisivo, construiu uma carreira de sucesso e até poucas semanas era considerada umas das mais influentes personalidades negras no País?
A resposta é simples: a midiatização do erro. Não puramente simples, pois, aliada a essa circunstância peculiar que os reality shows proporcionam, estão aspectos do racismo estrutural, a animosidade disfarçada de militância, a cultura do cancelamento e, talvez, a externalização de um arquétipo inconsciente – que extrapolou a dramaturgia e imergiu na forma como os brasileiros consomem os produtos do entretenimento -, a ideia maniqueísta de que “os mocinhos merecem finais felizes e os vilões, não”.
Eliminação de Karol Conká do BBB21
Em verdade, os brasileiros tinham, sim, motivos para comemorar a saída de Karol. Assim que teve sua participação anunciada oficialmente, a rapper foi acusada por anônimos e famosos sobre episódios de estrelismo, agressão e injúria.
Como se não bastasse a rejeição inicial, Karol se envolveu em atos xenofóbicos direcionados a uma de suas colegas de confinamento – Juliette, advogada e maquiadora paraibana, que atualmente é a figura mais popular do programa. E, por fim, no auge da perversidade, promoveu perseguição, exclusão e tortura psicológica a Lucas Penteado, um brother que se considerava seu fã e foi estimulado a abandonar o reality.
No aspecto do entretenimento, Karol se apropriou da influência e do temor que exercia na casa para se intitular a “vilã” da edição, a mamacita do pedaço – Carminha e Nazaré que lutem. Na psicologia, a animosidade e insegurança pessoal externalizadas pela participante pareciam ser justificadas por um arquétipo do inconsciente coletivo que se conecta profundamente aos espectadores e que não têm a menor intenção de obedecer a condutas morais. A ausência do superego, como explica Freud.
Todos esses fatores, juntos, culminaram no espetáculo que foi a noite do dia 23 de fevereiro. Ibope registrando 40 pontos de audiência, milhões de menções e comentários nas redes sociais, disputa publicitária nos intervalos comerciais, comoção de famosos, gritarias em prédios, aglomeração em ruas, buzinaços e fogos de artifícios. Eu, por exemplo, cheguei perto de infringir a lei do silêncio no condomínio onde moro com meus pais. Infeliz era quem não estivesse comemorando esse momento histórico: uma energia caótica semelhante à final da Copa do Mundo de Futebol; verdadeira catarse ao povo brasileiro.
Karol Conká saiu, e aí? Bem, devo confessar que o BBB21 não será o mesmo após sua saída e que os brasileiros também não. Com essa eliminação, foi possível observar o quanto somos reféns de nossos erros e da condenação social – sobretudo as minorias – necessitando haver a comprovação de mais de setenta câmeras para entender que a perfeição não existe e até nossos próprios ídolos podem cometer erros semelhantes aos nossos.
Afinal, c’est la vie, assim é a vida.
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Por Andressa Monte – Fala! Universidade Federal do Ceará