Quando nos deparamos com qualquer conflito enraizado em nossa estrutura social, é muito fácil de o indivíduo ser colocado em posição de apassivamento da situação, até a negação de uma possível mudança que responda a determinado conflito.
Daí se originam os famosos bordões construídos através de verdadeira ignorância perante o assunto, ou simplesmente de má fé por parte do locutor. Meu preferido é a grandessíssima frase: “Não gosta da polícia? Pois chame o Batman!”. Para esse tipo, sugiro que convoque o Shazam quando reclamar do atendimento de um servidor público.
O caos instaurado no Espírito Santo demonstra nitidamente a ineficiência do Estado diante da sociedade, tanto para com seus cidadãos como para com a instituição da Polícia Militar. O aumento significativo de homicídios causado pela ausência de quem providencia a segurança pública é, no mínimo, um caso que pode nos deixar de herança alguns aprendizados:
01. Apesar de desde 2011 a intensificação de políticas públicas no estado (Estado Presente) ter diminuído a criminalidade de tal, a desigualdade social e a periculosidade da região continuam presentes no cotidiano do cidadão.

02. É lastimável a necessidade do policial militar ser forçado a usar o recurso apelativo de sua família, para poder exigir os direitos básicos de um trabalhador garantidos na Constituição Federal.

03. A militarização dessa profissão é o grande agravante da situação, uma vez que a obediência ao tribunal militar proíbe o indivíduo de executar greves, criar sindicatos e exprimir sua opinião publicamente, como é o caso do oficial João Maria Figueiredo da Silva, que foi preso no ano passado por se posicionar contra tal fator nas redes sociais.
04. O aumento da ilegalidade é outra consequência a ser analisada: o surgimento dos conhecidos “bicos” exercidos por policiais, caracterizados pela prestação de serviço de segurança em estabelecimentos privados, ou até o rompimento com suas obrigações, trilhando para a esfera da corrupção. Todos decorrentes da má remuneração e esquecimento dessa parcela, que propicia o sujeito a optar por esse caminho.

05. A divisão da polícia entre civil e militar foi feita em 1969, em plena ditadura militar, e isso separou suas funcionalidades para investigação e patrulhamento ostensivo, respectivamente. Junto com essa divisão, foi adicionado a prática do “auto de resistência”, um termo criado para justificar assassinatos naquele período, e que atualmente continua sendo utilizado, muitas vezes com outra expressão de significado idêntico.
06. A função da PM foi desenhada para contribuir com os sequestros, torturas e homicídios contra aqueles que discordavam do regime militar, esquecendo o fator primordial: a ordem pública e o resguardo dos indivíduos que vivem em sociedade. Os treinamentos da entidade visam a guerra e não a aptidão para lidar com seres humanos. Os abusos policiais cometidos em larga escala na periferia com pessoas desfavorecidas são marcas deixadas pelo nosso passado ditatorial.
07. A perda de significado da corporação: sempre que o Estado não cumpre seu papel de organização nos meios pelos quais é responsável, novas doenças nascem. Exemplo disso foi a criação do crime organizado – destaque para o Primeiro Comando da Capital, criado em decorrência da má administração governamental das penitenciárias, em que os presos criaram um sistema de ordenação para a própria sobrevivência. Em decorrência disso, grande parte dos cidadãos procuram as autoridades desse poder paralelo quando carecem de resoluções conflituosas, esquecendo a polícia, que deixaram de assimilar como símbolo de proteção há muito tempo.
Diante da situação vivida no Espírito Santo e de tudo que aqui foi abordado, torna-se possível extrair uma simples palavra-chave para o aprimoramento social, mas a deixei para o final justamente pelo fato dela carregar um grande desgaste ao longo dos incontáveis debates nos últimos anos.
Ela é Atribuída de valores e conceitos de desacordo com seu verdadeiro propósito – a desmilitarização.
O simples ato de consertar um erro do passado, a renovação daquilo que virou arcaico. Quando olhamos para nossos pés e tudo o que conseguimos observar é a beirada do precipício, percebe-se a urgência de dar um passo para trás se o desejo for de sobrevivência.
Por: Igor de Lima Pinto – Fala! Cásper
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