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O papel das virtudes na maturidade em relação às mudanças

Em meio a complexidade da vida social contemporânea, a dinamização do cotidiano ocupa uma notoriedade cada vez maior e  traz consigo inúmeras mudanças, as quais se manifestam em diversos setores e esferas da sociedade, sobretudo, no quesito dos relacionamentos humanos. Nesse sentido, é importante frisar o pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, cujas obras destacavam o caráter supérfluo da modernidade, caracterizada pela liquidez de suas nuances, instituições, relações e programas. 

Dessa forma, o caráter frenético das mudanças representa o traço distintivo da contemporaneidade. Em meio a crescente dinâmica das alterações e mudanças, Bauman afirma que os projetos futuros sólidos e as chamadas utopias, isto é, ideias que vinculam os indivíduos à defesa de valores supraindividuais, entraram em uma profunda crise, dificultando, assim, o amadurecimento pessoal e construção da individualidade.

Entenda o papel das virtudes na maturidade em relação às mudanças.
Entenda o papel das virtudes na maturidade em relação às mudanças. | Foto: Freepik.

As mudanças e a maturidade: Como esses dois aspectos se unem

Em uma primeira análise, vale ressaltar que o amadurecimento não consiste, exclusivamente, nas mudanças, mas na forma como elas são encaradas. Desse modo, vale a pena reiterar os pressupostos estóicos, segundo os quais a felicidade, ou melhor, a ataraxia (ausência de perturbação), consiste na inexistência de inquietação diante das alterações e contingências. Destarte, a preocupação excessiva com as modificações e as oscilações da vida representa uma fraqueza, uma limitação das potencialidades. Segundo o filósofo estóico Marco Aurélio, as mudanças são naturais e devem ser aceitas como inexoráveis na vida humana. Em vista disso, o primeiro passo para o amadurecimento diante das transformações e mutações é a tranquilidade e não uma nostalgia permanente ou romantismo excessivo com o passado. Obviamente, é preciso reconhecer que os fatos passados marcam a história pessoal e constituem um traço indispensável da individualidade, todavia, o apego excessivo à história é prejudicial. 

Ademais, a persistência na virtude constitui o segundo elemento da maturidade em relação às mudanças. Sendo assim, o apego ao bem e aos pressupostos da vida virtuosa constituem, em última instância, o ponto nevrálgico do desenvolvimento sólido do amadurecimento pessoal. Diante do exposto, pode-se dizer que a maturidade consiste na resolução categórica de observância do dever moral a despeito das oscilações e contingências. Além disso, muitos pensadores associam o exercício constante das virtudes à própria felicidade. 

Em virtude do que foi apresentado, resta dizer que a realização plena da vida humana consiste em uma atitude permanente de busca pelo bem, aceitando as adversidades, encarando as mudanças e suportando as contingências. O verdadeiro amadurecimento consiste na compreensão de que as transformações fazem parte da realidade temporal e finita da existência humana e no entendimento de que é preciso lidar com elas tendo em vista a felicidade genuína, que se manifesta na vida virtuosa. Em suma, maturidade é uma espécie de prudência, capaz de utilizar o tempo em prol do bem. 

Nas palavras do personagem Gandalf: “Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado”. É preciso utilizar o tempo em prol do bem e das virtudes, pois somente uma vida dedicada a elas é genuinamente feliz. Por fim, vale ressaltar uma breve consideração do filósofo russo Fiódor Dostoiévski, o qual afirmou: “Como passam rápido os anos! E a gente volta a perguntar a si mesmo: Que fizestes de teus anos? Onde enterrastes o teu tempo? Vivestes ao menos? Ou não?”.

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Por Leonardo Leite – Reaviva Mack – Universidade Presbiteriana Mackenzie

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