O Cancioneiro
Cancioneiro é um ser sem lar.
É bicho sem amarra, sem domador.
É criação sem regra.
O cancioneiro é peão do mato.
É rimador que sai por trilhas e estradas
calçadas e beiradas
cantando e dançando
a fúria da alma,
de sua morada.
É um cortejo de clamor
– É belezinha!
O cancioneiro é um rei sem coroa
cheio de louvor.
É um nômade corredor
que baila de terra em terra
contando histórias
de onças pintadas,
mulas sem cabeça
e seu pai
Xangô Agodô
– É simplicidade!
– i é?
– É sim, dotô!
– Mas ué, sô dotô não. Sô cantô!
– É sim, sim senhô!
– É o que?
– É dotô!
E o cancioneiro ria
ria e seguia
Dava a bença pra mainha
E partia
– Sinha mãe di cançônero é mulé forte, né não? Vê filho ino…
– i é?
– ô si é.
Mas Cancioneiro é prosador, cancioneiro é mais do que canção,
é bicho que vai além da saudade.
Cancioneiro é trovador,
é zelo, é mula e cuia
é poesia
é amor.
Por: Caio Nascimento – Fala! USP