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Mulheres na Música: Renegadas e Infiltradas

As mulheres enfrentam inúmeras dificuldades em obter voz na sociedade e, em âmbito musical, isso não é diferente. Apesar dos esforços, as mulheres continuam sendo minoria nas big bands e nas orquestras, sendo como instrumentistas ou como maestrinas.

Em grupos menores, são mais aceitas como cantoras e, ainda assim, sofrem por não terem sua voz escutada por seus colegas de trabalho. O número de compositoras brasileiras prestigiadas, se comparado com o de compositores masculinos, é quase nulo e isso se aplica a diversos gêneros musicais, sendo na MPB, na música erudita, no rock ou no forró.

Na música brasileira, há tempos, as mulheres vêm conquistando espaços distintos, sendo como instrumentistas, cantoras ou compositoras. Nomes femininos e brasileiros como Badi Assad, Maria Beraldo, Karina Buhr, Gal Costa, Mônica Salmaso, Rosa Passos, Debora Gurgel e Vanessa Moreno perpetuam na música. Apesar disso, o espaço ainda é renegado ao sexo feminino.

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A musicista Vanessa Moreno, que se define como mulher, cantora, mãe e “arteira em movimento”, explica um pouco sobre como enxerga as oportunidades para mulheres no mercado da música atual.

Vanessa estuda música desde os 15 anos, tocou violino no projeto Guri, além de cursar canto erudito na Escola Municipal de Música de SP e canto popular na ULM, atual EMESP. Também estudou canto na Faculdade Souza Lima, possui um disco solo intitulado “Em Movimento”, 2 discos do duo com o baixista Fi Maróstica e um álbum realizado ao lado do pianista Salomão Soares.

Vanessa Moreno. | Foto: Lela Beltrão
Vanessa Moreno. | Foto: Lela Beltrão

Eu acho que é estrutural, existe um olhar menos generoso com as mulheres na música. Mas não começa na música, começa em outros lugares. Tanto para as mulheres como para os negros, para os gays, as lésbicas, as trans, nós estamos começando a ter espaço para ganhar mais voz.”

afirma Vanessa.

A musicista ainda complementa:

Sinto que nós, mulheres, temos nos ajudado e acho que, no meio musical, que é um meio predominantemente masculino, a gente acaba tendo poucos locais de fala. No geral, a gente se exclui, porque estamos acostumadas a isso, o que é errado. É importante nos ouvirmos mais para acharmos nossa forma de contribuir, de funcionar e de nos colocarmos também.

Já Bjanka, que possui 3 discos gravados, sendo um deles em homenagem à figura feminina Soledad Viedman, miltante comunista assassinada na ditadura militar enquanto estava grávida, atua na música independente como produtora musical, sonoplasta e cantora na banda de forró Quarteto Refungá, aponta outros empecilhos sobre as oportunidades para mulheres no mercado musical.

Bjanka. | Foto: Reprodução.
Bjanka. | Foto: Reprodução.

Na música, as mulheres têm lugar, mas é um lugar que o mercado oferece à gente, como se fosse uma caixinha. Eu já fui vocalista em outras bandas, que é algo ambíguo, porque é um lugar muito bom, pois você está lá ocupando um espaço, mas é objetificada, com um olhar sobre você, sobre o que você deveria fazer e como deveria fazer, tudo  para chegar em um padrão que o mercado deseja.

Bjanka aponta

Musicista e produtora, Alice Ribeiro toca violoncelo e dá aulas de iniciação musical na ONG AFESU Veleiros, voltada para a qualificação feminina. É formada em produção fonográfica e, atualmente, atua como técnica de som e produtora de eventos.

“No ramo da produção, as pessoas sempre esperam que eu trabalhe com a administração apenas, parece absurdo eu querer ser a técnica de som do lugar. Em alguns momentos, as ‘manas’ que já conseguiram entrar no mercado dão uma força, mas acaba sendo muito puxado ter que batalhar o dobro pra conseguir algo simples, apesar de ter formação.”

contempla Alice.

Gizelly Batista é uma instrumentista, tocadora de viola clássica, que já atuou em diversas orquestras brasileira. Também conhecida pelo nome artístico de Gylez, é compositora e, atualmente, trabalha com Live Performance e poesia musicada. “Dentro da orquestra eu percebi uma demanda até proporcional para as mulheres, mas o tratamento que têm com a gente nesse ambiente é diferenciado.”, relata.

Sobre a banda, como eu que estava fazendo arranjos, recebi muita resistência em um sentido negativo. Mesmo eu liderando o procedimento, o técnico de som fazia perguntas para outros membros da banda, e não pra mim. O lugar de fala da mulher não é reconhecido no meio musical. Hoje em dia, eu fui criando o meu lugar. Estou trabalhando sozinha, posso chamar outras pessoas, mas sou eu quem crio meus próprios espaços.

Gizelly Batista explica


A cantora Ingrid Mendonça, estudante de música do Auditório do Ibirapuera, observa que as mulheres se destacam principalmente como cantoras no meio musical.

Ingrid Mendonça. Foto: Bruna Sampaio.
Ingrid Mendonça. Foto: Bruna Sampaio.

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Todas as figuras citadas acima declararam que sofreram machismo no meio da música. Alice declarou que, na época de sua faculdade, as mulheres fizeram um coletivo para desabafar sobre o machismo no ambiente acadêmico. Por outro lado, a violinista Gylez contou ter sofrido abusos explícitos de maestros e Bjanka relatou dificuldades em ser a única mulher em uma banda composta por homens e em como ter sua voz renegada afeta sua emoção e seu trabalho.

De acordo com Gabriela Capassi, estudante de música da EMESP e solista da OBA, Orquestra do Auditório Ibirapuera, a quantidade de mulheres na música tem aumentado e, com isso, vem a representatividade que é essencial para que sigamos na luta. Dia da mulher é todo dia e a coragem segue conosco nessa luta.

Cada vez mais, nós, mulheres, precisamos estar, além desse lugar de vocalista – porque esse também é o lugar – e ir burlando esses espaços. Tocar um instrumento, armar a técnica do show, para mostrar que as mulheres também podem ocupar mais lugares. As mulheres estão aí, a rede é muito grande.

Gabriela Capassi compreende
Gabriela Capassi. Foto: Roberta Borges.
Gabriela Capassi. Foto: Roberta Borges.

Quando eu consegui uns ‘jobs’, como na área técnica como operadora de áudio para teatro, às vezes até pra tocar numa gig ou cantar, quem me chama são as meninas. E eu sigo esse procedimento também. Se surge um ‘trampo’ que eu não posso pegar eu falo “Quem é a ‘mina’ que quer pegar esse job?” e acho que, cada vez mais, essa trama de auto-ajuda entre as mulheres tem que acontecer, no micro a gente está fazendo o macro. De ir se enfiando e ir penetrando o espaço.

Comenta Bjanka, ressaltando a resistência que é ser mulher nesse meio

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Por Brenda Umbelino – Redação Fala!

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