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Flup – A festa que celebra a potência das vozes da periferia

Fique por dentro da FLUP, evento no Rio de Janeiro que celebra a potência das vozes da periferia. O som das vozes no alto do MAR – Museu de arte do Rio – ecoa como prenúncio à vida-liberdade da cidade.

FLUP
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PERIFERIA NAS UNIVERSIDADES – UMA VIDEORREPORTAGEM JORNALISMO JR.

Flup: A Festa Literária das Periferias

A história nacional acompanha a feira que, próxima ao maior porto escravista mundial, abre alas para uma poesia que retumba resistência e liberdade. A 8º edição da Festa Literária das Periferias ocupa o centro do Rio de Janeiro e reúne a população para ouvir artistas representantes da cultura negra e periférica.

Afinal, não é possível sonhar com aquilo que você nem sabe que existe. Com o objetivo de espelhar a potência da literatura marginal, a FLUP aconteceu entre os dias 16 e 20 de outubro e teve como um de seus principais homenageados o autor e dramaturgo pernambucano Solano Trindade, visto por muitos críticos como o pioneiro de uma poesia declaradamente negra.

Na entrada do museu, alguns buscavam um lugar privilegiado para ouvir as rodas de conversa, enquanto outros se dirigiam em busca das barraquinhas de comida regional dispostas ao fundo do hall. Sebos e livrarias ocuparam o lugar e fizeram sucesso entre os leitores aguçados, ansiosos pelos próximos dizeres, que preencheriam o salão:

Nós temos mania de destruir o que não conhecemos”, reverbera a fala de Dione Carlos por entre os vidros que separam o evento da cidade.

ÁGORAS CONTEMPORÂNEAS E A INSERÇÃO DA PERIFERIA NOS DEBATES SOCIAIS

A dramaturga defende, junto a seus colegas de mesa, um teatro que comunique negritude e que seja revolucionário em seus traços.

É sobre trazer representação”, palavra que, para ela, transborda os limites do palco. Dione afirma que precisamos de homens e de, sobretudo, mulheres negras em espaços que são dominados pelas vozes brancas. Lugares de chefia, de escrita, lugares de fala.

A FLUP é uma ocupação internacional e acompanha um projeto de construção de narrativas, responsável pela publicação de diversos livros, dentre eles, “O sol na cabeça”, de Geovani Martins.

A coletânea de contos apresenta poeticamente a vida de moradores das periferias, detalhando os pequenos momentos que marcam a poeira dos móveis do cotidiano.

O livro já foi traduzido para mais de dez países e, entre críticas à violência institucional, Geovani harmoniza os sabores das palavras para construir uma literatura plural e acessível.

A poeta Kimani, vencedora do Slam Nacional deste ano, declara que a FLUP é uma ferramenta para ampliar horizontes e que visitar o espaço significa se reenergizar e se alimentar de toda a esperança que é perdida com o passar dos dias.

NAS FÁBRICAS DE CULTURA, OS JOVENS DA PERIFERIA QUE SONHAM EM VIVER DE ARTE

Para ela, o Slam – batalha de versos – representa ouvir, o que foi essencial para que se reconhecesse enquanto sujeito:

A gente passa a se valorizar e valorizar os nossos. Passamos a nos ver como realmente somos. E não só como uma pessoa, mas parte do todo, dessa diáspora. Mudou minha vida enquanto pessoa, enquanto mulher negra, mudou minha relação com as outras mulheres.”

Disse Kimani

CULTURA NA PERIFERIA – ENTREVISTA COM UM CATALIZADOR DE CULTURA

Kimani, nome afro-americano que simboliza menina dócil e meiga, contrasta com as fortes poesias proferidas pela artista, que sangram a realidade brasileira em versos. Por fim, ela enfatiza:

O Slam é potente porque é um lugar de escuta. Não vou falar que é um lugar que dá voz porque a gente sempre teve uma voz, mas uma voz ocultada. A gente sempre disse, é que ninguém nunca nos ouviu.

Quando a gente está no Slam, sobe no palco e pega o microfone a gente tem vários olhos e ouvidos atentos para a nossa realidade, para o que a gente quer falar. Por isso que a gente vive no Slam”.

Por: Ana Flávia Pilar e Camille Lichotti

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