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Periferia Inventando Moda: Escola de Moda em Paraisópolis

Por Saulo César – Fala! Cásper

 

Escola de Moda em Paraisópolis abre novos horizontes para comunidade. Cursos gratuitos levarão conhecimento e oportunidades na área fashion brasileira

O auditório do Centro de Estudos Unificados de Paraisópolis foi tomado na noite de 13 de março por uma plateia íntima, mas nada tímida, que atendeu ao evento de inauguração de um curso de suma importância para a vida local. Na ocasião foi inaugurada a uniPIM, Universidade Periferia Inventando Moda, parte de extensão acadêmica do projeto PIM, que leva conhecimentos e práticas do mundo da moda a pessoas da periferia de Paraisópolis. Em parceria com a Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Moda (Abepem) e com a ECA-USP, a uniPIM tem como objetivo a formação de modelos, maquiadores e fotógrafos por meio de cursos gratuitos, ministrados no C.E.U da comunidade, com certificados da Universidade de São Paulo.

Kathia Castilho, da ABEPEM, ao microfone.

 

Nascido pelas mãos do estilista Alex Santos, morador da região, o projeto Periferia Inventando Moda foi pioneiro ao buscar conhecimentos da área e modelos da própria periferia para serem protagonistas de suas narrativas, melhorando suas condições de vida. “Lá no centro da cidade todo mundo já conhece o que é moda. Isso aqui é uma chance de a trazermos para cá fazendo do nosso jeito, mostrando para os segmentos mais elitizados que nós também somos parte do todo e alimentamos essa força”, categoriza Alex.

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Com o PIM, várias pessoas se profissionalizaram e hoje perseveram no mundo da moda, quebrando barreiras e buscando sempre condições melhores para a comunidade ao redor. Descoberta pela iniciativa, a modelo Mariana, também de Paraisópolis, acredita que o curso abrirá portas para outros indivíduos, assim como ocorreu com ela. “Todo esse trabalho feito aqui integra um mundo que nos seria inacessível por ser muito severo, crítico e elitista, exigindo muito de nós. Assim, o PIM se tornou uma grande família”, diz.

Levando em conta que os recursos são mais escassos, e as oportunidades são mais raras para os moradores dali, o espírito empreendedor se sobressai nas intenções dos parceiros e idealizadores. A parceria com a Escola de Comunicação e Artes da USP possibilita a autenticação de diplomas e certificados para aqueles que completarem o curso e as atividades paralelas, dando assim uma base acadêmica e curricular para os alunos, vislumbrando horizontes profissionais maiores. Kathia Castilho, presidente da Abepem, declara que a alçada possui objetivos práticos, pensando em modelos de educação menos engessados. “O PIM já tem um grande desenvolvimento e envolvimento na região. O que procuramos em fazer com o curso foi uma formação de maior base, de maiores possibilidades de vínculo curricular e profissional. Queremos pensar em novos formatos de educação”, pontua.

Vinda de Barueri para atender a palestra de inauguração por espontânea vontade, Mirian Reis, de 29 anos, é mais uma representante do grupo de pessoas que foi, de alguma forma, alcançada pelo projeto. Nomeado anteriormente de Paraisópolis Inventando Moda, a primeira palavra teve de ser trocada a fim de abarcar não somente a região de atuação, mas todas as periferias em si. Segundo o estilista Alex, após muita procura e aderência, o nome e as intenções foram alargadas, sendo Periferia Inventando Moda oficialmente o legado deixado.

Um dos desafios a ser enfrentado por aqueles encarregados pela toada é levar formação e informação para dentro da comunidade. Com embasamento teórico e prático, professores do mercado e da academia tem por objetivo promover o pensamento e a cultura de moda, favorecendo o enriquecimento cultural, o autoconhecimento e a busca pela inserção no mercado de trabalho, voltado ao cenário nacional. Ao decorrer das décadas, a fonte de inspiração dos brasileiros passou a não ser somente o mercado externo, mas também o Brasil em si, quando a moda brasileira ganhou ares mais autorais. Segundo Kathia, da Abepem, é de crucial importância a valorização da moda nacional em todo o processo. “Temos de ser sujeitos de nossa própria narrativa e é daqui, de lugares como esse, que saem grandes ideias e alternativas”, afirma.

Assim, o aspecto profissional divide espaço com os ideais de uma moda mais democrática a serviço da população. O estilista baiano Isaac Silva, apoiador do projeto e palestrante na ocasião, alega que a moda e seus conhecimentos deve estar ao alcance de todos, principalmente em tempos como o que vivemos. “Ela [a moda] deve ser as pessoas”, pondera. A moda não se trata apenas de usar uma determinada roupa, mas sim de carregar uma história e mostrá-la ao mundo. E a uniPIM entra para a história como exemplo de vontade e superação que alcança patamares inimagináveis.

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