Essa lista foi montada no intuito de apresentar curtas essenciais para os que querem imergir nessas produções que, em pouco tempo, conseguem transmitir uma riqueza muito grande. O critério usado foi da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, organização conhecida por realizar anualmente o Oscar, que diz que o curta-metragem é um filme “de 40 minutos ou menos, incluindo os créditos”. Foram selecionados documentários, animações, filmes ficcionais e não-ficcionais nacionais e internacionais:
Primórdios do Cinema:
Viagem à Lua (Le Voyage dans la lune, 1902)
Este curta foi dirigido, produzido e escrito pelo pioneiro Georges Méliès e é o mais notório dentre as centenas de suas produções. A história de um grupo de astronautas que viaja à Lua fez muito sucesso na época e é considerado o primeiro filme de ficção científica da história do cinema. O momento que a nave aterrissa no olho da Lua permanece como um dos momentos mais celebrados da sétima arte e é a representação da importância e a genialidade de Méliès, que influenciaria gerações futuras.
O Grande Roubo do Trem (The Great Train Robbery, 1903)
Há mais de 115 anos, Edwin S. Porter fez história ao filmar um dos primeiros faroestes, utilizar movimentos de câmera e montagem paralela, que consiste em “ações que podem ou não ter relações de simultaneidade temporal e busca a construção de um significado, comparação ou contraste a partir de sua construção”, segundo Fábio Luis Rockenbach para a Revista Moviement.
O Vapor Willie (Steamboat Willie, 1928)
Este curta-metragem foi muito celebrado pelo uso de som e música dentro de um desenho animado, sendo considerado o primeiro a realizar tal proeza. Com o sucesso na época, Mickey e Minnie Mouse passaram a ser conhecidos no mundo todo.
Animação:
Luxo Jr. (1986)
Foi a primeira produção em CGI a ser indicada ao Oscar e a simpática luminária tornou-se a mascote da Pixar e pode ser vista em todas as aberturas de suas obras. Suas técnicas de computação gráfica foram divisoras de água para a empresa e para o mundo da animação. Luxo Jr. é o primeiro exemplo de muitos do talento da Pixar de dar vida e emoções a objetos inanimados.
Piper (2016)
Ao colocar em contraste Luxo Jr. e Piper, percebe-se a notável evolução de animação 3D da empresa. Para contar a história da ave recém-nascida descobrindo um novo mundo, foram utilizadas novas técnicas e demorou três anos para ser finalizada. Merecidamente ganhou o Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação, categoria que a Pixar não levava desde 2002 com “Coisas de Pássaros”.
Tale of Tales (Skazka skazok, 1979)
O russo Yuri Norstein é considerado um dos maiores animadores de todos os tempos e Tale of Tales sua obra máxima. É pura poesia cinematográfica. Na procura de dar um sentido mais concreto ao que o curta-metragem transmite, um usuário deu a definição que mais chega perto: “Para mim, desencadeia uma onda ácida das memórias meio esquecidas da infância, através do prisma de todos os problemas e preocupações da vida”.
Street of Crocodiles (1986)
Esta perturbadora animação stop-motion foi indicada à Palma de Ouro em Cannes em 1986 e impressiona pelo nível de detalhes dos cenários. Leszek Jankowski criou uma das mais belas trilhas sonoras, e Steven e Timothy Quay conceberam um dos filmes mais bizarros do século 20.
Maya Deren: Nascida na Ucrânia, foi um dos nomes mais importantes do cinema experimental dos anos 40 e 50. Acreditava que a função dos filmes era criar experiências. Utilizava recursos coreográficos advindos de seu interesse pela dança.
Tramas do Entardecer (Meshes of the Afternoon, 1943)
Maya dirigiu esse curta junto com seu marido Alexander Hammid e também estrelou ao seu lado. Ele está entre os 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer e ao assistir dá para ver o porquê. Ele foge dos moldes dos filmes dos anos 40 e se tornou incrivelmente atemporal. Esta obra experimental influenciou muitos diretores, como David Lynch em A Estrada Perdida (1997). Algumas versões no YouTube possuem trilha sonora, mas Maya concebeu originalmente o curta sem nenhum recurso sonoro.
Ritual In Transfigured Time (1946)
Neste curta-metragem, Maya dirigiu sozinha e podemos ver mais a influência da dança em suas obras. Nessa época, a cineasta usou seus trabalhos expressar seus anseios perante a sociedade, e em Ritual In Transfigured Time ela usa a coreografia para discutir a futilidade das interações e relações sociais. Repetindo o texto anterior: algumas versões no YouTube possuem trilha sonora, mas Maya concebeu originalmente o curta sem nenhum recurso sonoro.
Cinema de Vanguarda:
La Jetée (1962)
Chris Marker, utilizando o recurso de fotomontagem, criou uma das mais fascinantes obras da Nouvelle Vague e do cinema. De forma objetiva, Marker nos traz a história de um mundo pós Terceira Guerra Mundial, onde cientistas fazem experimentos com cobaias para fazê-los viajar no tempo atrás de suprimentos. Marker oferece em meia hora uma experiência cinematográfica única, um misto de romance e ficção de forma coesa e sucinta. Este “fotoromance” influenciou o diretor Terry Gillian em “Os 12 Macacos”.
Um Cão Andaluz (Un Chien Andalou, 1928)
Talvez o filme mais famoso de Luis Buñuel. Escrito por ele e Salvador Dalí, essa é obra máxima do movimento surrealista no cinema. São 20 minutos que rompem totalmente com qualquer linearidade e lógica. A cena do olho da mulher sendo cortado por um homem permanece como uma das mais icônicas da história do cinema.
Brasileiros:
Ilha das Flores (1989)
Dirigido por Jorge Furtado, este curta-metragem trata, de maneira ácida, uma triste realidade de desigualdade social que a sociedade do consumo gera. A montagem e a narração não nos deixam esquecer nunca que simples gestos podem ter consequências e que todos estamos interligados nessa teia capitalista. É considerado o melhor curta-metragem brasileiro de todos os tempos, segundo a Abraccine. Esta matéria do G1 mostra que essa realidade, infelizmente, ainda existe.
Vinil Verde (2004)
Muito antes de Bacurau e Aquarius, o diretor Kleber Mendonça Filho nos apresentou esse estranho suspense de uma menina que é proibida por sua mãe de ouvir um vinil verde. Porém, ela desobedece e toda vez que escutava, algo estranho acontecia. Previamente citado, o curta La Jetée foi uma clara inspiração no aspecto narrativo.
Documentários:
The Lady in Number 6: Music Saved My Life (2013)
Este tocante documentário relata a história de Alice Herz-Sommer, a sobrevivente mais velha do Holocausto. A própria, com 110 anos, conta como a música literalmente salvou sua vida. Apesar das adversidades e da idade, Alice possuía uma grande paixão pela vida e pelo piano. Ganhou o Oscar de Melhor Documentário de Curta-Metragem, mas Alice morreu uma semana antes da cerimônia e infelizmente não pôde presenciar sua história sendo celebrada.
Quem Matou Eloá? (2015)
Lívia Perez levanta neste curta-metragem uma análise crítica sobre o caso do sequestro de Eloá Pimentel e o papel da mídia, questionando a espetacularização e a sua abordagem nos assuntos relacionados a feminicídio e violência doméstica. Infelizmente um documentário ainda muito necessário.
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João Pedro Isola – Fala!Mack