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Como se encontram as mulheres uigures na China atualmente?

Durante os créditos finais do filme da Disney, Mulan, lançado em 2020, um agradecimento chama a atenção: uma gratificação especial é dirigida às agências de filmagem da região de Xinjiang, faixa do noroeste chinês e centro de encarceramento da etnia uigur de religião islâmica, a qual é proibida no país. Tal atitude por parte da direção do filme revela um paradoxo intrínseco a uma grande hipocrisia – a idealização de uma personagem forte e empoderada entra em contraste com a situação atual enfrentada diariamente por milhares de mulheres uigures na região palco do longa-metragem.

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Mulheres uigures na China. | Foto: Mike Pryan Wikimedia Commons.

Situação dos uigures

Mas, primeiramente, quem são e o que enfrentam estes uigures? Falantes de uma língua parente à turca, essa etnia se concentra na região autônoma da China, a qual recebe o nome de Xinjiang, fronteiriça ao Paquistão e ao Afeganistão. Muçulmanos, os uigures sofrem alta repressão devido à sua cultura dissidente da chinesa, e por tal motivo são recorrentes os casos de detenção em campos de concentração como forma de enfrentar, como o próprio governo chinês afirma, um separatismo islâmico.

Na tentativa de filmar os arredores de uma dessas prisões, o correspondente da DW News, Matthias Bollinger, foi seguido e repreendido por cinco policiais chineses. Tal atitude por parte da burocracia chinesa revela as tentativas de manter no sigilo os diversos crimes contra a humanidade enfrentados principalmente pelas mulheres: a cultura do estupro, a tortura e o sequestro de suas crianças.

Em entrevista à imprensa britânica BBC News do dia 6 de fevereiro de 202, uma ex-prisioneira e atual refugiada pelos Estados Unidos decide renunciar ao seu direito ao anonimato. Tursunay Ziyawudun foi mantida em um dos chamados “Campos de reeducação de Xinjiang” e relatou que dividia cela e um balde como banheiro com outras treze mulheres. Mas os horrores não paravam por aí.

Segundo ela, homens mascarados invadiam de noite o cárcere em que estavam, estuprando e torturando-as. “Eles não poupavam nenhuma parte do meu corpo (…) Usavam um bastão elétrico… fui torturada com choques elétricos”.

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A ex-prisioneira Tursunay Ziyawudun em entrevista para a BBC News. | Foto: Reprodução.

Outra questão problemática que faz parte do cotidiano de um uigur é a separação das mulheres de seus filhos. Caso semelhante a este ocorreu nos Estados Unidos durante o governo Trump em 2018, em decisão drástica em relação aos imigrantes na fronteira com o México, onde crianças foram separadas de seus pais.

Diferentemente da repercussão mundial que os Estados Unidos receberam, a China, desde 2014, vem gradativamente reunindo muçulmanos de origem turca uigures na região de Xinjiang, de acordo com reportagem escrita pela Carta Capital no dia 9 de julho de 2019. Em entrevista feita novamente pela BBBC News com algumas mães uigures que vivem em asilo na Turquia, algumas delas afirmaram não saber quem cuidava de suas crianças, outras dizem ter perdido contato totalmente.

Fica nítido, dessa forma, os abusos de autoridade cometidos pela China contra uma população minoritária, apenas 0,45% de todo seu gigantesco território. O que se espera daqui em diante é uma resposta mundial para com essas atrocidades. Segundo Wang Wenbin, Ministro de Relações Exteriores da China: “Não existe a chamada agressão e abuso sexual sistêmico contra mulheres. A China é um país, por lei nossa Constituição garante e protege os Direitos Humanos”.

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Por Letícia Souza Iervolino – Fala! Cásper

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