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Bruxas mais marcantes da história: saiba quem são essas mulheres

No mundo contemporâneo ocidental, a bruxaria é bastante diferente do estereótipo histórico. A religião Wicca possui como guia o Livro das Sombras, uma coleção de sabedoria e bruxaria do século XX, porém não é objetivo de seus praticantes fazer o mal. Eles possuem como lema viver em harmonia com o mundo e a natureza, e os poucos encantamentos realizados se restringem ao uso de ervas medicinais. É uma luta constante para os wiccanos combater as ideias negativas sobre as bruxas que permanecem desde o tempo da Inquisição.

No entanto, não há como falar sobre bruxas sem mencionar a histórica da caça às bruxas, prática comum na Europa dos séculos XIV e XVII. O próprio termo “bruxa” surge do italiano “bruciare”, que quer dizer “queimar” e faz referência a esse passado no qual bruxas eram queimadas vivas na fogueira.

O contexto da época consistia em uma forte intolerância religiosa e a resistência da igreja à ciência, combinadas com a condição social limitada do gênero feminino. Havia também o pensamento de que a mulher era “mais próxima do diabo”, vindo da história bíblica de Eva e a maçã. Tudo isso contribuiu para a caça às bruxas ter tomado essa proporção. Assim, confira, a seguir, algumas das supostas bruxas que mais marcaram a história.

Bruxas que marcaram a história

Hipátia

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Bruxa Hipátia de Alexandria. | Foto: Reprodução.

Hipátia não viveu na Idade Média ou Moderna como a maioria das perseguidas por bruxaria, mas, sim, em Alexandria, no Egito Antigo. Conhecida como a primeira mulher filósofa e matemática, também foi a primeira que sofreu um destino cruel por acusações de heresia. Como poucas mulheres de sua época, ela pode estudar porque era filha de um homem com formação educacional: Teón de Alexandria, astrônomo e escritor. E obteve muito sucesso, superando o conhecimento de seu pai em várias áreas. Hipátia dava aulas de filosofia neoplatônica, literatura e ciência, além de frequentemente participar de assembleias de maioria masculina.

Sua morte se deu por razões políticas e religiosas do Império Romano, que no século 4 passou de um Estado totalmente pagão para um misto do paganismo com a religião cristã. O prefeito imperial de Alexandria era Orestes, um cristão tolerante e amigo de Hipátia. No entanto, surgiram rumores de que sua amizade com a filósofa, devido aos vastos conhecimentos científicos que ela possuía, era negativa e o afastava de sua religião.

Há diferentes versões sobre como tudo terminou. A mais aceita é a do historiador inglês Edward Gibbon, na qual ele conta que, em uma manhã da Quaresma em 415, Hipátia foi atacada na rua. Voltando para casa em uma carruagem, um grupo de cristãos arrancou seus cabelos, roupas, braços e pernas. Depois, o resto de seu corpo foi queimado em um cruel fim.

Tituba de Salém

bruxas de salém
Tituba. | Ilustração: John W. Ehninger.

Provavelmente uma das histórias de caça às bruxas mais repercutidas, embora não a maior, seja a das bruxas de Salém. O ocorrido na pequena cidade isolada e religiosa de Massachusetts, em 1692, acusou mais de 150 pessoas de feitiçaria e tirou a vida de 19, enforcadas. Uma das sentenciadas e das peças principais no caso foi Tituba, conhecida também como “a bruxa negra de Salém”. Ao contrário do que é muitas vezes propagado, sua origem não era africana, mas sul-americana. Segundo a historiadora Elaine C. Breslow, Tituba e seu marido teriam sido raptados da comunidade onde viviam, na região da atual Venezuela, para servirem como escravos nos Estados Unidos.

O caso teve seu início com duas crianças na casa do Reverendo Samuel Parris, que começaram a agir de maneira estranha, com gritos, ataques epilépticos, sons sobrenaturais e atirando objetos com violência. Então, o religioso e o médico local concluíram que se tratava de uma possessão demoníaca. E Tituba, juntamente com Sarah Osborne e Sarah Good, uma idosa e uma mendiga, foram presas e acusadas de enfeitiçar as crianças. O mais surpreendente foi que, ao invés de negar, ela percebeu que os puritanos fariam de tudo e a torturariam até o fim para forçar confissões, mesmo que não fossem reais.

Assim, diante da corte, Tituba preferiu narrar uma história rica em detalhes que confirmava os terrores da cidade. Listou animais malignos, espíritos, encontros com um suposto homem alto e ter assinado o livro do diabo. Ela admitiu ter enfeitiçado as duas crianças e colocou-se em uma posição de vítima, afirmando a concepção puritana de que as mulheres tinham predisposição para o pecado. Em maio de 1693, Tituba foi absolvida. Sua habilidade de virar a situação ao seu favor ao mesmo tempo em que se submeteu aos seus opressores é admirada pela história até hoje.

Mima Renard

Mima Renard
Suposta aparência de Mima Renard. | Foto: Reprodução.

A caça às bruxas não se restringiu à Europa e aos Estados Unidos, e Mima Renard é provavelmente o caso mais famoso de morte por acusação de bruxaria no Brasil do século XVII. Nascida na França, emigrou para a Vila de São Paulo já casada com seu marido René. O casal jovem e estrangeiro chamava a atenção e não escapava dos olhares e boatos da região, que logo saíram do controle e se tornaram um problema. A beleza de Mima passou a se destacar e atrair outros pretendentes, mesmo ela sendo casada, e virou assunto entre as mulheres da vizinhança, que a viam como uma ameaça. Segundo relatos da época, foi um desses homens interessados na moça que acabou assassinando René.

Sozinha, viúva e em uma vila não mais tão acolhedora, a vida de Mima havia se transformado. As opções para uma mulher nessa condição eram poucas e ela não teve outra escolha a não ser se prostituir para sobreviver. E foi assim que as primeiras acusações de bruxaria começaram. Conforme os boatos, Mima usava sua beleza avassaladora para enfeitiçar os homens e controlá-los pela atração. Quando dois de seus clientes, casados, entraram em uma briga que resultou em morte, foi ela quem levou a culpa e foi denunciada.

No ano de 1692, Mima Renard foi levada até a paróquia local, onde foi julgada e condenada por supostos atos de bruxaria. Então, foi executada em uma fogueira pública, na mesma Vila de São Paulo onde chegou ao Brasil com seu marido pela primeira vez.

Catherine Deshayes

Catherine Deshayes
Catherine Deshayes, “La Voisin”. | Foto: Reprodução.

Na Paris do século XVII, conhecida como um dos grandes alvos da Inquisição, a figura de Catherine Deshayes foi uma das mais conhecidas e polêmicas. Desde muito nova, começou a atuar como vidente e quiromante, porém, mais tarde em sua vida, tornou-se conhecida por uma outra especialidade: a de aborteira. Dizem os relatos que Catherine mantinha para si os fetos indesejados e os estudava, ou ainda os misturava a ossos de animais e plantas, na tentativa de criar unguentos e supostas poções.

Por volta de 1670, quando Catherine, também conhecida como La Voisin, já tinha suas habilidades bastante desenvolvidas e era bem conhecida entre sua clientela, vários homens de Paris começaram a morrer misteriosamente. A preocupação da justiça aumentava à medida que as vítimas passaram a ser membros importantes do clero e da nobreza. Entretanto, foi no ano de 1677 que a situação recebeu mais atenção, ao surgir uma carta com supostas intenções de se matar o rei Luís XIV, escrita por uma de suas amantes. Não demorou muito para as acusações apontarem para Catherine, que foi presa.

Na casa onde morava, foi encontrada uma variedade de produtos para magias, como livros com símbolos, unhas, sangue menstrual, pedaços de órgãos humanos, ossos e fetos em potes de vidros. Em 1680, ela foi torturada por 24 horas seguidas, em uma última tentativa da justiça para que entregasse seus clientes e outras bruxas, porém ela negou e desdenhou dos torturadores até sua morte na fogueira. Reza uma lenda que, quando o vento soprou, o fogo onde ela foi queimada, a imagem de seu rosto apareceu marcada no solo.

Marie Laveau

Marie Laveau
Marie Laveau. | Pintura: Dominique Dugasse.

Suposta filha de uma escrava liberta com o prefeito da cidade de Nova Orleans, acredita-se que Marie Laveau aprendeu sobre vodu com a mãe e a avó durante a adolescência, religião popular onde moravam. Em 1819, casou pela primeira vez. Porém, a união durou apenas um ano, quando seu marido morreu de causas não explicadas.

Marie então, com o dinheiro da herança, abriu um salão de cabeleireiros e iniciou seu legado como a Rainha do Vodu de Nova Orleans. Juntamente com seus atendimento do salão, ela também realizava trabalhos como curandeira, leitura de cartas, abortos e supostos feitiços. A Rainha do Vodu ainda era descrita por moradores da cidade como alta, bonita e confiante, sempre usando lenços coloridos e brincos brilhantes. Aos domingos, ela realizava cerimônias religiosas nas praças da cidade.

Diferente da maioria das histórias de feiticeiras que se tornaram conhecidas, Laveau teve um fim pacífico. Foi realizado um grande funeral e homenagens foram publicadas nos jornais, com os dizeres: “uma mulher de grande beleza, intelecto e carisma, que também era piedosa, caridosa e uma hábil curandeira de ervas”.  Sua tumba, no cemitério de St. Louis continua a atrair visitantes, pois lendas contam que ao desenhar três cruzes na lateral, o espírito dela lhe concede a realização de um desejo. Há até mesmo alguns relatos de pessoas que avistaram Laveau mesmo após a sua morte.

bruxas mais famosas
Fachada de onde Laveau vivia, em Nova Orleans. | Foto: Reprodução.

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Por Leticia Negrello Barbosa – Fala! UFPR

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