Enchentes com níveis históricos, surto de dengue e crise migratória. O Acre decreta calamidade pública e o mês de fevereiro torna-se catastrófico para os acreanos, que pedem ajuda para o restante do País.
Crise no Acre
Cheias dos rios e inundações históricas
O aumento do volume de chuvas nas cabeceiras dos rios que cortam o Acre, como o Rio Acre e o Rio Juruá, desencadeia a cheia desses rios, que transbordam e inundam as margens. Essas enchentes atingem cidades que ficam na beira dos mananciais, como a própria capital do estado, Rio Branco, mas também Cruzeiro do Sul e Tarauacá.
Até o dia 23 de fevereiro, cerca de 130 mil acreanos foram atingidos pelas enchentes. A segunda maior cidade do estado, Cruzeiro do Sul, conta com o maior número de habitantes atingidos – cerca de 33 mil pessoas, 37% da população. Tarauacá teve 90% do município atingido, com mais da metade da população afetada. A capital Rio Branco teve 13,7 mil pessoas atingidas, e, segundo dados divulgados pelo Corpo de Bombeiros, 129 famílias estão desalojadas e outras 75 estão desabrigadas.
No dia 22 de fevereiro, o governo do Acre decretou calamidade pública em dez cidades, incluindo as três que foram citadas acima. O decreto é válido por 90 dias e autoriza a mobilização dos órgãos estaduais e convocação de voluntários para a assistência aos acreanos e para a solução dos problemas relacionados ao desastre.
Além de desabrigar e desalojar milhares de famílias, as enchentes também foram responsáveis pela falta de energia elétrica para mais de 10 mil clientes em quatro cidades. Segundo a Energisa, o desligamento da energia foi feito para evitar acidentes graves com a rede elétrica nos locais atingidos pelas inundações.
Surto de dengue
Do começo do ano até o dia 6 de fevereiro, o Departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) divulgou que o estado contabilizava 8.626 casos suspeitos de dengue, com 1.552 casos já confirmados. Em relação ao mesmo período de 2020, houve um aumento de 123% nas notificações.
As cidades com mais casos suspeitos são Rio Branco, Tarauacá e Cruzeiro do Sul. Na primeira semana de fevereiro, o prefeito da capital acreana declarou situação de emergência em Rio Branco, devido ao aumento do número de casos de dengue. Só em janeiro foram mais de 3.100 notificações na cidade, e o processo de borrifação de inseticida que combate o mosquito da dengue já foi iniciado.
A crise migratória no Acre
A tensão entre a fronteira do Acre com o Peru se agravou. Desde o ano passado, quando o país vizinho fechou as fronteiras para conter o avanço do coronavírus, os imigrantes ficaram impedidos de voltar para o Peru.
Assis Brasil, que conta com a maior taxa de contaminação de Covid-19 do estado, agora enfrenta essa crise migratória. A cidade já era rota terrestre de entrada para o Peru, mas, com as fronteiras fechadas, transformou-se em um abrigo para imigrantes barrados na travessia.
Esses imigrantes, de maioria haitiana, estavam sendo atendidos pela prefeitura da cidade, mas, no dia 14 de fevereiro, 400 deles ocuparam a Ponte da Integração, que liga os dois países. Três dias depois, eles invadiram a fronteira e entraram em conflito com a polícia peruana. Cerca de 60 imigrantes continuam acampados na ponte.
Em 2020, o governo federal deu um suporte financeiro de R$160 mil para Assis Brasil, que foi usado para a construção de um abrigo, entregue no dia 24 de fevereiro de 2021, para desocupar as escolas que estavam sendo utilizadas para esse propósito. Além disso, o governo do Acre também contribuiu com R$130 mil, utilizados para alimentação e apoio.
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Por Clarisse Claro – Fala! UFSC