sexta-feira, 4 outubro, 24
HomeMercadoA luta feminina na computação

A luta feminina na computação

Margareth Hamilton foi a profissional que desenvolveu, em 1960, o software usado para levar o homem até a Lua. Katie Bouman foi a cientista responsável, em 2019, pela reprodução da primeira imagem de um Buraco Negro. Ambas têm algo em comum: o seu amor e sua dedicação pela computação

Apesar disso, o número de mulheres na área ainda é baixo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente, as mulheres representam apenas 20% de profissionais na área da tecnologia da informação. Nas Universidades, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), as mulheres representam 15% de matriculados nos cursos de informática.

computação
Laura acredita que a computação é um espaço de luta. | Foto: Vitória Fagundes.

Dificuldades das mulheres na área da computação

Uma ação virtual denunciou, em 2015, casos de preconceito contra mulheres da área da computação. O projeto “Delete seu Preconceito” incentivou estudantes da informática a tirarem fotos com frases constrangedoras que já ouviram no trabalho ou nas salas de aula.

Quatro anos após a campanha, o preconceito segue presente na área da TI. As manifestações partem tanto de familiares que não aceitam a escolha do curso quanto de professores que subestimam a capacidade de alunas e colegas mulheres, questionando-as com piadas e ofensas.

A professora Taisy Weber, do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sentiu na pele o preconceito quando era aluna de Engenharia Eletrônica. Formada pela UFRGS em 1976, Taisy começou a trabalhar como programadora três anos antes. Estagiária em programação na Varig, foi avisada que não seria contratada pela empresa, pois mulheres não eram efetivadas na época.

mulheres na computação
Estudante de Ciência da Computação, Laura Grippa. | Foto: Vitória Fagundes.

A estudante de Engenharia da Computação da UFRGS, Maria Flávia Barrajo Tondo, já foi ignorada por colegas em trabalhos e era a única menina do grupo. “Teve um trabalho que fiz, eu falava e ninguém me escutava. Eu dava ideia e ninguém me dava bola ao que eu dizia. Parei, então, de falar e deixei eles fazendo o trabalho. Era uma atividade fácil, então não ia mudar em nada de conhecimento”, relata.

Laura Grippa conta que, após sair do curso de Arquitetura e Urbanismo, foi muito questionada do porquê de estar na área da computação. “Várias pessoas me perguntavam ‘ah, mas tu não sabes nem uma linguagem de programação, o que tu tá fazendo aqui?’. Eu respondia: ‘Oras, eu vim para aprender’, ou coisas que os outros me falavam como ‘ah, mas tu não gosta de anime. Não gosta de videogame, o que tu faz aqui?’”, expõe a estudante de Ciência da Computação da UFRGS.

As gurias e seus projetos

Devido à inserção baixa de mulheres na área da computação, foram criados projetos incentivando meninas a entrar na área da informática e unir as que já estavam no meio. A professora do Instituto de Informática da UFRGS, Renata Galante, diretora da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), acompanha o Projeto “Meninas Digitais”, que busca apresentar a área da informática às meninas estudantes de Ensino Médio e dos anos finais do Ensino Fundamental.

Maria Flávia e Laura são integrantes do Projeto de Extensão da UFRGS, “Programa.da Mulheres da Computação”. Formado em 2016 por alunas de Ciência e Engenharia da Computação, tem como objetivo estimular um ambiente mais acolhedor às mulheres da tecnologia.

As meninas estão nas empresas. Estamos crescendo e entrando em uma fase que é preciso continuar. Não queremos ficar dentro da Universidade, queremos fazer algo fora dela. É uma forma de dar à sociedade aquilo que ela nos dá. Devolvemos com eventos para crianças e adolescentes.

Conta Laura sobre o Programa.da.

Maria Cecília Corrêa, estudante de Ciência da Computação da UFRGS, por sua vez, participa do Programa de Educação Tutorial da Computação da UFRGS. O PET Computação é uma iniciativa do Ministério da Educação que apoia ações por maior diversidade na área da TI em conjunto com projetos de pesquisa e desenvolvimento de softwares e aplicações.

O que a computação representa para elas

Apesar do machismo na área da informática, Maria Cecília, Maria Flávia e Laura têm um grande carinho pelos cursos e acreditam que a computação tem boas perspectivas de futuro para as mulheres. Em um espaço dominado por homens, as mulheres buscam mostrar que a computação é um lugar para todos.

Laura acredita que a Ciência da Computação representa a luta pelo espaço, por ela e por suas colegas. Vê como ferramenta de trabalho, mas que não há uma representação feminina forte no meio.

Maria Flávia destaca que a Engenharia da Computação é uma mistura de amor e ódio. Gosta de pensar que, no futuro, ela será uma engenheira. “O curso, para mim, é uma aventura que já me desafiei. Entrei aqui, saí do interior, estou conhecendo pessoas novas e rompendo barreiras.”.

Para Maria Cecília, a Ciência da Computação representa futuro no mercado de trabalho e para a vida.

__________________________________
Por Vitória Fagundes dos Santos – Fala! UFRGS

ARTIGOS RECOMENDADOS