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Restauração Meiji: conheça o que foi e a importância histórica

A Restauração Meiji foi um evento político e cultural que transformou o Japão Feudal em um Estado Nacional Moderno, a restauração ocorreu no país entre os anos de 1868 e 1912 e durou de 3 de fevereiro de 1867 até 30 de julho de 1912. Essa fase foi extremamente importante para o processo de desenvolvimento do Japão, em que o país conheceu uma acelerada modernização, vindo a constituir-se como uma potência mundial. Assim, foi um verdadeiro período de transformações políticas, econômicas e sociais.

Desde o século XVII até 1868 o Japão vivia um sistema político um pouco diferente, o Xogunato, que era uma ditadura imposta pelos Xogum, um sistema político com a presença de um chefe militar que governava o Japão com poderes acima do Imperador. Uma das principais características do Xogunato foi a política de isolamento, que durou mais de 200 anos e colocava o Japão como um país economicamente isolado, com fechamento de portos e impossibilitado de ter relações econômicas com qualquer outro país.

Além disso, a entrada de estrangeiros no Japão e a tentativa dos japoneses saírem do país era proibida e podia levar até a pena de morte. Essa medida pode ser entendida como uma maneira do Japão tentar se proteger de processos de dominação que qualquer nação estrangeira pudesse exercer sobre a sua.

Restauração Meiji
A Restauração Meiji. | Foto: Reprodução.

Tratados desiguais antes da Restauração Meiji

No ano de 1853, chegou à Baía de Edo, atual Tóquio, capital do Japão, navios de guerra dos Estados Unidos liderada por Matthew Ferry. Se o Japão não aceitasse negociar com o país, a cidade iria ser bombardeada e os japoneses não teriam estruturas para resistir a esses navios modernos. Os Estados Unidos, como potência mundial, utilizaram da sua força militar naval  contra o Japão, um país menos desenvolvido, para forçar seus interesses. Os japoneses tiveram que aceitar e, com isso, assinaram o primeiro dos oito tratados desiguais impostos ao país, colocando o Japão em uma posição de inferioridade, concedendo parte da sua soberania e não recebendo os mesmos privilégios. 

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Keiki, o último xogum existente no Japão. | Foto: Reprodução.

O acontecimento foi visto como uma humilhação por diversos grupos, para evitar futuras afrontas, o país precisava de reformas e de modernização, o Xogunato, a maior força militar, focou a modernização das forças armadas, com a construção das primeiras fábricas de armamento e também compraram navios modernos para a marinha japonesa. Em 1867, o imperador Kômei morreu, naquela época, apesar da figura do Imperador ser simbólica, não detinha de muito poder, ele obedecia ao Xogum. Com a sua morte, defensores da extensão das reformas para outros setores da sociedade se aproveitaram do momento para contrariar os Xoguns. 

A era Meiji

Um novo Imperador, com apenas 14 anos de idade, Mutsuhito, chegou ao poder e ao Xogum por causa da pressão, que foi convencido a aceitar as reformas. Em 1868, houve a restauração do poder do Imperador no Japão, com um governo que durou até 1912, a chamada Era Meiji, em que o imperador se tornou o líder de um Japão centralizado e com novas reformas nacionais.

O fim dos xoguns da Era Tokugawa resultou em uma breve guerra civil interna, a Guerra Boshin (Guerra do Ano do Dragão), contra a facção Meiji Ishin, a qual buscava a modernização do país e lutava contra o Xogunato japonês. A guerra foi travada pelas forças do Domínio de Satsuma e Choshu e uma série de outros clãs menores contra forças, inicialmente, leais ao xogunato (esse grupo iria se desmembrar e se reformar diversas vezes até o fim da guerra), cerca de 10 mil pessoas morreram durante o conflito, em grande maioria os militares.

Era Meiji
Era Meiji. | Foto: Reprodução.

As reformas japonesas da Era Meiji são variadas tanto de caráter liberal, quanto conservadoras, o chamado sistema HAN, que mantinha a tradição feudal japonesa foi abolida, os chefes dos clãs tiveram suas terras confiscadas. Essa reforma permitiu a propriedade privada de pequenos agricultores e fez com que aumentasse a produtividade do campo, centralizou o poder e acabou com as autoridades feudais. Os antigos domínios dos clãs foram substituídos por 47 prefeituras, isso desenvolveu um sentimento de uma comunidade moderna, um nacionalismo que foi além das lealdades tradicionais e feudais.

Na religião, era incentivado o Xindoísmo do Estado, crença tradicional Japonesa, desde o século VIII com o objetivo de eliminar as características budistas e chinesas e fortalecer a natureza divina do Imperador e das ilhas japonesas. Isso levou dezenas de milhares de templos budistas a serem destruídos e houve uma grande perseguição e morte de milhares de seguidores. O cristianismo foi liberado, com o intuito de agradar as potências estrangeiras.

Nessa época, houve a criação de um Exército Nacional Japonês, todos os jovens serviram ao exército por 3 anos e ficariam 2 anos na reserva, com o apoio de militares estrangeiros e com o intercâmbio de oficiais japoneses para outros países. Vários samurais se revoltaram, pois foram abolidos com a criação do exército nacional e passaram a pagar impostos e perderam seus privilégios, como portar armas publicamente. 

O exército tinha grande importância para a nacionalidade e para o estado japonês, cujo lema consistia em “enriqueça o estado e fortaleça as forças armadas”. A educação foi ocidentalizada para incentivar que os japoneses fossem estudar no exterior, mas com modelos disciplinares locais. Já os clãs que articularam o fim dos xogunatos foram os maiores beneficiados, receberam como compensação pela perda das terras o direito de explorar a indústria e o setor financeiro. 

Foi durante a Restauração Meiji que ocorreu a Segunda Revolução Industrial e apenas em algumas décadas o país se tornou uma potência industrial e comercial. No século XIX, o país já estava fortalecido o suficiente para se livrar dos tratados desiguais, exigindo ser reconhecido como potência europeia que se tornou, já que conquistou o posto de estado moderno, rico e desenvolvido. Por outro lado, a Restauração Meiji estabeleceu as bases para a expansão imperialista do próprio país, invadindo e ocupando países vizinhos com violência, servidão e massacres, na Coreia e na China.

​O imperador Meiji tomou uma série de medidas para implantar mudanças, como a padronização do idioma japonês, de dialeto, e promover maior integração da população com o projeto de modernização e também o fim de determinados privilégios de classe. Além disso, houve uma reformulação do ensino que visava garantir a integração com o novo governo e implantar a obediência na população, o ensino foi utilizado como um canal de transmissão dos princípios nacionalistas e meio para implantar o culto à personalidade do Imperador, o chamado Xintoísmo do Estado.

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Por Lívia Ferreira de Almeida – Fala! Mack

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