Balé e música clássica são dois segmentos das artes que caminham juntos. Espetáculos bailarinísticos são acompanhados por trilhas sonoras que ajudam a dar vida às histórias contadas pelos movimentos de dançarinos, trilhas que tornaram-se referências mundiais. Canções de clássicos como O Lago dos Cisnes e O Quebra-Nozes são reconhecidas ao redor do mundo para além dos apaixonados e praticantes de balé. No entanto, nem sempre foi assim.
A união entre o balé e a trilha sonora
Por muitos anos, a música era apenas um plano de fundo na dança, um preenchimento do silêncio simultâneo aos movimentos de dança executados pelos bailarinos. Em 1876, o Teatro Bolshoi, sede da Academia Estatal de Coreografia de Moscou, na Rússia, resolveu inovar, ir além dos simples movimentos silenciosos e contar histórias. O Teatro encomendou a sinfonia de O Lago dos Cisnes, hoje o mais famoso e consagrado balé de repertório do mundo, com o músico Piotr Ilitch Tchaikovski. O que parecia uma simples encomenda musical do balé russo é, até hoje, referência para todos os segmentos da arte, sendo inspiração para cinema, teatro e literatura.
A primeira montagem do espetáculo não foi bem-sucedida, no entanto, em uma remontagem em São Petersburgo em 1895, depois da morte de Tchaikovski, com coreografia elaborada por Marius Petipa (considerado um dos mais importantes coreógrafos da história da dança) e Lev Ivanov, o espetáculo impulsionou o balé para o mundo, atingindo um público muito maior do que os amantes das artes cênicas. A música passou a ser parte primordial do espetáculo. Cada nota, sintonizada a um movimento, é um trecho importante da trama encenada. Com a obra de Tchaikovski, o balé uniu música, teatro e dança em um só espetáculo.
Histórias a partir da dança
Contar histórias a partir da dança, atualmente, é uma das maiores características do balé. A nova modalidade, o “balé de repertório”, possui variações e apresentações em centenas de países, muitas delas sendo parecidas uma às outras; com as histórias consolidadas, as encenações passaram a ser padronizadas nas chamadas “variações”, nos solos de dançarinos, e na dança em casal, o famoso “pas de deux”. A partir d’O Lado dos Cisnes, inúmeras outras peças tornaram-se melodias clássicas encenadas por bailarinos. Tchaikovski foi o precursor do movimento, com centenas de outros musicistas compondo balés posteriormente.
Ainda que a primeira apresentação de O Lago dos Cisnes não tenha sido um sucesso, Tchaikovski já era um músico de renome nas artes clássicas. A pedido, o compositor também escreveu as notas de mais dois balés de importância no mundo da dança, o infantojuvenil O Quebra-Nozes e o comovente A Bela Adormecida.
Depois de Tchaikovski, vieram Minkus, Delibes, Prokofiev e Adolphe Charles Adam, escrevendo as partituras de outros famosos repertórios como Don Quixote, La Bayadere, Romeu e Julieta, Coppélia e Giselle. Fato é que os compositores clássicos passaram a ser aliados das companhias de dança, escrevendo canções que envolviam as histórias contadas pelos bailarinos por intermédio da dança, atraindo diferentes públicos aos espetáculos graças a Tchaikovski.
O balé e as músicas que conhecemos hoje tiveram seu início com Tchaikovski. O músico fez com que a dança fosse vista com outros olhos e capaz de causar impacto e reflexão no espectador.
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Por Daniela Oliveira – Fala! PUC-SP