Joaquín Salvador Lavado Tejón, popularmente conhecido como Quino, foi quem criou Mafalda, personagem lembrada por seu perfil questionador e por seu inconformismo com os rumos que a humanidade tomava.
O cartunista, nascido em 17 de julho de 1932, na cidade argentina de Mendonza, é descendente de imigrantes espanhóis e desde bastante novo era inclinado para o desenho. O sucesso, todavia, somente o encontrou durante os anos 60, após cerca de uma década vivida em Buenos Aires e muita busca por empregos em veículos de comunicação na capital do país.
A revista Isto É Argentina foi a que abrigou, pela primeira vez, o humor gráfico de Quino. Posteriormente, ele publicou seu livro de estreia, em 1963, chamado Mundo Quino, no qual haviam quadrinhos mudos.
Mafalda veio no ano seguinte, contudo, a intenção inicial de seu autor não era que ela servisse ao propósito que felizmente se concretizou, o de tecer críticas sociais de extrema relevância; em total oposição, a pequena garota foi criada para uma campanha publicitária de certa marca de eletrodomésticos que acabou por nunca ser lançada. No dia 29 de setembro de 1964, a personagem fez sua primeira aparição na revista Primera Plana.
A obra de Joaquín não demorou muito, depois da apresentação de sua mais conhecida criação, a alcançar sucesso internacional, sobretudo na América Latina e Europa. Em consonância, ele, porém, não foi poupado da censura, pois diversos Estados ao redor do mundo não estavam nem um pouco satisfeitos com a difusão de suas ideias, por serem demasiadamente críticas, e, com certeza, ameaçadoras à estrutura ditatorial.
O Brasil, que passava por um período caracterizado pelo abuso de poder, a ditadura militar, a Espanha, também consumida por um líder de extrema-direita, Franco, a Bolívia e o Chile, comandado por Pinochet, são exemplos de países nos quais a obra de Quino foi ou proibida ou tida como imprópria.
Sobre essa temática, o artista afirmou que já era costume ser silenciado, que durante toda sua vida ouviu que piadas contra a família e militares não deveriam ser feitas; ele, ainda assim, as ousava fazer, com a astúcia que lhe era característica.
Quino e o fim da Mafalda
Após prósperos nove anos de histórias de Mafalda, o humorista decidiu não dar continuidade a elas, e, consequentemente, as encerrou com a publicação da última tirinha da série. Segundo ele, a personagem estava se convertendo em um carimbo, uma marca, o que contradizia seus princípios, e ele também se sentia limitado, preso por desenhar e trabalhar com uma única figura.
Quino passou a produzir cartuns diversos após a finalização de seu projeto mais conhecido e, em 1976, por conta da violenta ditadura instaurada na Argentina, mais uma democracia destruída pela Operação Condor, ele, juntamente a sua esposa, se exilou em Milão.
O que sucedeu foram diversas mudanças entre as cidades europeias de Paris, Madrid e Milão, a conquista por parte dele da cidadania espanhola e, por fim, o retorno, pós-ditadura, para Buenos Aires. O cartunista teve uma aposentadoria involuntária, pois começou a sofrer de uma doença que afetava fortemente a visão e não foi capaz de seguir desenhando.
O desenhista, mesmo que fora de atividade, não foi esquecido. Em 2009, uma escultura de Mafalda foi inaugurada, que é, atualmente, um dos principais pontos turísticos da capital Argentina. Quino faleceu dia 30 de setembro de 2020, aos 88 anos, fato que trouxe grande pesar para todos impactados por suas obras: muitos cartunistas brasileiros se manifestaram de luto e gratos pela tamanha contribuição do argentino.
O cartunista deixou um legado de forte luta política em prol da humanidade e em busca sempre do progressismo. Não há quem tenha contato com suas obras sem ser tocado por elas.
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Por Maria Fernanda Maciel – Fala! Cásper