Um grupo que está passando por mudanças por conta da pandemia do novo coronavírus é o dos atletas que treinam para modalidades específicas, como triathlon, corrida e até competições escolares. Por conta do isolamento social, jovens e adultos criaram uma nova rotina de treinos e essa mudança tem prejudicado alguns e fazendo com que outros percebam o quão importante é não perder o ritmo.
Esses atletas estão com competições pagas canceladas ou adiadas por conta da pandemia, mas continuam treinando dentro de casa para não deixar o rendimento cair tanto. Como essa adaptação está ocorrendo?
A rotina de atletas na quarentena
Uma das soluções para quem tem equipamentos é separar um espaço para treinar, como mostra o atleta Ícaro Castello Branco, que montou uma academia improvisada dentro de sua casa.
Trabalho longe de casa há um ano e depois que comecei, meus treinos foram prejudicados. Chegava só à noite, cansado e não treinava. Então, com o isolamento, eu estou treinando mais do que antes, mas se eu não tivesse a esteira em casa, seria um problema.
“Além de reservarmos esse espaço, minhas filhas treinam junto comigo e minha esposa. Toda noite nos reunimos e cada um faz um pouco de atividade física”, ele acrescenta.
Priscila Castello Branco, ao contrário do marido, sentiu que seu rendimento caiu por conta do confinamento. “Vai de pessoa para pessoa. Meu rendimento caiu, eu gosto de uma mudança no cenário para me estimular”.
Ela conta que sua motivação para treinar está atrelada às aulas feitas através da Internet, mas que já eram realizadas na forma presencial.
Além disso, ela afirma que, se ocorrerem, não realizará as provas que foram adiadas para o segundo semestre, justamente pelo fato de serem provas pesadas e o seu preparo não estar ocorrendo do modo adequado.
Priscila coloca a importância de manter o ritmo, sem exageros, para, principalmente, cuidar da saúde mental nesse período difícil que estamos vivendo.
Houve uma mudança notável também para os triatletas e isso é descrito por Valter Fabiano Guion e seu filho João Vitor Tribst Guion. Os dois treinavam na academia todos os dias e agora estão adaptando seus exercícios para dentro de casa.
João, que treina para competições de triathlon desde 2018, quando tinha 14 anos, comenta sobre como o isolamento modificará seu rendimento.
Eu sinto que meu rendimento depois da quarentena vai acabar caindo um pouco. Por mais que eu esteja conseguindo treinar a corrida e a bicicleta, não é com a mesma intensidade e a natação eu não consigo mais treinar.
Valter conta que as competições foram todas adiadas e também fala sobre essa questão do declínio no rendimento.
Notei que tínhamos melhorado no começo do ano e agora é certo que o rendimento caia um pouco, vai levar um tempo para voltarmos. O treino em casa não é tão efetivo quanto a academia, mas ele funciona bem, na medida do possível.
A dica que ele dá é adaptar os exercícios de acordo com o espaço que você tem em casa e usá-lo ao seu favor. Além disso, procurar exercícios que movimentem mais de uma parte do corpo.
Estamos improvisando exercícios de musculação. Como não temos pesos em casa, usamos sacos de arroz e feijão. Com essa mudança, conseguimos fazer mais séries de exercícios funcionais, de calistenia e outros tipos de exercício que não estávamos tão acostumados a fazer. Outra coisa que estou fazendo é controlar a alimentação, já que estou perdendo menos energia agora. O ruim disso é que acabo perdendo massa muscular.
Valter ainda propõe outras alternativas: equipamentos adaptáveis, citando o rolo de treino, um suporte que permite que você pedale sem sair do lugar na sua própria bicicleta e também a possibilidade de realizar competições on-line, as quais os atletas podem realizar em suas casas.
João complementa dizendo que está fazendo o máximo que pode para que essa mudança nos treinos durante esse período não afete seus tempos de uma forma tão negativa quando as competições retornarem.
Quem mora no exterior e treina para conseguir bolsas na faculdade também está sentindo uma mudança negativa por conta da restrição das atividades. Vinicius Casagrande, brasileiro de 17 anos, reside no estado da Flórida, nos EUA. Ele é jogador de basquete e fala um pouco sobre como está se adaptando.
Treinava todos os dias da semana com meu treinador por 3 horas e depois ficava mais tempo na quadra. Agora, eu crio meu treino, adaptado ao que já realizava. Estou fazendo diferentes tipos de exercício e consigo focar mais na parte física do que na de habilidade.
Vinicius diz que é muito importante continuar os exercícios e tentar melhorar, pelo fato de que, ao ficar parado, você não fica somente estagnado. O que acontece é a sensação de ir para a direção oposta e isso é extremamente desestimulante depois de tanto progresso.
Sinto que, principalmente, a minha resistência caiu muito, estou me cansando muito mais rápido.
Seu maior incentivo é o amor pelo esporte e a concorrência pela vaga na faculdade. Ele se forma em junho de 2021 e a preparação para conseguir as bolsas já começou. Sua preocupação, agora, é se manter em forma para que, quando tudo retorne, ele possa alcançar esse objetivo com êxito.
Atletas de todas as modalidades estão fazendo o que podem para unir as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) aos seus treinos. As atividades físicas são benéficas tanto para a saúde física quanto a mental. E, ainda mais para quem já era muito ativo antes dessa grave pandemia que estamos vivendo, é de extrema notoriedade seguir com essas práticas de forma alternativa, para que quando as competições retornem, esses atletas consigam realizá-las sem tantas perdas.
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Por Manuela Montez do Rio – Fala! Cásper