Nesta última janela de transferências do futebol brasileiro, que se encerrou no dia 30/08, o mercado da bola foi muito movimentado e alguns clubes fizeram grandes contratações. Entre eles, Corinthians e São Paulo acumulam dívidas, o que levanta um questionamento sobre seu futuro financeiro
Entre o dia primeiro do mês de agosto até o dia 30, período de abertura da última janela de transferências de 2021, grandes contratações foram concretizadas. Equipes como Atlético-Mineiro, Corinthians, Flamengo, Grêmio e São Paulo contam com os principais reforços para o segundo turno do campeonato brasileiro. Essas contratações, no entanto, indicam apenas um acúmulo de dívidas que será a causa de uma futura crise.
O futuro financeiro dos clubes que contrataram na última janela
O Galo, que dedicou a temporada de 2021 para fortalecer o elenco e formar uma boa equipe, anunciou no dia 14 a contratação histórica de Diego Costa, que animou muito os torcedores da massa atleticana. No Flamengo, os jogadores Adreas Pereira e Kenedy assinaram contrato com o rubro-negro. O Grêmio acertou a contratação de Douglas Costa, que já atuou pela equipe como titular. Em São Paulo, o Corinthians trouxe 4 reforços de peso para o elenco: Renato Augusto, Giuliano, Roger Guedes e William; enquanto o tricolor paulista anunciou Gabriel Neves e a volta de Calleri.
Apesar da empolgação dos torcedores com os reforços de peso, a situação com as dívidas preocupa alguns desses clubes. Nos últimos anos, equipes de muita tradição vêm passando por fortes crises financeiras que refletiram no desempenho dentro de campo. Entre o atraso de salários, o envolvimento de dirigentes com a justiça e as contratações de jogadores de alto custo, as pendências financeiras aumentam.
Enquanto dirigentes gastavam mais do que podiam em suas gestões, pensando apenas no curto prazo, clubes como Botafogo, Vasco e Cruzeiro acumularam dívidas ao longo dos anos, que influenciaram na sua drástica decadência no futebol brasileiro. Entre as péssimas direções e o aumento da crise, o Vasco foi rebaixado 4 vezes, Botafogo 3 vezes e o Cruzeiro, que foi para a segunda divisão em 2019, não retornou à série A, correndo o risco de cair para a terceira divisão nesta temporada.
Os reforços e as despesas do Corinthians
Desde a construção do seu estádio, hoje nomeado Neo Química Arena, o Timão, além de acumular dívidas, sofre com o pagamento da sua casa, que, segundo estudos recentes, pode estar na casa dos R$269 milhões. Em 2015, quando foi campeão brasileiro, já sofria com o atraso de salários e terminou a temporada com um prejuízo de R$97 milhões. Esse valor aumentou durante os anos seguintes e, no fim de 2019, foi registrado um déficit de R$177 milhões, o maior rombo financeiro da história do clube.
No último ano do mandato de André Sanchez (2020), a dívida do Corinthians aumentou em 47%, que resultou no fim desta temporada com R$982,8 milhões em despesas. Mesmo com o início do primeiro mandato de Duílio Monteiro Alves, em janeiro deste ano, a situação financeira do clube continuou se deteriorando. De acordo com os balancetes publicados pelo Corinthians, a folha salarial do clube aumentou e o fundo de garantia dos funcionários e jogadores não é pago desde 2019.
Mesmo assim, o clube investe na contratação de jogadores de fora. Entre eles, o principal reforço é o jogador Willian, que encerrou seu ciclo no Arsenal e voltou para o Timão. O jogador assinou o contrato de duas temporadas e aceitou o salário de aproximadamente R$800 mil por mês, que pode aumentar diante do plano de marketing que o clube propôs ao jogador. Enquanto isso, Roger Guedes, também novo reforço da última janela de transferências, assinou por cerca de R$1 milhão mensais.
O que se questiona é o risco desse investimento diante da capacidade financeira do clube, que no momento é incerta. O clube pode alcançar conquistas dentro de campo, mas algumas pendências financeiras continuarão se estendendo para o seu futuro.
A situação financeira do São Paulo
No tricolor paulista, o balanço patrimonial também vem se tornando um problema nos últimos anos. O São Paulo não consegue manter um equilíbrio saudável entre o faturamento e o endividamento. Na verdade, essa relação é a pior já vista nos últimos 20 anos, uma vez que as dívidas representam praticamente o dobro da arrecadação. Ainda por cima, o clube perdeu muito com o arrecadamento em bilheteria diante do contexto pandêmico.
Na gestão de Leco, ex-presidente do clube, o acúmulo de dívidas a serem pagas em 2021 aumentou gradativamente na tentativa rápida de conquistar títulos, o que não ocorreu. No fim de 2020, foi registrado que o clube devia cerca de R$119,6 milhões para instituições financeiras, que financiaram empréstimos, além de mais cerca de R$22,3 milhões para empresários. Sobre os patrocínios, de 2016 para cá houve uma queda de R$19 milhões, restando como alternativa para suprir algumas dívidas a venda de jogadores como Antony, David Neres e Gustavo Maia.
Além disso, o tricolor ainda encontra dificuldades para pagar em dia o salário dos seus jogadores. Daniel Alves, o jogador que possui o maior salário no elenco, alega nos últimos tempos que o clube estaria lhe devendo R$11 milhões e, após conquistar a medalha de ouro pela seleção olímpica, disse: “O São Paulo falhou muito comigo”.
Mesmo diante dessa situação, o São Paulo acertou a contratação de Calleri e Gabriel Neves, jogadores de salários relativamente altos, que agora estão na folha salarial do clube. Ainda que sejam bons reforços para a temporada, o atual presidente do tricolor, Julio Casares, tem o desafio de tentar suprir as despesas, que podem contribuir para uma possível futura crise.
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Por Murillo Bedoschi – Fala! Cásper