Seleção masculina de vôlei tem desempenho inconstante e fica sem medalha nos Jogos Olímpicos pela primeira vez desde Sydney 2000
A grande expectativa para o maior evento esportivo do ano são as conquistas de medalhas. E pensando nisso, muitos atletas e equipes são colocados como favoritos, imaginando que as probabilidades de sucesso para estes sejam maiores. Mas nem sempre isso significa que estas medalhas dos Jogos Olímpicos estejam garantidas.
O vôlei brasileiro sempre foi extremamente forte, independentemente do campeonato. Seja na quadra ou na areia, os nossos atletas ficaram acostumados com o lugar mais alto do pódio. Na Rio 2016, o Brasil conquistou medalhas em simplesmente quase todas as modalidades do esporte. Um ouro no vôlei de quadra masculino, um no vôlei de praia e uma prata no vôlei de praia feminino.
Seleção masculina de vôlei nas Olimpíadas
Para Tóquio, os comandados de Renan dal Zotto chegaram com o título da Liga das Nações, ocorrida entre maio e junho do mesmo ano, na mala e sendo uma das maiores esperanças de medalha de ouro para o Brasil. Uma seleção experiente, com jogadores vivendo fases excelentes e com a volta do técnico que, por muito tempo, ficou afastado das quadras, após ter contraído o coronavírus e ficar internado por conta de complicações em seu estado de saúde.
E se a primeira impressão é a que fica, a seleção masculina estava muito bem com sua torcida no começo das Olimpíadas. A equipe começou vencendo facilmente a Tunísia por três sets a zero, com atuação segura e sem levar nenhum susto. Para a segunda partida, o caminho já foi mais complicado. O jogo era contra os rivais argentinos e o Brasil começou perdendo. Dois sets a zero e o confronto parecia definido, mas uma reação fantástica fez com que a partida fosse empatada e, no tie-break, a vitória veio em um dezesseis a quatorze. Apesar do aspecto moral ter subido após uma virada contra uma seleção rival, as primeiras desconfianças começavam a surgir.
E então, na terceira partida da fase de grupos, veio o primeiro choque de realidade. Uma derrota por três a zero expôs quem seria a maior ameaça ao Brasil: o Comitê Olímpico Russo. A seleção foi completamente dominada, anulada e impedida de criar esperanças na partida. Os russos, muito fortes no bloqueio e no saque, utilizaram suas armas principais e deram uma aula para a equipe de Renan. Nenhuma bola estava perdida para os rivais e, inspirados pelos excelentes Mikhaylov e Volkov, o Comitê ganhou com tranquilidade.
Já nas duas partidas finais da primeira fase, mais duas vitórias, contra França e Estados Unidos. Os americanos não deram muito trabalho, a partida foi ganha por três sets a um. Mas os franceses não facilitaram. Ngapeth que teve um campeonato fantástico, levando a França ao ouro e sendo coroado como melhor jogador do torneio, conduziu seu país durante a partida, que foi decidida no tie-break, vinte a dezoito. Segunda colocação no grupo, mas instabilidade na maioria dos duelos. O Brasil, agora, iria enfrentar o Japão nas quartas.
E então, mais uma vitória com vantagem fez com que as esperanças crescessem. Lucarelli e Leal foram bem e a seleção ganhou por três sets a zero, com os japoneses assustando apenas no segundo set, mas sem eficiência. Embalados pela vitória, os brasileiros partiam para o que seria uma dura derrota nas semifinais das Olimpíadas.
Semifinais
Enquanto uns preferiam acreditar, outros já imaginavam o que poderia ser a segunda partida contra o Comitê Olímpico Russo. Uma semana não era tempo suficiente para aprender a jogar contra uma seleção que havia anulado qualquer possibilidade de vitória do Brasil em um primeiro confronto. O início da partida chegou até a ser esperançoso, com vitória brasileira no primeiro set, russa no segundo e então no terceiro set, o momento mais absurdo, desesperador e inacreditável da seleção brasileira nos Jogos de Tóquio.
O Brasil chegou a abrir oito pontos de vantagem para os russos, seria mais um set ganho e o caminho para a vitória e, consequentemente, a final. Mas a seleção se perdeu. Derrota na fase de grupos, potência russa, Mikhaylov, não se sabe o que fez com que os jogadores perdessem a concentração e o foco, mas o Brasil conseguiu deixar o set que parecia estar ganho, escapar e, logo depois, também a partida.
Então, restou a disputa pelo bronze, que ainda assim seria um bom resultado, afinal, é uma medalha. Mas de novo o resultado foi negativo. Se na primeira fase a Argentina tinha deixado a vitória escapar por pouco, dessa vez, Conte, Bruno Lima e companheiros não desperdiçaram a oportunidade. Foi mais um jogo muito disputado, com os ‘hermanos’ saindo na frente, tomando a virada e, depois, virando novamente. O vôlei masculino brasileiro terminava as Olimpíadas sem uma medalha pela primeira vez desde os jogos de Sydney em 2000, quando caiu antes das semifinais.
Desafios nos Jogos Olímpicos
O desempenho brasileiro em Tóquio foi fraco. O técnico Renan dal Zotto não soube explorar o elenco que tinha em mãos e os jogadores que não estavam entre os seis titulares dificilmente tinham muitos minutos em quadra. Douglas entrou com o peso de ter feito sucesso na internet e precisar corresponder o mesmo nos jogos. E ele não decepcionou, era quem vinha do banco e ficava mais minutos na quadra, jogando bem e na maioria das vezes ajudando o Brasil a sair de situações complicadas vividas nas partidas.
E enquanto alguns titulares como Wallace e Maurício erravam seguidas bolas em quadra, o MVP da Copa do Mundo de Voleibol Masculino, Alan, entrava após um ponto e saía logo na sequência, ciclo vivenciado por outros como Isac e Cachopa.
Já Lucarelli e Leal, dificilmente decepcionavam. Com atuações de gala, principalmente do primeiro, o Brasil era muitas vezes salvo pelos dois. Thales recebeu muitas críticas, mas a maioria vinha dos que não entendem muito de vôlei. O líbero realmente teve momentos ruins, mas as cobranças eram exageradas. Bruninho também não viveu sua melhor competição, mas era homem de confiança e raramente era substituído.
O Brasil terá um longo caminho até as Olimpíadas de Paris e espera-se que mudanças sejam feitas. Tóquio não trará boas lembranças para esta geração e, caso a seleção não consiga se reinventar, seja com o mesmo técnico ou não, e trazer de volta o vôlei que estávamos acostumados a ver, a capital francesa também não será bem lembrada por nós.
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Por Gustavo Matheus Caetano – Fala! Cásper