Antecipada pelo Globoplay, Todas as Mulheres do Mundo surge em meio ao caos pandêmico, e a necessidade de se desligar das notícias mórbidas.
Maria Alice, Adriana, Elisa, Laura, Martinha, Renata, Pâmela, Gilda, Sara, Natália, Dionara & Pink são todas as mulheres desse mundo escrito em parceria por Janaina Fischer e Jorge Furtado, e moldado por Patricia Pedrosa e seu olhar descomunal para a sensibilidade das paixões pós-modernas.
Crítica Todas as Mulheres do Mundo
Baseada na obra homônima de Domingos Oliveira, Todas as Mulheres do Mundo é uma releitura contemporânea da vida e obra do cineasta. A narrativa acompanha Paulo (Emilio Dantas) e suas paixões, em outros olhos, a narrativa pode acompanhar também Maria Alice, a eterna paixão, e seus reflexos na vida do “mulherengo” (termo nunca usado na série), Paulo.
Com um ritmo próprio, a série encanta e nos suga para todas as desventuras apaixonadas do protagonista. Percebemos a passagem do tempo por meio de diálogos entre as personagens e algumas festas comemorativas, o que torna a perspectiva de linearidade uma charada carismática para o espectador, fazendo com que cada episódio seja único para o cronismo da obra.
Dividida em doze mulheres, cada qual com sua peculiar interpretação, vemos Paulo ser transformado. Percebemos no começo – e algumas vezes no final -, comportamentos infantis e machistas do protagonista que, a partir das novas experiências amorosas, se reconstrói aos poucos; o pesar é o pouco tempo que as atrizes possuem em tela nas suas personagens, apenas Maria Alice (Sophie Charlotte) e Laura (Martha Nowill) possuem uma saga visível dentro da obra.
Cabe também uma reflexão sobre as escolhas das atrizes feita por Patrícia Pedrosa, que não se preocupou com a fama passada das atrizes, e sim com as personalidades de cada uma das mulheres desejadas para a série.
Uma grande diferença com o filme é a existência de Cabral (Matheus Nachtergaele), que pode ser entendido como a versão madura e “velha” de Domingos Oliveira. Cabral é quem já vivenciou grande parte dos prazeres da vida, arrependeu-se, sofreu, gozou e, agora com um olhar um pouco niilista, tenta aconselhar seus companheiros.
Mas nem só de boas atuações se faz a obra, as cores “pasteis” que permeiam as cenas, os cenários onde cada personagem se enquadra, é um espetáculo a parte, com close nos olhares para trazer um visão intimista dos amores e sentimentos.
Somando a todo o cuidado da diretora, a trilha sonora arrepia, com Elis, Marisa, Elza, Alcione, Ana, Rita, Bethânia, Nara, Céu, Agnes e alguns poucos vocais masculinos, a escolha das músicas em cada momento das relações de Paulo, como um plano de fundo engendrado nas músicas.
Não cabe spoiler ou referências que deixem evidente o desfecho da série, contudo, uma conclusão nietzschiana seria o eterno retorno e o fim eminente fundidos, acrescentando um sutil toque Moraesiano de “eterno enquanto dure”, pois já foi dito no decorrer da obra, “o amor não dá pé” – é um salto no desconhecido.
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Por Pedro Oliveira – Fala! UFMG