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Política no divã da psicanálise: viés filosófico de Foucault e Agamben

Política no divã da psicanálise: O psicanalista Marcus Teshainer discute a teoria e a prática da psicanálise pelo viés filosófico de Foucault e Agamben

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MARCELO ARCHETTI: CANTOR, COMPOSITOR, ADVOGADO E ESTUDANTE DE PSICOLOGIA

Os consultórios dos psicanalistas estão cheios. As pessoas que chegavam para resolver seus traumas de infância, dificuldades de relacionamentos, problemas não resolvidos e questões profissionais agora chegam com outra angústia: não estão conseguindo lidar com as dinâmicas políticas que invadiram todos esses aspectos da vida explicitamente.

Freud sempre olhou para o social, o político e o religioso como elementos a serem considerados na formação dos sintomas psíquicos. O coletivo está presente nos modos de adoecimento”

explica o psicanalista Marcus Teshainer.

Palavras como “polarização”, “fascismo”, “comunismo”, “liberalismo”, “governo”, entre tantas outras, aparecem onde as questões eram íntimas e, por muitas vezes, acolhidas da mesma forma que se manifestavam, entre quatro paredes.

Porém, se engana quem acha que é melhor procurar um sociólogo no lugar de um psicanalista, pois as ciências humanas já estavam conversando e a Biopolítica chegou à psicanálise para responder os anseios da contemporaneidade.

O psicanalista precisa estar atento aos modos como o coletivo produz subjetividades. Este é um dos alertas que se pode tirar ao ler Foucault.”

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Biopolítica aplicada à psicanálise

Teshainer explora o conceito de biopolítica aplicado à psicanálise. A partir do estudo de Agamben e Foucault, combinados com sua relação de longa data com Freud, o psicanalista se propôs ao estudo e à prática clínica da psicanálise que não se configure um instrumento de poder e que não produza uma forma de vida adaptada à essas demandas.

Seu pensamento se afasta das polarizações entre direita e esquerda, bom e mau, nós e eles que predominam nos discursos sociais, que ocupam a mídia e que chegam ao seu divã, uma das finalidades da análise é que o sujeito possa integrar ativamente o Comum sem ser submetido às influências da maquinaria de poder. Poder ser ético ao seu desejo, o que inclui não só a vida pessoal, mas a vida prática e social.

Desta forma, ele descreve em seus trabalhos acadêmicos o caminho intelectual de quem discorda da determinação que existe uma forma de vida a ser vivida, uma receita ou um padrão, mas que a psicanálise, tal qual a medicina, a educação e outras ciências.

Deve-se colocar em prática o pensar do dia a dia comunitário diante das necessidades e capacidades dos indivíduos diante do grupo, afastando-se das imposições dos métodos de gestão e adequação ora predominantes, tão comuns nos proliferação do mercado de Coachs que visam uma adaptabilidade em benefício da produção, e não do desejo e da singularização.

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Sobre Marcus Teshainer

Psicanalista apaixonado pela obra de Freud e suas interpretações, pela sua história e como ninguém é de ferro, pelas fofocas em torno dos seus pensadores, as disputas políticas, as brigas teóricas e tudo o mais que dá cores de afeto às relações humanas.

Mestre e doutor em sociologia pela PUC SP ao lado de Caterina Koltai, com quem encontrou um diálogo sobre o papel social e político da psicanálise. Apaixonado por música, literatura e arte, descobriu em seu pós-doutorado que não é sem tudo que se pode pensar o psicanalítico e o político.

Neste caminho encontrou a obra do filosofo italiano Giorgio Agamben com a qual vem colocando em questão os limites do pensamento psicanalítico nos contornos da biopolítica que transforma qualquer fazer humano uma obra de importância política.

Para conferir todo essas passagens, no bom sentido benjaminiano, publicou três livros, “Psicanálise e Biopolítica – contribuições para a Ética e a política em Michel Foucault”, “Política e desumanização: aproximações entre Agamben e a Psicanálise” e “O Gesto sem fim – notas de um psicanalista lendo Agamben” e organizou o livro “Biopolítica & Psicanálise – vias de encontro.”

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