Enquanto as leis que proíbem o uso de canudos de plástico se multiplicam no Brasil e no mundo, o isolamento social pode nos fazer perceber o verdadeiro risco ambiental de todo o lixo que produzimos
No dia cinco de julho de 2018, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, sancionou a lei de 2015 que proíbe o uso de canudos de plástico em estabelecimentos comerciais, tornando a capital carioca a primeira cidade do Brasil a banir os “vilões ambientais”. Desde então, mais de trinta cidades já seguiram o exemplo do Rio, incluindo a capital de São Paulo, Goiânia e o Distrito Federal. Fora do Brasil, países como Escócia e o Reino Unido também criaram leis para bloquear a distribuição e o consumo de canudinhos de plástico.
De fato, são muitos os benefícios que essa lei traz para o meio ambiente: o canudo machuca animais marinhos, entrando em suas narinas ou sendo ingerido por eles, e o plástico utilizado para sua fabricação, ao se decompor, libera químicos cancerígenos e causadores de outras doenças, além de sujarem a água.
Canudos de plástico não é o único inimigo do meio ambiente
O que vale mencionar também é que os canudos de plástico representam somente 0,03% do lixo plástico no mundo, segundo dados do canal americano Bloomberg. Os itens mais encontrados nas praias são, na verdade, bitucas de cigarro, garrafas e sacolas (Relatório de Limpeza Costeira de 2017 da Ocean Conservancy). Os canudos chegam em sétimo, com menos de um quarto da quantidade de bitucas.
Agora, com o uso em massa de máscaras cirúrgicas pela população mundial, outro problema surge: como descartá-las. Já no dia 12 de março desse ano, antes sequer da pandemia ser anunciada pela OMS, o grupo de conservação marinha OceansAsia já denunciava que máscaras faziam uma “trilha de lixo” nas praias de Hong Kong.
A foto do fundador do grupo segurando esse lixo viralizou na Internet junto com o aviso de grupos ambientalistas que ele apresenta grande risco à vida marinha.
A expectativa era, segundo Dune Ives, diretora-executiva da Lonely Whale, organização que liderou o movimento de proibição de canudos em Seattle, que o debate abrisse espaço para mais discussões sobre o meio ambiente e que incentivasse a todos a se perguntarem sobre seu consumo de plástico.
A realidade, porém, não vem se mostrado tão promissora. Somente no dia 20 de dezembro do último ano foi encaminhado a Câmara dos Vereadores o projeto de lei que proíbe também o uso de copos de plástico em restaurantes, bares e outros estabelecimentos do tipo.
O Brasil é o 4o maior produtor de plástico, atrás dos EUA, da China e da Índia, e um dos que menos o recicla, perdendo, assim, 5,7 bilhões de reais. Na Índia, há uma montanha de lixo que quase ultrapassa o tamanho do Taj Mahal. E nenhuma medida concreta parece estar sendo tomada.
Um dos projetos mais significativos voltado para o que se pode fazer pelo ambiente é o “Menos um Lixo”, idealizado pela ativista e comunicadora brasileira Fe Cortez. A empresa produz conteúdo digital de conscientização ambiental e copinhos reutilizáveis de silicone portáteis 100% produzidos no Brasil, com responsabilidade ambiental, livres de BPA (elemento químico nos plásticos nocivo à saúde) e metais pesados.
Só no Brasil, são consumidos 720 milhões de copos descartáveis por dia e o uso de copos reutilizáveis pouparia 1500 toneladas de resíduos diários, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos (ABRELPE).
A quarentena também pode vir para ajudar na questão ambiental para além da diminuição da emissão de gases estufas: apesar do aumento de 12% no lixo comum, a cidade de São Paulo teve queda de 55% na quantidade de lixo e aumento de 25% na coleta seletiva (dados da gestão do prefeito Bruno Covas).
Em alguns lugares do Brasil, já se vê uma mudança mais sólida na questão do plástico, como no estado de São Paulo, onde a lei que proíbe a distribuição de sacolas plásticas em mercados entrou em vigor recentemente, no dia 16 de junho de 2019. Mas a mudança precisa ser imediata. Até 2050, o oceano terá mais plástico que peixes. Humanos ingerem milhares de microplásticos por ano. A causa ambiental do lixo é de interesse de todos e precisa ser valorizada, antes que percamos a nossa biodiversidade, nossos recursos e, ultimamente, nossa qualidade de vida.
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Por Camila Sant’Anna – Fala! UFRJ