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Opinião – Uma Eurocopa para o mundo todo ver

Mesmo com a pandemia, torneio da Eurocopa teve grandes jogos e público nos estádios

A Eurocopa 2020, que foi realizada entre 11 de junho e 11 de julho de 2021 devido ao coronavírus, reuniu as melhores seleções europeias em jogos espalhados por todo o Velho Continente. Se nos acostumamos a ver mais de um país sediar a competição, como ocorreu em 2000 (Holanda e Bélgica), 2008 (Áustria e Suíça) e 2012 (Polônia e Ucrânia), a edição de 2021 trouxe surpresas. Dessa vez, foram 11 sedes em países diferentes, o que fez com que algumas seleções tivessem que viajar mais do outras.

Os países que receberam partidas foram Inglaterra, Holanda, Azerbaijão, Escócia, Itália, Espanha, Rússia, Hungria, Romênia, Dinamarca e Alemanha. E mesmo com medidas de restrição em alguns países, os fãs do futebol foram aos estádios para torcer por seus países, algo que há tempos não vemos por causa da Covid-19. Apesar de trazer mais emoção para os confrontos, muitos torcedores não respeitaram as instruções para usar máscaras.

Veja mais detalhes dessa Eurocopa, que será lembrada por vários motivos e fez com que batesse saudade de ir a um estádio lotado. 

Itália, a grande campeã da Eurocopa

Itália eurocopa
Após 15 anos sem títulos, italianos seguram o troféu em Wembley. | Foto: Reprodução.

Com quatro títulos mundiais conquistados, a Itália figura entre uma das seleções mais vitoriosas do futebol, mas desde 2006, quando ganhou o quarto título, a equipe teve resultados fracos. Sendo eliminada na fase de grupos das copas de 2010 e 2014, ficando de fora em 2018. Na Euro, teve como melhor resultado um segundo lugar, em 2012, perdendo de 4 a 0 para a Espanha.

Após essa série de fracassos, muitos viam com desconfiança o futuro da seleção, mas a Euro veio para mudar isso. Na fase de grupos, não teve dificuldades para avançar ao mata-mata, e mesmo sofrendo um pouco, jogando duas prorrogações e uma disputa de pênaltis nas semifinais, a Itália chegou à final em Wembley, apresentando um bom futebol, uma defesa sólida e um ataque muito eficiente. 

Na partida final, diante da Inglaterra, em Londres, os italianos começaram atrás, levando gol aos dois minutos do primeiro tempo. Mas a equipe teve força e, graças ao defensor Bonucci, a seleção empatou o placar em 1 a 1, resultado que se manteve até o final dos 90 minutos. E após meia hora de prorrogação, tudo foi decidido nos pênaltis.

Em 2006, o título da Copa do Mundo veio dessa maneira. Na época, o goleiro italiano também se chamava Gianluigi, o lendário Buffon. E 15 anos depois, era a hora de um outro Gianluigi brilhar, dessa vez, Donnarumma. O jovem goleiro pegou dois pênaltis dos ingleses, garantindo o troféu para a Itália.

Foi o segundo título do país na Eurocopa, o primeiro veio em 1968. E com esse troféu conquistado nos pênaltis, a Itália passa uma mensagem que quer voltar a ser grande novamente. Como cantam os italianos em seu hino, “Irmãos da Itália, a Itália acordou” (Fratelli d’Italia, L’Italia s’è desta).

O craque da Euro: Donnarumma

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Goleiro italiano teve papel fundamental na conquista da Azzurra, sendo eleito o melhor jogador do torneio. | Foto: Reprodução.

Gianluigi Donnarumma, aos 22 anos, já é considerado um dos melhores goleiros do mundo. Com seus quase dois metros de altura, o guarda-redes já fazia parte da seleção italiana aos 17 anos, após boas atuações pelo Milan.

Na Eurocopa, Donnarumma sofreu o primeiro gol apenas nas quartas de finais, e terminou levando apenas três o torneio todo. A segurança que ele trazia foi sentida nos pênaltis da grande final, quando agarrou duas cobranças, inclusive a decisiva. Por essas atuações, foi eleito o melhor jogador do torneio.

As surpresas da Eurocopa: Dinamarca e Inglaterra

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Inglaterra (branco) e Dinamarca (vermelho) disputando uma vaga na grande final da Euro 2020. | Foto: Reprodução.

A seleção dinamarquesa perdeu logo na estreia o craque Eriksen, mas a ausência não foi tão sentida. A equipe mostrou um futebol organizado e de bom nível, chegando até as semifinais, algo que muitos duvidaram ser possível. Nas semifinais, foram derrotados pelos ingleses, a outra surpresa da competição, com um pênalti no mínimo duvidoso, já na prorrogação.

A Inglaterra chegou mais longe nessa Eurocopa do que em qualquer outra. Foi a primeira vez em que alcançou a grande final. Jogando quase todos os jogos em Wembley, os torcedores apoiaram muito o English Team, que mostrava um futebol de muita disposição e briga, e teve em Sterling e Harry Kane seus principais nomes. 

A torcida se empolgava a cada partida na esperança de conquistar um título, que não vem desde a Copa de 1966. E no mesmo Wembley em que sagraram campeões, os ingleses amargaram um vice. Mas o trabalho do treinador Gareth Southgate tem o potencial de trazer mais glórias para a seleção. Fazendo referência aos inúmeros cartazes que eram levados ao estádio, o futebol ainda não voltou para casa, mas está próximo de retornar. 

As decepções da Euro: Alemanha e França

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Alemanha (branco) e França (azul) iniciaram a Euro se enfrentando e caíram nas quartas de finais, decepcionado as torcidas. | Foto: Reprodução.

Se a pequena seleção dinamarquesa surpreendeu chegando até as semifinais, as duas últimas campeãs mundiais também surpreenderam, mas negativamente. Começando pelos alemães, que sofreram para conseguir passar de fase, quase sendo eliminados pela Hungria na última rodada da fase de grupos. Apesar de terem feito um bom jogo no 4 a 2 frente a Portugal, de Cristiano Ronaldo, as outras partidas foram fracas, perdendo de 1 a 0 para a França e suando para segurar um empate em 2 a 2 com os húngaros. 

Outro jogo sem brilho foi o das quartas, quando perderam por 2 a 0 para a Inglaterra. Não é de hoje que a seleção alemã vem tendo resultados ruins, na Copa de 2018, a equipe foi eliminada ainda na fase de grupos. Após o título de 2014, a Alemanha vem caindo de desempenho.

A outra decepção do torneio foi a França. Os últimos campeões mundiais venceram apenas na estreia diante dos alemães e empataram contra Portugal e Hungria. Nas quartas, chegaram a abrir 3 a 1, aos 30 minutos do segundo tempo contra a Suíça, mas sofreram o empate nos acréscimos e perderam nos pênaltis. A seleção não mostrou um futebol que poderia, por contar com jogadores de renome como Benzema, Pogba, Griezmann e Mbappé.

O grande susto

susto Eurocopa
Após desmaiar em campo na estreia, Eriksen ficou de fora da Euro, mas como homenagem, seu nome foi estampado na camisa da Dinamarca antes dos jogos. | Foto: Reprodução.

Não foi um chute que passou perto do gol, o susto dessa Euro ocorreu em Copenhague na partida Dinamarca x Finlândia. O jogo de estreia das duas seleções estava no final do primeiro quando o dinamarquês Christian Eriksen caiu desacordado em campo, deixando o estádio todo assustado pensando que o jogador havia falecido. A partida foi paralisada para o atendimento do atleta. 

Eriksen recobrou a consciência ainda no estádio e foi levado para o hospital para poder ser atendido e posteriormente operado para corrigir um problema cardíaco. A partida só reiniciou com a notícia de que o jogador estava bem. No jogo, os finlandeses levaram a melhor por 1 a 0.

No restante da competição, durante o protocolo de abertura dos confrontos, a camisa da Dinamarca levava o nome e número de Erikson estampada. O jogador recebeu apoio e mensagens de vários times e atletas por todo o mundo. Inclusive no jogo frente à Finlândia, os torcedores se dividiram para gritar o seu nome, um país gritava Christian, enquanto o outro gritava Eriksen.

O dinamarquês não corre risco e o treinador da Inter de Milão, atual time de Eriksen, diz que conta com o jogador para a próxima temporada.  

Chuva de gols: Espanha 5×0 Eslováquia e Espanha 5×3 Croácia

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Fúria espanhola protagonizou grandes goleadas, mas não conseguiu chegar à final. | Foto: Reprodução.

A fúria espanhola começou a competição com atuações fracas, apenas dois empates na abertura do torneio, correndo risco de ser eliminada e sofrendo muitas críticas por parte da imprensa e torcida. Mas, na partida final da fase de grupos, os espanhóis fizeram as pazes com a torcida com um placar elástico contra a Eslováquia.

Quem vê o placar de 5 a 0 pensa que foi um jogo fácil, mas a partida foi disputada até o final do primeiro tempo. Contudo, na volta do intervalo, a Espanha marcou mais três gols e avançou para as quartas de final. Nas quartas, outro duelo com muitos gols, dessa vez, um 5 a 3 eletrizante contra a Croácia.

Os croatas abriram o placar após falha do goleiro espanhol Unai Simón. A Espanha virou para 3 a 1 e estava tranquila até os 40 do segundo tempo, quando a Croácia iniciou uma reação, conseguindo empatar aos 47 e levando a partida para a prorrogação. Apesar da garra da seleção vice-campeã mundial em 2018, a fúria marcou mais dois, deixando o placar em 5 a 3.

Apesar do 5 a 0, que é uma das maiores goleadas do torneio, e do 5 a 3, o segundo jogo com mais gols da história da Euro, a Espanha caiu nas semifinais para a Itália nos pênaltis. 

Polêmicas da Eurocopa: Jogadores e Patrocinadores

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Cristiano Ronaldo trocou garrafas de refrigerante por água durante entrevista coletiva. | Foto: Reprodução.

Durante as entrevistas coletivas, alguns patrocinadores colocam garrafas de refrigerantes e cervejas próximas aos jogadores. Até aí, nenhuma novidade, mas a polêmica iniciou quando Cristiano Ronaldo retirou as bebidas e disse que era melhor beber água do que refrigerante. A fabricante da bebida perdeu valor de mercado após esse gesto de CR7. 

E depois desse episódio, alguns jogadores repetiram a atitude do português e outros foram contra, inclusive falando que gostam de consumir as bebidas. 

Atitudes lamentáveis: Racismo e Homofobia

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Jogadores da Bélgica (vermelho) e Portugal (verde) se ajoelham antes da partida. Ao fundo, placa de publicidade com as cores do arco-íris. | Foto: Reprodução.

Apesar da grande festa que as torcidas fizeram nos estádio, alguns episódios lamentáveis aconteceram durante a competição. Nos jogos na Puskas Arena, na Hungria, alguns torcedores húngaros fizeram ofensas racistas direcionadas aos jogadores da França e de Portugal. O mesmo ocorreu na Alemanha frente aos donos da casa. 

Na partida contra Portugal, foi possível ver uma placa com os dizeres “Anti LGBTQ” empunhada por um torcedor húngaro. Tais atitudes incabíveis levaram a uma multa para a federação húngara e uma punição de dois jogos sem público.

Depois das ofensas, a prefeitura de Munique pediu para a Uefa iluminar o estádio Allianz Arena com as cores do arco-íris, que representa o movimento LGBTQ+. Porém, a entidade negou o pedido, alegando que é neutra em questões religiosas e políticas. O que fez com muitos torcedores levassem bandeiras para os estádios, inclusive os patrocinadores trocaram suas cores tradicionais pelas cores do arco-íris e postaram mensagens de apoio e inclusão nas placas de publicidade dos gramados. Em relação ao racismo, em diversos jogos, inclusive na final, as equipes se ajoelharam antes da partida como forma de protesto. 

O público nos estádios 

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Torcida lotou Wembley para a grande final Itália x Inglaterra. Cena se repetiu durante todo o torneio. | Foto: Reprodução.

Tirando esses episódios em que alguns torcedores não ajudaram a passar uma boa imagem, o que se viu nessa Euro foram estádios com público e muita alegria nas arquibancadas. Após quase um ano e meio de pandemia, que obrigou que os jogos fossem realizados com portões fechados, ver torcedores assistindo às partidas, seja nos estádios, pubs, fan fests, traz a sensação de que a vida pode voltar ao normal.

Como a vacinação na Europa está mais avançada, foi possível receber torcedores nos estádios, inclusive na final da Eurocopa com quase 68 mil presentes em Wembley, muito diferente da Copa América, que só teve 7 mil pessoas na decisão. E o futebol com torcida é muito mais empolgante, tanto para os espectadores quanto para os atletas.  

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Por Raul Galetti – Fala! Anhembi

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