O descaso político com a pandemia influencia na proliferação de casos de Coronavírus?
A pandemia do novo coronavírus vem atingindo cada vez mais países ao redor do globo, preocupando a grande maioria da população mundial. A partir dessa situação fica o questionamento: haveria como ter diminuído o nível de proliferação desde o início da descoberta do covid-19?
Muitos culpam a China e sua cultura de comércio de animais silvestres pela propagação da doença. Porém, não podemos colocar a “culpa” de toda a situação atual no país de transmissão inicial, pois se houvesse políticas de melhor contenção nas regiões que rapidamente foram afetadas, provavelmente, a doença não seria tão alarmante para o mundo como está sendo.
A prova disso é que, enquanto o resto do mundo só vê a situação se alarmar ainda mais, a China, epicentro da doença, começa a ver uma diminuição nos casos de contaminação e mortes pelo novo coronavírus.
A distinção entre a China e os outros países foi o tratamento rigoroso dado à doença antes mesmo dela se tornar completamente alarmante, mostrado por políticas rígidas de contenção da região mais afetada e suspensão das atividades acadêmicas logo após os primeiros casos.
Enquanto a China criava medidas fortes para contenção do coronavírus, países como a Itália, que hoje é o local com mais mortes pela doença, tratavam o surto com menos rigor.
Além de demorarem para divulgar medidas contra o avanço do vírus, suas políticas de confinamento não foram tratadas com rigor pela população, faltando uma fiscalização das entidades públicas nelas – como foi dito pelo Vice-Presidente da Cruz Vermelha Chinesa, Yang Huichuan, em uma coletiva de imprensa, o que permitiu um descontrole ainda maior da situação mundial.
As medidas adotadas são muito pouco rigorosas. Se não for alterado o modo de enfrentar esse problema, o vírus continuará circulando […]. O transporte público continua funcionando, há muitas pessoas pelas ruas e ainda há jantares e festas em hotéis. Além disso, na área mais atingida pelo vírus, as pessoas não usam máscaras.
Yang Huichuan em coletiva de imprensa em Milão.
Pensando no Brasil, podemos ver uma estimativa ainda pior porque o sistema de saúde não possui a capacidade de atender todos os grupos e tem pouco investimento em tecnologia e pesquisa para conseguir uma preparação mais rápida de ferramentas viáveis à população – o que faz crescer o risco dessa pandemia se espalhar e matar ainda mais no país do que em outros locais.
Para piorar, o atual presidente, em diversas situações, foi responsável por desrespeitar as recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde), como quando participou de um movimento a favor do fechamento do congresso e fez contato físico com várias pessoas da multidão, logo após ter chegado de uma viagem internacional, ou quando defendeu a manutenção de determinadas aglomerações.
Tais ações que vão contra as medidas propostas pelas organizações mundiais vindas de um líder político tão importante não são apenas mau exemplo, como também são a demonstração de como não se está levando a sério, por parte dos órgãos federais brasileiros, a gravidade da situação.
A maneira como cada país lida com a doença determina a situação da contaminação no local, por isso, é necessário que o que já deveria ser feito sempre – investimento em pesquisa, assistência social e saúde de qualidade – seja feito agora o mais rápido possível para conter o novo coronavírus e suas consequências. Sem tais medidas as marcas deixadas no mundo pelo Covid-19 serão cada vez piores.
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Por Cynara Maíra – UFPE