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Opinião: Como a extrema valorização da juventude prejudica a sociedade

É inegável que nos últimos 100 anos os avanços na sociedade foram extremamente avassaladores. Revoluções sociais, digitais, culturais, econômicas e muitas outras têm mudado a dinâmica mundial e chamado a atenção do mundo para uma nova realidade pautada na inquietude da juventude e no desapego aos valores do passado. A pergunta que fica é: até que ponto isto é saudável? 

Juventude e tempos modernos

Há pouco tempo, foi divulgada a notícia de que uma mãe excluiu todas as contas de redes sociais de sua filha de apenas 14 anos. O problema? A alta exposição da adolescente que já possuía 2 milhões de seguidores. O fato é que, todos os dias, estes seguidores esperavam que a jovem se relacionasse com cada um deles e mostrasse algo novo, seja uma dança, uma reflexão, uma selfie, ou qualquer outra coisa. Após os fatos, a mãe decidiu cancelar as redes da filha causando grande alvoroço na internet e, rapidamente, tornou o fato fonte de matéria para a mídia. Fica o questionamento sobre o assunto: quem errou? Quem acertou? A resposta só o tempo dirá.

juventude
A juventude é imediatista. | Foto: Reprodução.

A sociedade moderna vive uma nova era, na qual se busca agradar os jovens (leia-se: geração nascida após o ano 2000) acima de qualquer coisa, entendendo que os jovens ditam a moda e os costumes. Será verdade? A expansão econômica, a facilidade de acesso ao crédito, as revoluções tecnológicas levam os adolescentes a uma ideia de que o mundo deve girar em torno deles e de suas vontades e necessidades. A geração atual de jovens é altamente imediatista e altamente tecnológica.

Cada vez mais os adolescentes (e também os adultos) estão enraizados em mídias sociais, utilizando-se delas para as mais variadas atividades: conversar, comprar, vender, anunciar, entreter-se, criar todo tipo de conteúdo (educativo ou não),entre outros. É um caminho sem volta. Mas a pergunta é: até que ponto isso é saudável? 

A grande verdade é que não estar nas mídias hoje é ser cringe, expressão utilizada para se referir a algo careta, ultrapassado, desgostoso. E nenhum jovem quer ser cringe. Eles querem estar alinhados com o que surge de novo. E isso é um perigo, afinal de contas, precisamos nos perguntar: quem define o que é cringe ou não? Quais são as coisas que realmente são cringe? Precisamos refletir sobre isso. É preciso que os adultos tenham controle sobre a atual geração de adolescentes sob pena de perder tudo aquilo que foi conquistado ao longo de gerações. 

Quando meu avô ainda era vivo, eu me recordo de que toda vez que o saudasse eu precisava pedir a bênção dele. Hoje, é um costume que você quase não vê entre os jovens. São dois os motivos. O primeiro é que muitos jovens não possuem mais os avós vivos e o segundo é justamente a perda de um costume, que se tornou cringe com o passar dos anos. Este é apenas um pequeno exemplo, mas que tem muito a nos ensinar.

O Dr. Kevin Leman, em seu livro Transforme seu filho adolescente até sexta, nos fala que muitos dos pais têm criado verdadeiros monstros ao permitir que seus filhos tenham seus gostos e vontades amplamente satisfeitos. Ao valorizar a vontade do pequeno para muitas das vezes evitar “chateação”, os pais acabam corrompendo toda uma geração e se tornam apenas amiguinhos, sem maior autoridade. 

Conflito de gerações?

Há um debate ainda muito recente sobre o conflito de gerações. Será que ele realmente existe? É claro que sim. Podemos perceber isso ao ver a defesa pela causa LGBTQIA+, causas raciais, causas das mulheres, causas proletárias e muitas outras. Não há nada de errado em apoiar ou defender uma causa. A pergunta que deve ser feita é tão somente esta: até que ponto uma cultura deve se sobrepor à outra?

Sociedades que valorizam demais os jovens e se esquecem de reconhecer os adultos e os anciãos acabaram se perdendo em algum ponto. É um ciclo histórico que se repetiu ao longo dos séculos. Um exemplo clássico foi o dos grandes impérios da Antiguidade, Grécia e Roma, que não valorizaram os seus pensadores e anciãos e acabaram perdendo o seu poderio. É claro que teve muito mais envolvido. O ponto é: quando você perde sua identidade, você está fadado a repetir a história destes povos.

Sociedades mais firmes em seu passado, no sentido de respeito e valorização dos costumes e tradições de seus anciãos, são mais estáveis e conseguem uma maior identidade cultural. Em países como o Brasil, com dimensões continentais, e com ausência de valores tradicionais, você percebe que há uma grande bagunça e o caos. Não se pode avançar em direção ao futuro desprezando por completo o passado. Infelizmente, a juventude não conhece suas origens e tradições familiares. 

Em Manaus, um vereador propôs a retomada do horário cívico nas escolas, coisa que em países como EUA e Japão são altamente valorizados. As crianças não conhecem mais o hino da nação, não sabem quem foi Pedro Álvares Cabral, não conhecem o processo de colonização de sua região e acreditam que tudo que vem de fora é melhor do que o que está aqui dentro. Pare para pensar e refletir e perceba o perigo que é desprezar o passado porque ele é cringe.

A proposta hoje, portanto, é: juventude, o que realmente é cringe

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Por Paulo Machado – Fala! Universidade Federal do Amazonas

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