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Olimpíadas: por que ginastas se apresentam com música e os homens não

Questionamentos surgiram após a performance no solo da medalhista brasileira Rebeca Andrade embalada com trilha sonora de funk brasileiro nas Olimpíadas 2021

Ao assistirem à apresentação solo da ginasta brasileira Rebeca Andrade, que fez acrobacias e exercícios ao som de Baile de Favela, do MC João, os internautas notaram uma diferença entre as performances masculinas e femininas que, até então, haviam passado de forma despercebida durante as Olimpíadas. “A ginástica artística masculina é muito sem graça. Ela parece ser mais difícil que a feminina, mas o solo, por exemplo, nem tem música”, dizia um apreciador. A pergunta que fica é: por que não tem trilha sonora nas apresentações dos homens?

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Rebeca Andrade. | Foto: Reprodução.

Por que ginastas femininas se apresentam com música e os homens não nas Olimpíadas?

De acordo com a ex-ginasta e autora do livro Graus de dificuldade: Como a ginástica feminina subiu à proeminência e caiu em desgraça, Georgia Cervin, o motivo tem um contexto histórico: exaltação da feminilidade. Como, na época, os ginastas masculinos tinham que, por obrigação, demonstrar força, as expectativas às performances femininas tinham que estar mais alinhadas à simpatia e delicadeza.

Esperava-se que as mulheres fizessem movimentos suaves, rítmicos, fluidos e graciosos que enfatizassem a beleza e a flexibilidade. É por isso que tocam música, e os homens não. Até os médicos achavam que exercícios extenuantes eram ruins para as mulheres, já que as mulheres deveriam se tornar esposas e mães.

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Simone Biles. | Foto: Reprodução.

Por conta disso, e até mesmo do tempo adicional que as mulheres precisam estar no tablado (sendo 90 segundos em detrimento dos 70 do masculino), a música se faz necessária, sendo, inclusive, contada como critério avaliativo. Caso a ginasta termine antes do previsto, há desconto na pontuação. Contudo, regras como a obrigatoriedade de não haver nenhum tipo de letra reconhecível na canção ainda permanecem.

Mesmo com mudanças perceptíveis com o passar das competições e dos anos, com mulheres fazendo mais movimentos de dificuldade (por vezes, até mais complexos do que os masculinos, assim como fez Daiane dos Santos com o “Dos Santos II” que, até hoje, somente ela conseguiu fazer com perfeição), ainda assim, alguns traços como movimentos de dança e roupas adereçadas se fazem necessárias para manter a jovialidade que os juízes esperam para pontuar, tal qual como ocorria décadas atrás.

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Daiane dos Santos. | Foto: Reprodução.

É válido enfatizar que já houve tentativas de inserção de música para as modalidades masculinas, protagonizadas pela equipe soviética, em 1978. Porém, a ideia não avançou, visto que não há exercícios coreográficos nas performances, mas apenas de força e habilidade. 

No entanto, ainda há expectativas por parte de que haja mais liberdade tanto para homens como para mulheres em se apresentarem como quiserem nas Olimpíadas. “Dessa forma, os homens poderão incluir música em suas rotinas se quiserem – e as mulheres podem optar por se apresentar em silêncio”, disse Cervin.

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Ginastas brasileiros. | Foto: Reprodução.

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Por Renato Freitas de Menezes – Fala! Universidade Federal do Acre

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