Não é novidade para ninguém que as Olimpíadas e os Jogos Paralímpicos têm uma forte relação com a cultura helênica, em especial a sua mitologia. Foi na Grécia Antiga que as primeiras competições aconteceram em homenagem aos deuses do Olimpo. Elas eram um dos pontos de ligação entre as várias cidades-estado gregas.
É bem verdade que, atualmente, o elemento mitológico perdeu a importância que teve no passado, mas as Olimpíadas continuam referenciando continuamente as divindades gregas. Uma delas é a deusa Nice ou Victoria, para a mitologia romana. Você conhece a história dela e sua importância nos Jogos Olímpicos?
Nice: a deusa da vitória
Segundo a versão mais difundida do mito de Nice (Νίκη em grego, lê-se Niké), ela é uma deusa filha do titã de segunda geração Pallas (Πάλλας em grego, lê-se Palás) e da ninfa Estige (Στυξ em grego, lê-se Styx). Ainda que esta versão não seja um consenso, o poeta Homero (aprox. 750 a.C.) conta uma história alternativa para a deusa.
Na versão do autor da Ilíada e da Odisseia, Nice é filha de Ares (Ἄρης, em grego, lê-se Árēs), um dos filhos de Zeus (Ζεύς em grego, lê-se Zeús) e deus da guerra no panteão grego. Porém é mais provável que os mitos acerca desta deusa helênica antecedam a narrativa homérica.
Apesar destas discordâncias, em um ponto, existe um consenso: Nice é a personificação da vitória. Ela é retratada como uma mulher alada, cuja as principais habilidades são a força e a velocidade. Suas asas eram utilizadas para voar pelos campos de batalhas e arenas de competição recompensando com vitória, glória e fama.
Apesar de ser a deusa da vitória, seu papel na mitologia grega nunca foi o principal. Na maioria dos mitos, ela é reduzida a uma ajudante da deusa Atena (Αθηνά em grego, lê-se Athēná). Aliás, em algumas situações ambas foram retratadas como sendo uma única divindade. Existiria a Palas Atena, deusa da estratégia e das artes e a Atena Niké, a junção das duas divindades.
Nice e as Olimpíadas
Com as Olimpíadas, no entanto, Nice ganhou seu lugar de reconhecimento devido dentro do panteão grego. Desde os Jogos Olímpicos de Verão de 2004, ocorridos na cidade grega de Atenas, uma das faces das medalhas entregues aos vencedores representa a deusa Nice com o Parthenon em segundo plano.
A representação utilizada como base para as medalhas é a escultura Nice de Samotrácia. Essa obra do período helenístico representa a deusa como uma mulher esbelta e com suas asas abertas. Encontrada nas ruínas de um templo, a peça não possui mais a cabeça e nem os braços. Atualmente, encontra-se no Museu do Louvre em Paris.
Em 2016, na edição dos Jogos Olímpicos sediada na cidade do Rio de Janeiro, ocorreram algumas modificações na representação da deusa na medalha. Segundo o escultor escolhido para desenhar a medalha, buscou-se oferecer mais curvas ao corpo de Nice. Dessa forma, representando as diversas curvas que a cidade maravilhosa também possui.
Nas Olimpíadas e nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, que iniciam ainda este mês, as medalhas mantiveram a tradição e continuaram representando a deusa da vitória em uma de suas faces. Assim como no passado, Nice continua recompensando os atletas, oferecendo-lhes o devido galardão por seus esforços nas competições olímpicas.
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Por Jefferson Ricardo – Fala! UFPE