Desde o surgimento da genética forense nos anos 80, no Reino Unido, até os dias atuais, a ciência já evoluiu em muitos aspectos, e a genealogia forense tem surpreendido cada vez mais, ajudando a solucionar casos criminais arquivados em vários países. Entenda tudo sobre a genealogia forense.
A genealogia forense
A genealogia estuda desde a origem de uma família até a sua disseminação por várias gerações. A ciência forense, por sua vez, usa essas informações genéticas para identificar vítimas e suspeitos de crimes por meio de seus familiares.
Antes do DNA, a polícia contava com testemunhas, análise de pegadas e resíduos como tecidos e fibras, e as impressões digitais que eram a forma mais confiável de identificação. Porém, nem todos os casos possuíam evidências suficientes para serem solucionados e acabaram se tornando “cold case”.
Conforme a ciência forense foi evoluindo, muitos desses casos arquivados foram reabertos e a polícia passou a utilizar os bancos de DNA, como o Codis, nos Estados Unidos, que armazena o material genético de presos condenados, e o Fenix, na Europa que possui informações genéticas de pessoas desaparecidas, no Brasil, ainda não foi implantado um banco nacional de DNA.
Além dos bancos do governo que contém esses dados, também surgiram empresas privadas como a Ancestry e o Wikki Tree, que já possuem milhares de perfis em suas bases. Com esses novos recursos, a polícia além de comparar o material genético que possuem, também pode pesquisar esse perfil na base de algumas empresas privadas que tornam essas informações públicas. É nesse momento que a genealogia forense exerce seu papel. Pode parecer até parecer fácil, mas a pesquisa pode demorar anos até que seja encontrado um perfil semelhante ao do criminoso ou ao da vítima não identificada.
Caso Yara Gambirasio
Um dos casos mais famosos que envolve a genealogia forense, ocorreu na Itália em 2010, quando a adolescente Yara Gambirasio foi sequestrada e assassinada. O corpo da adolescente foi encontrado somente 3 meses depois do desaparecimento e as evidências eram poucas. Apesar disso, foi localizado material genético do possível assassino na calça da vítima, esse perfil foi nomeado pela polícia de “Ignoto 1”. A partir desse material, os cientistas forenses chegaram até Giuseppe Guerinoni, falecido em 1999, e puderam identificar que o suspeito se tratava de um dos seus filhos, porém, não foi possível localizá-lo por ser um filho ilegítimo que a família de Giuseppe não tinha conhecimento.
Após quase 4 anos de muito trabalho, a polícia chegou ao assassino, Massimo Giuseppe Bossetti, pois sua mãe havia cedido seu material genético durante os testes massivos, em que mais de 22 mil pessoas foram testadas em uma operação jamais vista durante uma investigação policial. Os investigadores observaram o suspeito durante alguns meses e montaram uma operação, na qual foi realizado o teste de bafômetro e assim puderam colher seu DNA e compará-lo com o perfil “Ignoto 1” obtendo resultado positivo. Massimo foi condenado e cumpre prisão perpétua.
Já em 2021, uma das vítimas de Gary Rigdway, também conhecido como Green River Killer, foi finalmente identificada depois de 37 anos. O assassino foi preso em 2001 e condenado por 49 assassinatos, entre suas vítimas, 3 não haviam sido identificadas. Os restos mortais foram encontrados em 1984 e nomeados de “Ossos 10”, pois, já não havia como identificar a vítima. Mas, os investigadores não desistiram e em conjunto com a antropóloga Kathy Taylor e o DNA Doe Project, conseguiram identificá-la como Wendy Sthephens, que tinha entre 12 e 18 anos quando foi assassinada. A família de Wendy, ainda tinha esperança em encontrá-la, por isso, em 2019 um dos pais cedeu seu DNA para o GEDmatch, que mais tarde foi excluído devido a novas políticas e transferido para o Family Tree DNA, onde a polícia fez a comparação.
Esses são apenas dois de diversos casos em que a genealogia forense teve um papel crucial na solução. Ainda assim, o uso do DNA de bancos de genealogia pela polícia gera muita discussão, não só porque é um dado sensível que pode ser usado por outras pessoas, mas também porque uma prisão não deve ser baseada somente no DNA.
Apesar do alto investimento financeiro que nem sempre é possível em todos os casos, podemos acreditar que no futuro muitos “cold cases” serão solucionados trazendo não só justiça, mas também um desfecho para a família da vítima.
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Por Barbara Andrade – Fala! Universidade Cruzeiro do Sul