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‘O Incrível Exército de Brancaleone’: desconstruindo o herói clássico

Assim começa um dos maiores clássicos da comédia dos anos 60: O Incrível Exército de Brancaleone. Vamos nos imaginar no período da baixa idade média. Amanheceu em uma pequena vila italiana, cheia de aldeões dormindo em suas camas. Quando um bando de saqueadores húngaros a invade, espalhando terror e cometendo as mais terríveis atrocidades. Até que todos os aldeões pegam suas enxadas, foices e ancinhos, juntando-se para matar todos os invasores, agindo com violência.

Um cavaleiro alemão chega, e dá o golpe de misericórdia contra aquelas barbaridades, encerrando o conflito. Só para dois aldeões e uma criança o golpeá-lo na cabeça, roubar seus pertences e jogar seu corpo inconsciente no rio.

O incrível exército de Brancaleone
O Incrível Exército de Brancaleone é um um clássico filme de comédia. | Foto: Montagem/ Pinterest

Análise Crítica de O Incrível Exército de Brancaleone

O Incrível Exército de Brancaleone é um filme intrigante. É seguro dizer que estamos acostumados a figura do herói clássico. Aquele que é altruísta, virtuoso, que age pelo bem, simplesmente porque é a coisa certa a se fazer. Um padrão bem popularizado pelo cinema hollywoodiano, e não há nada de mal nisso. São figuras importantes que moldaram nosso imaginário, nos inspiram e servem muito mais como um símbolo, às vezes se levando a sério demais por conta de nós, os fãs. Mas o que faz o filme de Mario Monicelli ser tão interessante é: ele definitivamente não respeita isso.

Depois de assistir uma cena do filme Donne e Soldati, enquanto ainda estava em processo de edição, Monicelli queria criar uma história diferente, na qual todos os estereótipos habituais de contos medievais seriam derrubados.

Os camponeses pobres são capazes de reagir por si mesmos, o comerciante judeu não tem um tostão no bolso, o monge católico sempre visto como um poço de sabedoria e santidade, na verdade é um fanático cego e irracional. Sem falar do nosso protagonista, Brancaleone de Nórcia (Vittorio Gassman), um cavaleiro pomposo, arrogante e covarde, que não consegue nem conduzir direito o próprio cavalo.

Fica claro que ele tem um coração nobre, mas às vezes isso fica ofuscado pela sua busca incessante pela glória e pelas mulheres. E é claro, sem contar os personagens secundários, que de altruísmo não tem nada. Estão ali apenas pela promessa de um feudo riquíssimo na qual lhes foram prometidos após roubarem a escritura do cavaleiro que os salvaram. Todos os personagens apresentam um caráter duvidoso, ficando até mais fácil de se identificar com eles.

Indo de acordo com essa proposta de se opor as narrativas de Hollywood, está a estética do filme. Por mais que tenha figurinos coloridos e espalhafatosos (que inclusive renderam um prêmio ao figurinista Piero Gherardi), apresenta perucas mal posicionadas e roupas rasgadas. Tudo isso feito propositalmente. Monicelli queria apresentar a baixa idade média como ela sempre foi, uma época suja e decadente, cheia de lama, frio e miséria.

Trata também de uma sátira política. Tendo em vista que a partir do momento que os personagens começam a confiar na liderança de Brancaleone para ir até o feudo, parece que não chegam nunca. Monicelli quis mostrar que líderes que se apegam tanto a suas causas acabam nunca alcançando seus objetivos. E pensar que se passa vinte anos após a ditadura de Mussolini.

Brancaleone
O filme traz uma desconstrução do estereótipo do herói clássico. | Foto: Reprodução/ Pinterest

Mas não se engane, O Incrível Exército de Brancaleone está longe de ser um filme ruim. É um dos poucos longas-metragens que se atreveram a representar de maneira bem humorada o cotidiano medieval com mais precisão. Tamanha é sua importância que chegou até a ser mencionado em uma questão de vestibular da Universidade José do Rosário Vellano.

Um conjunto de esquetes que abordam temas como a peste negra, bárbaros, leprosos, vigaristas, a busca pela terra santa e feudalismo. A completa antítese dos padrões estabelecidos. O Dom Quixote maltrapilho. A jornada do herói contada da maneira mais hilária. Definitivamente, merece ser visto.

“Branca, branca, branca! León, león, león!”

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Por Matheus Cosmo – Fala! FIAM FAAM

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