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‘O Homem Cordial’: Livro de Sérgio Buarque de Holanda

Sérgio Buarque de Holanda fez um relato que me interessou bastante sobre a mudança no comportamento social e nas relações sociais por causa do advento da industrialização e da incorporação de novos meios de produção na nossa realidade. Isso casa com o que você colocou no resumão, já que o texto retrata o lado comportamental do nosso tecido social.

Além disso, ele explora a constituição do conceito de família e a ideia fabril que se arraigou a ela na formação das diferentes sociedades. Gostei da perspectiva usada por ele, que partiu das responsabilidades de cada função e da competitividade social – o exemplo da vara e do conselho foi maravilhoso.

No Brasil, onde imperou, desde tempos remotos, o tipo primitivo de família patriarcal, o desenvolvimento da urbanização – que não resulta unicamente do crescimento das cidades, mas também do crescimento dos meios de comunicação, atraindo vastas áreas rurais para a esfera de influência das cidades – ia acarretar um desequilíbrio social, cujos efeitos permanecem vivos ainda hoje.

Sérgio Buarque de Holanda, em O Homem Cordial

Essa passagem ilustra o que eu afirmei acima, com o autor identificando que o processo industrializador causou transformações no comportamento social, principalmente pela reinvenção do caráter do trabalho e pelo crescimento dos meios de comunicação.

o homem cordial
Livro O Homem Cordial. | Foto: Reprodução.

Pontos abordados no livro

Essa ideia da vida pessoal se atrelar à profissional e disso saírem desvantagens a outras pessoas me lembrou do jeitinho. Acredito que vamos trabalhar esse conceito posteriormente, mas ficou muito evidente para mim. Será que Sérgio Buarque de Holanda já estava enxergando ali uma das atitudes mais constitutivas da nossa ação social?

“Daremos ao mundo o homem cordial.” Atentando ao título do capítulo, que fala de um tal homem cordial. Essa passagem ilustra que o brasileiro é uma “espécie” ímpar, a qual o convívio social é o contrário da polidez, por causa de uma defesa – ante a sociedade – da presença contínua e soberana do indivíduo. O exemplo que ele cita é muito claro para mostrar essa diferença cultural: ele mostra que surge, em nossa sociedade, uma tendência de apresentar o nome de indivíduo, de batismo, antes do da família.

Outro ponto que ele explora é que até os cultos e rituais religiosos vão ganhando um caráter eminentemente intimista, onde a maneira como cada um lida com o divino se sobrepõe à tendência uniformizadora da religião. Ele deixa evidente que, no Brasil, é precisamente o rigorismo do rito que se afrouxa e se humaniza.

E, por fim, e o ponto que eu mais gostei do texto, foi a parte política na nossa vida. Ele destaca que nenhuma elaboração política poderia ser possível no nosso território se apelasse para a razão e a vontade própria dos indivíduos. Pelo contrário, é preciso apelar aos sentimentos e à parte mais emocional.

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Por Gustavo Magalhães – Fala! PUC-RIO

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