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Multidão X Panelaço: manifestações polarizadas em tempos de pandemia

Manifestantes pró-governo tomam as ruas. Oposição faz panelaço em casa

    Além da crise que se instaurou por conta do novo coronavírus, o Brasil encara ao mesmo tempo uma grave crise política. Depois da demissão de Mandetta, substituído por Nelson Teich no ministério da saúde, veio a vez de Sérgio Moro se demitir do ministério da justiça e segurança pública por conta de uma desavença envolvendo a troca do diretor-geral da polícia federal Maurício Valeixo.    A turbulência nos bastidores do planalto central fazem a população manifestar apoio ou protesto, porém os dois casos, acontecem de formas bem antagônicas. Apoiadores de Bolsonaro tomam as ruas enquanto os contrários ao governo ficam em casa.

Como Bolsonaro, seus apoiadores ignoram as recomendações da OMS para conter a disseminação da Covid-19, como por exemplo evitar aglomerações e utilizar máscara. As manifestações a favor do presidente protestam contra a câmara dos deputados (principalmente o presidente da câmara Rodrigo Maia), o senado (foco no presidente do senado Davi Alcolumbre), o Supremo Tribunal Federal e até pedem AI5.    

Por outro lado, os insatisfeitos com as falas do presidente quanto ao novo coronavírus organizam um panelaço durante seus pronunciamentos na televisão e na rádio. Essa forma de protesto ficou muito popular durante o mandato da presidente Dilma Rousseff, que veio a terminar num processo de impeachment em 2016.

Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta seus apoiadores durante manifestação em Brasília Foto: SERGIO LIMA / AFP
Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta seus apoiadores durante manifestação em Brasília Foto: SERGIO LIMA / AFP

Qual a ligação dos discursos com a forma de protesto?

    Apesar do protesto por meio de panelaço ser quase uma tradição do brasileiro, nesta época de pandemia ele reforça o mantra do “fica em casa”. Este teor se deve muito também ao conteúdo da manifestação, que é críticas ao presidente que escorrega nas próprias palavras e nega a gravidade da pandemia.

    A intenção dos manifestantes pró-governo, a princípio, é ficar dentro do carro, mas na prática não é isso o que acontece. Em vários vídeos gravados por pedestres ou participantes do movimento mostram as pessoas saindo dos veículos e, mais uma vez, contrariarem os protocolos criando multidões.    

Mas não é só o conteúdo de traços totalitários ou a completa indiferença às recomendações de saúde pública que é assustador, há de se falar também da participação de Jair Bolsonaro, portando-se como uma celebridade teen no meio da multidão. Mas que bom que para ele não tem problema, por causa de seu “histórico de atleta”, quanto aos outros, que se empilhem em portas de hospitais ou de cemitérios, já que ele é atleta, não coveiro.

    A liberdade e a democracia nos garante o direito de protestar contra ou a favor do governo (apesar de alguns manifestantes não quererem mais tal direito), porém é necessário que tenha empatia nestas horas e saber a forma correta de o fazer, se é para evitar as aglomerações, que as evite. 

    Nunca é seguro, ou minimamente sensato, quebrar as regras em época de pandemia, sobretudo aquelas para diminuir a proliferação de uma doença que já ultrapassou 3 milhões de infectados no mundo. É seu direito protestar pelo o que bem entender, mas é seu dever respeitar as normas e os outros cidadãos.

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Por Eduardo Reis – Fala! Cásper

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