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Futebol brasileiro: lavagem de dinheiro, venda de jogos e propinas

Terra do Rei Pelé, do “bruxo” Ronaldinho, de uma seleção pentacampeã mundial. Terra de clubes tradicionais e de fervorosas torcidas. O futebol brasileiro sempre foi muito conhecido e admirado, no entanto, também teve manchas em sua história, com corrupções que beneficiaram clubes, árbitros, apostadores e dirigentes.

A seguir, falaremos um pouco mais sobre os 5 maiores escândalos do futebol brasileiro.

Maiores escândalos do futebol no Brasil

Máfia do Apito

Um dos maiores escândalos de corrupção no futebol brasileiro foi a chamada Máfia do Apito. Liderados pelo empresário Nagib Fayad, os árbitros Edilson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon eram pagos para manipular ou tentar manipular os resultados dos jogos em que estavam escalados para apitar. Os beneficiados eram um grupo de apostadores do interior de São Paulo.

Entre os campeonatos manchados por essa conduta, estavam: a Libertadores, o Campeonato Paulista e os campeonatos Série A e B do Brasileirão. No entanto, apenas 11 jogos foram anulados e remarcados pelo STJD, todos eles da elite do campeonato brasileiro. 

Ao contrário de outros escândalos do futebol, que por ventura, viriam ser expostos depois do término dos campeonatos, a Máfia do Apito estourou em setembro de 2005, ainda durante o torneio. Assinada pelo jornalista André Rizek, a matéria da revista Veja trazia à tona toda a investigação do Ministério Público diante do fato.

Todos os jogos anulados foram apitados pelo pivô do caso, Edilson Pereira. Entre os jogos remarcados, dois deles acabaram por beneficiar o Corinthians, que havia perdido os clássicos para o Santos e para o São Paulo. Após jogá-los novamente, o clube alcançou 4 dos 6 pontos disputados, fazendo diferença e consagrando-o campeão brasileiro daquele ano, à frente na disputa pelo título com o Internacional.

Os envolvidos, além de serem banidos do futebol, tornaram-se réus em uma ação penal, entretanto, o processo em que foram acusados de estelionato foi suspenso pelo TJSP, que avaliou que não haviam cometido crime. A explicação está na inclusão, apenas no ano de 2010, de um artigo no Estatuto do Torcedor, que estabeleceu as fraudes esportivas. 

Máfia do Apito
Capa da revista Veja. | Foto: Reprodução.

FIFAgate – um dos maiores escândalos do futebol

O chamado FIFAgate é o maior escândalo de corrupção da história do futebol mundial. O caso, investigado pelo Departamento de Justiça da Suíça em conjunto ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos e do FBI, resultou no indiciamento de 34 réus, entre empresas e pessoas, e na devolução de milhões de dólares.

Entre os presos, estavam 14 dirigentes da Fifa, a entidade máxima do futebol, incluindo José Maria Marin, ex-presidente da CBF (2012-15) e ex-presidente do Comitê Organizador da Copa de 2014, sediada no nosso país. As investigações na época tinham como intuito expor toda a corrupção das empresas e dos dirigentes envolvidos em lavagem de dinheiro e pagamento de propinas para beneficiar escolhas políticas.

FIFAgate
José Maria Marin. | Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil.

Além de Marin, as indagações da justiça incluíam as gestões de João Havelange na Fifa até a participação dos ex-presidentes da CBF, Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero. Um dos delatores do caso foi o brasileiro José Hawilla, dono e fundador do grupo Traffic, um conglomerado de marketing esportivo responsável por diversas negociações de direitos de transmissão, também investigado no FIFAgate.

O fato trouxe diversas mudanças para o futebol mundial, desde mudanças esportivas, como o uso do VAR, até mudanças administrativas, como o processo de escolha para a sede da Copa do Mundo, que deixou de ser em reunião fechada e passou a ser uma votação entre as 211 associações nacionais que compõem a Fifa.

Denúncias no Fantástico contra o Cruzeiro

Indícios de pagamentos suspeitos, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, essas foram algumas das acusações sofridas pela diretoria celeste, exibidas com exclusividade pelo Fantástico, e que deu início a uma série de prejuízos para o clube mineiro.

O Cruzeiro vinha de títulos importantes como o bicampeonato da Copa do Brasil (2017/18) e estava disputando o campeonato brasileiro de 2019, quando veio a “bomba”, exibida em rede nacional, que chocou e gerou uma grande revolta em seus torcedores.

Entre os envolvidos, estavam o então presidente Wagner Pires de e seu vice, Itair Machado, além do diretor Sérgio Nonato. Apesar de todas as denúncias, até o momento nenhum envolvido no caso foi preso. Além de elevar a dívida celeste, o rombo nos cofres do Cruzeiro na gestão 2018/19 foi estimado em R$ 6,5 milhões, segundo o Ministério Público de Minas Gerais. Além disso, a crise nos bastidores culminou em um terrível pesadelo para o clube, o rebaixamento inédito para a segunda divisão do campeonato brasileiro.

futebol brasileiro
Wagner Pires e Itair Machado. | Foto: Frederico Ribeiro.

Os maiores lesados, sem dúvida alguma, foram o clube e seus torcedores, que ainda hoje, amargam consequências dessa crise gigantesca, que parece não ter fim. Hoje, dois anos após as denúncias, o clube permanece na divisão de acesso e encontra dificuldades em se reerguer.

Caso Héverton e o rebaixamento da Portuguesa

Um erro na última rodada do campeonato brasileiro de 2013 custou caro para a Portuguesa. O clube, julgado pelo STJD, acabou sendo punido com a perda de 4 pontos e, consequentemente, rebaixado para a segunda divisão.

Era a 38ª rodada do Brasileirão. A Lusa já havia festejado, na rodada anterior, a sua permanência na elite do campeonato. No entanto, aos 32 minutos do segundo tempo, o meia Héverton entrou em campo e deu início à disputa nos tribunais. O jogador havia sido suspenso pelo STJD dois dias antes da partida e, assim, não poderia entrar em campo na ocasião.

Caso não houvesse interferência dos tribunais, o rebaixado seria o Fluminense, que também lutava contra a degola. No entanto, o caso tornou-se ainda mais polêmico pelo fato do Flamengo também ter sido punido pelo STJD, em decorrência da escalação irregular do lateral André Santos.

O rubro-negro carioca havia jogado um dia antes da Portuguesa. A punição imposta com a perda de 4 pontos faria com que o clube fosse rebaixado no lugar do seu rival. E assim surgiram as especulações dos torcedores.

Uma grande parte acreditava que o clube da Gávea havia sido o “mandante” pela escalação do jogador, que resultaria na queda do clube paulista, uma vez que, já haviam sido informados da possível punição pela escalação do André Santos. Outra parte supunha que o tricolor das Laranjeiras e sua patrocinadora Unimed que seriam os “mandatários” do caso. Assim, o clube poderia ganhar o direito de permanecer na elite, por meio da Justiça Desportiva, no chamado “tapetão”.

O acontecido foi arquivado definitivamente sem apontar nenhum culpado. O Ministério Público de São Paulo não encontrou evidências suficientes para continuar com a investigação. Os torcedores da Lusa amargam até hoje consequências desse erro fatídico que levou o clube ao declínio profundo, chegando a ficar sem divisão no campeonato nacional.

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Rebaixamento da Portuguesa. | Foto: Daniel Ramalho/Terra.

Gravações telefônicas de Ivens Mendes

O ano era 1997 e o Jornal Nacional viria a divulgar gravações de telefonemas que desvendariam um suposto esquema de corrupção. O pivô do caso, Ivens Mendes, presidente da Comissão Nacional de Arbitragem de Futebol (Conaf), órgão encarregado de escalar árbitros para as competições de futebol organizadas pela CBF.

O esquema envolvia venda de resultados de jogos e financiamento de campanhas políticas. No dia seguinte da matéria, Ivens Mendes pediu afastamento do seu cargo, alegando que sua família estava sofrendo ameaças. Como as gravações eram clandestinas, portanto, ilegais para a justiça, não houve prisões. Entretanto, o STJD baniu Ivens Mendes do futebol brasileiro e impediu que Mário Celso Petraglia (Athletico PR) e Alberto Dualib (Corinthians) representassem seus clubes perante a CBF.

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Ivens Mendes. | Foto: Reprodução/GE.

Diante do escândalo, o Athletico PR iniciou o campeonato com 5 pontos negativos, em virtude do seu envolvimento no acontecido. Dois clubes que haviam sido rebaixados em 1996, Fluminense e Bragantino, retornaram para a Série A. Com dois clubes a mais que o habitual, o campeonato de futebol foi disputado por 26 times.

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Por Thyago Henrique de Melo Vieira – Fala! Centro Universitário UNA – BH

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