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Márcio Gomes conta como é ser correspondente no Japão

Por Luiza Granero – Fala!MACK

Carioca formado pela PUC-RJ, Márcio Gomes se tornou correspondente da Rede Globo na Ásia em 2013. Desde então, ele vem cruzando o mundo direto do Japão, onde mora com a esposa e dois filhos, para as televisões brasileiras, apresentando as melhores – e piores – notícias sobre os países orientais. Márcio deixa definitivamente o país em junho desse ano, após cinco anos como correspondente.

Ao longo de sua trajetória, ele noticiou eventos marcantes como a passagem do tufão nas Filipinas  e a queda do avião da Malasya Airlines com 239 pessoas a bordo, além de ter narrado diversas crônicas sobre a cultura japonesa e grandes reportagens sobre o país que abriga as famosas cerejeiras e é terra do sol nascente.

Acervo pessoal de Márcio Gomes

O Fala! entrevistou o jornalista sobre sua vida no Japão e sua rotina no país. 

Fala!: Como você se tornou correspondente no Japão? Como foi a preparação?

Fui convidado no fim de 2012 e tive algumas aulas básicas de japonês. Passei a ler mais sobre os assuntos da região também. E claro, toda a burocracia de mudar de país.

Fala!: Como foi o processo de adaptação? No que foi mais difícil se acostumar?

Não foi tão difícil, Tóquio pode ser bem diferente das nossas cidades, mas é uma cidade onde tudo funciona, é segura, não tem como não se adaptar. O mais difícil talvez tenha sido mesmo deixar os amigos e família tão longe.

Fala!: E a adaptação dos seus filhos, como foi?

Eles frequentam uma escola internacional, em inglês, mas tem aulas de japonês todos os dias. Se adaptaram muito bem, adoram a cidade e os costumes daqui.

Arquivo pessoal de Márcio Gomes.

Fala!: Como você percebe os jovens japoneses? Que diferenças você nota entre eles e os do Brasil?

Percebo os jovens japoneses mais focados no que querem para o futuro. Sim, são jovens, mas a escola já os deixa atentos para como enfrentar o que virá mais pra frente. Dá mais independência, o ensino vai além da nossa Geografia, História…

Fala!: Quais são as diferenças mais marcantes entre os dois países?

O comportamento das pessoas. Aqui, o coletivo está em primeiro lugar. Você pensa em grupo e, depois, no indivíduo.

Fala!: Quais são os problemas que você enxerga no Japão?

Talvez por pensar muito no grupo, o indivíduo deixa de ser “único”. E por isso há muita gente solitária aqui. Também ainda é forte o preconceito com a mulher no mercado de trabalho e a cultura do trabalho, com longas horas de serviço.

Fala!: E os exemplos a serem seguidos?

Honestidade, gentileza, nunca vi coisa assim em nenhum lugar do mundo.

“Pra quem se encantou com as crianças indo sozinhas pra escola no Japão: voluntários da vizinhança, sem receber nada, se revezam na missão de dar segurança em algumas travessias. Precisei morar aqui para entender o que é ‘viver em comunidade'”.

Fala!: Como é sua rotina como correspondente?

Não há muita rotina, posso ter gravação no dia, ou edição de um material que gravei no dia anterior, uma viagem. Mas sempre acompanhar as notícias daqui e do Brasil.

Fala!: O que você busca quando vai produzir uma pauta?

Se a notícia vai de alguma forma tocar o Brasil. Às vezes é algo que está mexendo com o Japão, mas não teria importância no Brasil. Outras, é algo rotineiro daqui, mas que faz um sucesso danado entre os brasileiros.

Fala!: Qual foi a matéria que mais te marcou?

Ah, foram muitas… A mais recente talvez tenha sido a da violência nas Filipinas e a entrevista com a jovem brasileira acusada de entrar no país com drogas. Mas cada reportagem que eu faço me marca de alguma forma. Ser repórter é aprender todo dia, ainda mais trabalhando no Japão.

“Quando a Imprensa livre é um problema: gravando numa loja em Tóquio, as assessoras do lugar seguram placas com “pedidos de desculpas” aos clientes…”. Acervo pessoal.

 

 

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