Mulher, negra, empreendedora e, por fim, milionária
No dia 23 de dezembro de 1867, em Delta, Luisiana, nasce Sarah Breedlove, filha de Owen e Minerva, ela era uma das seis crianças que cresceram em meio à situação pós-escravidão que acontecia nessa época, nos Estados Unidos. Os pais de Sarah, foram brutalmente escravizados na plantação de Robert W. Burney, porém, ela foi a primeira filha do casal que já nasceu em condição de liberdade.
Tendo em vista que a proclamação da emancipação foi uma proclamação presidencial e de ordem executiva elaborada no dia 22 de setembro de 1862, pelo então presidente Abraham Lincoln, entretanto, a mesma proclamação só entrou em vigência no dia primeiro de janeiro de 1863, quatro anos antes de Sarah nascer.
Sarah ficou órfã muito cedo e, por isso, se mudou para Vicksburg, Mississippi, aos 10 anos de idade e com a sua irmã mais velha. Lá, ela trabalhou de doméstica e se alfabetizou na escola dominical na igreja em que frequentou durante seus primeiros anos naquela nova cidade.
Em 1882, aos 14 anos, Sarah casou-se com Moses McWillians, pois ela acreditava que só assim poderia escapar dos abusos sexuais nos quais ela sofria do cunhado Jesse Powell. Três anos depois de casada, Sarah teve sua primeira filha A’Lelia Walker, que nasceu em 6 de junho de 1885, dois anos depois de ter sua filha, Sarah ficou viúva de seu primeiro marido.
Vale a pena ressaltar que em meio a tudo isso que já aconteceu ao longo da história no qual eu estou divulgado, podemos notar o quanto nós, mulheres, já conquistamos muito e mudamos de pensamento. Conforme já foi citado, Sarah teve que se casar novamente para não sofrer mais os abusos de um outro homem, ou seja, que naquela época, de forma lastimável, não existia uma lei que protegesse a mulher e muito menos a mulher negra!
Por isso e por muitos outros fatores, nós devemos continuar lutando e observando tudo em relação às nossas conquistas, pois só assim iremos valorizar cada dia mais e não iremos deixar as coisas retrocederem, como, por exemplo, o aumento de casos de sugar daddy, que são meninas que aceitam ser bancadas em geral por homens mais velhos e a tentativa de criação da lei Chico da Penha que pretendia proteger os homens que apanham de mulheres, tudo isso citado condiciona casos de retrocesso e não podemos permitir. Voltando…
Um ano após ficar viúva, Sarah e sua filha se mudaram para St. Louis, Missouri. Lá ela trabalhou como lavadeira e com este trabalho ganhava menos de um dólar por dia, mesmo ganhando pouco, ela nunca deixou de se esforçar para dar uma educação de qualidade para sua filha.
Como, infelizmente, era muito comum na época, muitas mulheres negras tiveram caspa e outros problemas sérios no couro cabeludo, incluindo o excesso de queda de cabelo, que ocorreu devido ao uso da aplicação de produtos agressivos, como lixívia, que fazia parte da composição dos sabonetes daquela época.
Outros fatores que também influenciaram para o problema capilar que muitas mulheres enfrentaram nessa época foi a dieta pobre que era oferecida nessa época para quem não tinha muito dinheiro e principalmente para os negros, doenças, banhos e lavagens pouco frequente e com água que não era muito bem tratada nessa época.
Madam Walker e as vendas
Sarah também sofreu muito por culpa com os problemas que teve com o seu cabelo, sendo assim, ela fez um tratamento com Annie Malone, onde conquistou junto com o seu cabelo, a sua confiança para se esforçar e empreender vendendo algo que ela acreditou que funcionaria para todas que estavam passando pelo mesmo que ela passou em relação ao seu couro cabeludo.
Foi então que ela passou a revender os produtos da empresária Annie Malone, a mesma que cuidou do seu cabelo no passado e começou a estudar mais sobre o produto, pois assim poderia explicar e vender com maior propriedade, no entanto, sua chefe não ficou feliz ao ver que ela estava vendendo seus produtos sem permissão e a demitiu. Foi então que Sarah começou a fabricar o seu próprio produto.
7 anos depois, Sarah casou-se novamente com o homem que lhe deu o sobrenome famoso, após casar-se com Charles Walker, Sarah passou a ser conhecida como Madam C. J. Walker e, com esse nome, ela comercializou seus produtos como uma cabeleireira independente e varejista de cremes e cosméticos e, a partir daí, ela passou a vender de porta em porta – e junto começou a prestar consultoria para as outras mulheres negras aprenderem a cuidar dos seus próprios cabelos.
No mesmo ano em que se casou, Madam Walker colocou a sua filha no cargo de chefia e no comando da operação dos pedidos por correio e começou a viajar pelo leste dos Estados Unidos com o seu marido a fim de expandir os seus negócios e buscar investidores, pois ela já estava com a ideia de ter a sua fábrica em mente.
Em 1908, Walker e sua família se mudam para Pittsburg, Pensilvânia e ali abrem um salão de beleza e fundam a Lelia College para treinar suas revendedoras. Como defensora da independência econômica das mulheres negras, ela abriu programas de treinamento no “Sistema Walker”, que consistia em um método de preparação que foi projetado para promover o crescimento do cabelo e condicionar o couro cabeludo através do uso de seus produtos. O sistema de Walker incluía um xampu, uma pomada indicada para ajudar o cabelo a crescer, escovação extenuante e aplicação de pentes de ferro no cabelo, para ensinar suas revendedoras a receberem uma comissão saudável e administrá-las bem.
Em 1910, Walker mudou seus negócios para Indianápolis, onde estabeleceu a sede da Madam C. J. Walker Manufacturing Company. Inicialmente, ela comprou uma casa e uma fábrica na 640 North West Street. Mais tarde, Walker construiu sua tão sonhada fábrica, um salão de cabeleireiro e uma escola de beleza para seguir treinando suas agentes de vendas e adicionou um laboratório para ajudar na pesquisa em busca de uma constante melhora do seu produto.
Entre 1911 e 1919, durante o auge de sua carreira, Walker e sua empresa empregaram milhares de mulheres como agentes de vendas de seus produtos. Além de treinar vendas e cuidados pessoais, Walker mostrou a outras mulheres negras como fazer um orçamento, construir seus próprios negócios e incentivá-las a se tornarem financeiramente independentes.
Em 1917, inspirada no modelo da Associação Nacional de Mulheres de Cor, Walker começou a organizar seus agentes de vendas em clubes estaduais e locais. O resultado foi o estabelecimento da Associação Nacional de Culturistas de Beleza e Benevolente dos Agentes Madam C. J. Walker (antecessora da União dos Culturistas Madam C. J. Walker da América).
Sua primeira conferência anual foi realizada na Filadélfia durante o verão de 1917, com 200 participantes. Acredita-se que a conferência tenha sido uma das primeiras reuniões nacionais de mulheres empresárias a discutir negócios e comércio. Durante a convenção, Walker deu prêmios a mulheres que haviam vendido mais produtos e trazido os mais novos agentes de vendas. Ela também recompensou aqueles que fizeram as maiores contribuições para instituições de caridade em suas comunidades.
Madam veio a falecer no dia 25 de maio de 1919, aos 51 anos de idade. Após a sua morte, seus produtos fizeram muito mais sucessos e se expandiram para Cuba, Jamaica, Haiti, Panamá e Costa Rica.
Representatividade de Madam Walker
Ao longo da sua vida e morte, Walker, se tornou uma voz notável sobre várias opiniões relacionadas com as mulheres negras. Em 1912, ela participou a uma reunião anual da Liga Nacional de Negócios Negros (NNBL) do centro de convenções, onde declarou:
“Sou uma mulher que veio dos campos de algodão do Sul. De lá fui promovida à banheira. De lá, fui promovida à cozinha de cozinheiro. E, a partir daí, fui promovida ao ramo de fabricação de produtos para cabelos e preparações. Construí minha própria fábrica no meu próprio terreno”. No ano seguinte, ela foi como oradora principal do mesmo evento.
Ela ajudou a levantar fundos para estabelecer uma filial da YMCA na comunidade negra de Indianápolis, comprometendo US$1.000 ao fundo de construção desta filial. Walker também contribuiu com fundos de bolsas para o Instituto de Tuskegee. Walker também foi uma patrona das artes.
Por volta de 1913, Madam Walker contratou o primeiro arquiteto negro licenciado na cidade de Nova Iorque e membro fundador da fraternidade Alpha Phi Alpha, para projetar sua casa em Irvington-on-Hudson, Nova Iorque. Walker pretendia que Villa Lewaro, que custou US$250 mil para construir, se tornasse um local de encontro para líderes comunitários e inspirasse outros afro-americanos a perseguir seus sonhos. Ela se mudou para a casa em maio de 1918 e organizou um evento de abertura para homenagear Emmett Jay Scott, na época o Secretário Assistente de Assuntos Negros do Departamento de Guerra dos EUA.
Walker e a política
Walker tornou-se mais envolvida em questões políticas após sua mudança para Nova Iorque. Ela deu palestras sobre questões políticas, econômicas e sociais em convenções patrocinadas por poderosas instituições negras. Durante a Primeira Guerra Mundial, Walker foi uma líder no Círculo de Ajuda à Guerra do Negro e defendeu o estabelecimento de um campo de treinamento para oficiais do exército negro.
Em 1917, ingressou no comitê executivo do capítulo de Nova Iorque da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP), que organizou a Parada do Protesto Silencioso na Quinta Avenida de Iorque. A manifestação pública atraiu mais de 8 mil afro-americanos para protestar contra uma revolta no leste de Saint Louis, que matou 39 afro-americanos.
Os lucros de seus negócios impactaram significativamente nas contribuições de Walker aos seus interesses políticos e filantrópicos. Em 1918, a Associação Nacional de Clubes de Mulheres de Cor (NACWC) honrou Walker por fazer a maior contribuição individual para ajudar a preservar a casa Anacostia (bairro histórico de Washington, USA) de Frederick Douglass (abolicionista, estadista e escritor negro e americano).
Antes de sua morte, em 1919, Walker prometeu US$5 mil (o equivalente a US$77.700, em 2019) ao fundo ante-linchamento da NAACP. Na época, era a maior doação de um indivíduo que a NAACP já havia recebido. Walker entregou quase US$100 mil a orfanatos, instituições e pessoas físicas; ela direcionou dois terços dos lucros líquidos futuros.
Para saber mais, se apaixonar e se inspirar nessa mulher incrível, ouça o podcast Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes ou então veja a série na Netflix, A Vida e a História de Madam C. J. Walker.
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Por Heloise Pires Silva – Fala! FMU