As discussões acerca do bem-estar animal têm aumentado nas últimas décadas e, com isso, questionamentos sobre os princípios éticos de manter animais marinhos em cativeiro ganharam força.
Por um lado, aquários possuem um papel importante na conservação de espécies marinhas, além de proporcionarem um espaço eficaz de educação ambiental. Através de dinâmicas de observação e interação, crianças e adultos são instigados a aprender sobre diferentes espécies de animais, como eles se comportam na natureza e os impactos causados pelo ser humano nos ecossistemas.
Por outro lado, aquários normalizam a domesticação de animais selvagens com o propósito do entretenimento humano. As criaturas marinhas, que tanto despertam interesse e curiosidade no público, muitas vezes, passam a vida inteira em ambientes confinados que não refletem por completo as condições de seu habitat natural, o que prejudica a expectativa e a qualidade de vida desses animais.
Problemas dos cativeiros para animais marinhos
É necessário ter em mente que a fauna marinha é extremamente diversa e a vida em cativeiro afeta de modo diferente cada espécie. É mais fácil planejar, montar e manter um ambiente adequado para peixes e outros animais menores do que para certos tubarões e mamíferos aquáticos, como golfinhos e baleias, pois são animais com uma alta capacidade cognitiva, que evoluíram para percorrer grandes distâncias no oceano.
Manter os mamíferos marinhos em confinamento, sejam retirados da natureza ou criados em cativeiro, causa imenso sofrimento físico e psicológico, desde a captura e o transporte até a vida nos tanques. Pelos estudos do World Animal Protection, o espaço inadequado fornecido em cativeiro suprime os comportamentos naturais desses animais, como exercícios cardiovasculares consistentes, busca por presas e a interação social com grandes grupos que migram juntos.
De acordo com a organização The Humane Society dos Estados Unidos, orcas em situação de cativeiro possuem a qualidade de vida severamente prejudicada. Por conta da falta de espaço para nadar, a maioria dessas baleias sofre com o colapso da barbatana dorsal, algo experimentado por somente 1% das orcas na natureza.
Além disso, em investigações de ativistas da causa animal no parque temático SeaWorld, foi comprovado como as orcas fêmeas, que comumente prosperam por mais de 100 anos no oceano, possuem a expectativa de vida cortada pela metade ao serem confinadas nas piscinas do parque.
Outros mamíferos, como golfinhos, também são prejudicados no confinamento. No estudo da World Animal Protection, golfinhos na natureza nadam mais de 64km por dia e podem mergulhar a centenas de metros de profundidade. Mesmo nas maiores instalações em cativeiro, esses animais possuem um acesso significativamente restrito se comparado ao espaço disponível para eles em um ambiente natural.
Por conta disso, golfinhos em confinamento costumam desenvolver hábitos de nadar em círculo, um comportamento que indica estresse e falta de estímulo cognitivo, algo essencial para essas criaturas.
Não são apenas mamíferos que sofrem nos aquários e parques temáticos, peixes cartilaginosos, como o grande tubarão branco, são impossíveis de prosperar em cativeiro, visto que se adaptaram a nadar longas distâncias no oceano de forma ininterrupta.
Nas inúmeras tentativas de ter esse animal em exibição, vários tubarões foram sacrificados. O aquário estadunidense Monterey Bay Aquarium capturou diversos tubarões brancos em fase de crescimento para tentar adaptá-los à vida em aquários, mas, além de frequentemente apresentarem sinais de agressão excessiva contra outros tubarões, eles se machucavam ao bater no vidro do tanque e paravam de se alimentar. À custa da vida desses animais, o Monterey Bay Aquarium conseguiu o recorde de manter um tubarão branco vivo por mais tempo: apenas 198 dias.
Os questionamentos sobre a ética de manter em cativeiro um animal como esse afloraram ainda mais quando um tubarão branco, após ter ficado preso em uma rede de pesca em 2016, foi transportado para o aquário da ilha japonesa de Okinawa, onde sobreviveu por somente 3 dias.
A partir dessas informações, é conclusivo que a qualidade de vida de muitas espécies de animais marinhos é prejudicada em aquários e parques temáticos. Por mais que muitas instituições de exposição de vida aquática tenham um propósito educativo e de conservação, é nosso dever nos conscientizar para certificar de que não estamos financiando uma prática que promove violência e abuso contra os animais.
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Por Luana Simões – Fala! UFPE