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Entenda como a saúde financeira exige mudanças de hábito

Novos desafios econômicos impõem mais atenção e planejamento dos jovens

Há tempos, uns 30 ou 40 anos, as pessoas trabalhavam com a certeza de que poderiam se aposentar pela previdência pública no Brasil, as informações sobre educação financeira não estavam tão acessíveis, o futuro nem era a maior preocupação de um povo que precisava sobreviver e que não foi educado financeiramente. As pessoas ainda focam no presente, seja por instinto de sobrevivência ou apenas desleixo, contudo, os caminhos econômicos parecem mudar e é necessário fazer aquele “pé de meia”, como diriam alguns pais e avós.

O país passou por uma reforma previdenciária, em 2019, e elevou as exigências para aposentadoria, quanto mais tarde começar a contribuir, maiores as chances de não receber o benefício integral ou até mesmo morrer sem receber. A expectativa de vida no Brasil tem aumentado gradativamente, em 2018, a esperança de vida ao nascer era de 76 anos e três meses, é bom porque significa que a população está vivendo mais e melhor. Em 1940, por exemplo, estávamos vivendo em média 45 anos.

Somado a isso temos a curva ascendente de envelhecimento da população brasileira, a taxa de fecundidade (a média de filhos) tem diminuído, as pessoas têm menos filhos, mais uma mudança em relação ao passado. Em 1940, a taxa superava os 6, hoje, não chega nem a 2.

Educação financeira
A educação financeira é essencial para a vida de jovens e adultos. | Foto: Unsplash.

A importância da educação financeira

No modelo econômico que vivemos, infelizmente, a previdência pública deverá sofrer novas alterações e seu futuro é incerto, concordando ou não com os métodos, o correto é se preparar para não passar perrengue. Por tudo isso, os jovens precisam mudar seus hábitos financeiros, o que não ocorre de forma automática, é possível curtir os prazeres da vida e planejar.

A educação financeira existe justamente para auxiliar em metas e sonhos, além de trazer a tranquilidade de um futuro mais confortável. É claro que não é tão fácil assim, ainda há a questão da alta taxa de desemprego entre jovens no Brasil, segundo último levantamento do IBGE, quase 27% das pessoas de 18 a 24 anos não têm emprego, mais que o dobro que a média geral (11,8%), a CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Legistas) diz que 47% dessas pessoas não possuem nenhum hábito de educação financeira, em consequência disso, o Serasa aponta que boa parte desse público está endividada, 25% dos mais de 60 milhões de negativados têm entre 18 e 30 anos.

O mineiro Jorge dos Santos, 27 anos e nascido na cidade de Paracatu, conta que nunca recebeu orientação financeira e que as pessoas que estão à sua volta nunca deram bons exemplos:

Nunca tive uma base financeira, tudo que sei sobre finanças aprendi no YouTube, meus pais possuem baixa escolaridade e isso nunca foi pauta, sempre fui muito desorganizado e gastava demais, fiz alguns investimentos na minha casa, mas fiquei desempregado e não consegui pagar meus cartões de crédito.

Jorge ainda conta que possui hoje ao menos 14 negativações no seu nome em valores altos, ele está negociando as dívidas com desconto e já consegue guardar parte do dinheiro, ele diz ainda que suas metas são pagar todas as dívidas e ficar livre para fazer investimentos, guardar dinheiro para o futuro e adquirir bens.

educação financeira
Jorge com a mãe. | Foto: Reprodução.

Aos 20 anos, a paulistana Camila Oliveira já demonstra excelente desenvoltura na administração de seu dinheiro, enquanto a média de score (pontuação dadas por empresas de proteção ao crédito – de 0 a 1000) é de 400 pontos para pessoas na idade dela, a jovem ostenta seus mais de 900 pontos. Afirma que só compra se tiver certeza que vai pagar e quita tudo bem antes do vencimento:

Eu tive e tenho educação financeira da minha família, sempre me aconselharam a guardar o meu dinheiro, aos 16 anos, eu recebia uma bolsa-auxílio, mas infelizmente gastava com besteira, quando deixei de receber queria comprar um celular, mas não tinha guardado dinheiro suficiente, aí que percebi que realmente temos que poupar para gastar com objetivos e necessidades, é bom ter objetivo para não gastar com besteira.

Camila diz que deixa seu dinheiro na poupança porque investiu em outras modalidades e teve prejuízo, mas que está estudando para se sentir segura com novos investimentos, conta que sempre que tem um dinheiro sobrando e não está comprometido, guarda, além de priorizar compras no débito e só comprar no crédito em caso de urgência e valor acima de R$100:

Muitas pessoas ficam com o nome negativado porque passam pequenos valores todos os dias no crédito, isso vira uma bola de neve. No momento, estou guardando dinheiro e vou fazer um plano de previdência privada em um ano.

Ela defende também que, geralmente, os jovens da sua idade gastam muito com moda, cita que não tem interesse em comprar roupas caras se isso não vai ser confortável para o seu orçamento, que há opções igualmente legais e mais em conta.

Camila está em seu primeiro emprego, atendente em uma rede de farmácias, e cursa o segundo semestre de Relações Públicas. Finaliza dizendo que investe para alcançar suas metas:

Se você investe R$100 para fazer bolo e começar a vender, você pode ter um retorno maior do que gastou, tem que arriscar. Em 2018, quando tinha acabado de completar 18 anos, eu peguei R$50 meus e comprei material para fazer geladinho alcoólico e vender no carnaval, tive um retorno de R$250. 

importância da educação financeira
Camila Oliveira. | Foto: Reprodução.

Mãe de três filhos, Simone Regina sempre batalhou para criá-los, aos 47 anos, ela recorre a vários métodos para manter tudo em ordem, ficou desempregada durante muito tempo e começou a vender iguarias que faz com muito afinco, ela também não teve educação financeira. Mas como era a filha mais velha tinha noção sobre reserva para pagamento de contas, porém, só foi trabalhar após ter o primeiro filho, nunca fez aplicações, além de poupança e títulos de capitalização, entretanto, organiza todas as despesas numa planilha de Excel, separando coisas e fixas e variáveis, considerando entradas e saídas, mas nada que gasta ou ganha deixa de ser anotado.

Os filhos mais novos ainda não têm noção sobre finanças, mas ela sempre os chama para a conversa de conscientização sobre o quanto gastam para que aprendam sobre o custo de uma casa:

Eu mostro as contas que tenho para pagar, até porque às vezes eles esbanjam, eles até pegaram o hábito de perguntar quanto gastei nas compras.

Simone diz que vai fazer plano de previdência privada por conta do cenário que está enxergando e realizar aplicação nos próximos meses. Nas compras de supermercado, ela usa os folhetos para ver os preços, define lista de itens e valor máximo, além de levar calculadora, os filhos mais novos têm a preocupação de ajudar quando ganham algum dinheiro, mas boa parte do aprendizado é alcançado com a própria experiência.

previdência privada
Simone Regina. | Foto: Reprodução.

A liberdade estava nos planos de Caroline Francisco de Sousa desde cedo, a jovem de 25 anos fundou, aos 22, o Jovens na Bolsa, trata-se de uma organização que disponibiliza conteúdo de investimento, empreendedorismo e educação financeira em plataformas digitais, como Instagram, YouTube e canais de Podcast. Hoje, são mais de 40 alunos e outras milhares de pessoas podem acessar conteúdos gratuitos, Caroline vai levar o Jovens na Bolsa para escolas públicas e universidades através de palestras, diz aguardar apenas o final da pandemia para iniciar o projeto.

Ela conta que os pais sabiam a importância de não fazer dívidas, mas que parava por aí, ela descobriu sozinha o caminho da educação financeira e sabe o quanto essas informações fizeram falta:

Empreender. Foi o que eu fiz para um dia ter liberdade financeira, que todos querem, mas poucos estão dispostos a pagar o preço. Aprender a vender algo. Todos nós somos vendedores, a diferença é que a maioria das pessoas vendem 44 horas semanais por “X” valor, eu como empreendedora vou escalar meu negócio, não existem limites. Investimentos são aliados neste processo.

como investir em momentos de crise
Caroline Francisco de Sousa. | Foto: Reprodução.

A investidora orienta que o caminho para quem tem medo de começar a investir é buscar conhecimento e estudar muito o assunto, assim, perdeu o receio quando começou, pois a Bolsa a longo prazo pode trazer excelentes retornos:

Vi estudos que mostraram que, em 10 anos, a probabilidade de retorno positivo (ROI – Return On Investiment) é 100%, em 5 anos, 80% e em 1 é de 62%, caso o jovem não esteja disposto a fazer o “dever de casa” para investir na Bolsa, um fundo de previdência pode ser uma boa opção, desde que saiba escolher um bom, infelizmente, os 10 maiores fundos de Previdência no Brasil rendem abaixo do CDI (Certificado de Depósito interbancário), uma taxa-base de juros que os bancos cobram entre para concessão de empréstimos, geralmente está levemente abaixo da taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, que atualmente está em 3,0%.

Explica ainda que mesmo com a Selic baixa é possível fazer investimento interessantes no Tesouro Direto (um dos meios do governo de arrecadar dinheiro, faz parte da dívida pública assumida pelo Brasil), em investimento de emergência, dá para investir em renda fixa com o Tesouro Selic ou variável Tesouro IPCA+2026, que esta remuneração IPCA (inflação) + 3.75%. Defende que existem opções seguras muito mais rentáveis que a poupança, que está pagando somente 70% da Selic, ou seja 2,1% ao ano, sendo que a previsão de inflação para os próximos períodos estão acima de 3% a.a..

Sobre renda variável, Caroline cita que num momento como agora, especialistas estão aproveitando para investir, pois os preços estão caindo, mas tendem a aumentar no futuro, como estão fazendo grandes investidores e gestores de fundos, porém, não recomenda o investimento em RV (Renda Variável) se a intenção é resgatar a curto prazo, pois o fim da crise é incerto e pode demorar de 6 meses até um ano.

São muitas as razões que fazem os jovens não terem interesse pela área econômica, muitas vezes, consideram um tema chato, mas ele precisa ser aprendido porque tem relação direta com nossas vidas e, quanto mais cedo começarmos a pensar sobre, maiores serão as chances de acertar nas escolhas, conquistar metas e não se arrepender de não ter feito nada antes, quando se tinha recursos, tempo e possibilidades.

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Por Elnatã Santos da Paixão – Fala! Anhembi

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