sexta-feira, 26 julho, 24
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‘Elite’ tem temporada fraca mesmo para seus padrões – leia a crítica

Apesar de a série espanhola Elite ser um sucesso explosivo da Netflix, não é difícil admitir que ela é, para muita gente, uma espécie de guilty pleasure. Nós a assistimos conscientes de sua falta de esmero técnico, mas nas três temporadas anteriores, havia um prazer quase fútil de acompanhar um grupo de adolescentes (que não parecem adolescentes) exorbitantemente ricos fazendo sexo, usando drogas, matando pessoas e tentando não ser pegos pela polícia. A descrença jamais foi tão suspensa.

A quarta temporada da série tinha como proposta trazer uma dose de frescor a Las Encinas, tendo em vista que o final da leva anterior de episódios meio que fechava o ciclo das três primeiras temporadas. É surpreendente como ela não só deixou de trazer qualquer coisa muito nova, como também não conseguiu repetir com qualidade a fórmula dos anos anteriores. 

Elite
A quarta temporada de Elite estreou na semana passada e tem dividido opiniões. | Foto: Reprodução.

Crítica da quarta temporada de Elite

Personagens

Começando pelos personagens e a dinâmica entre eles, que era a maior novidade dessa quarta temporada. Os personagens antigos são, em boa parte do tempo, apagados pela presença dos novos personagens, que são extremamente desinteressantes.

Samuel, que tem sido nas últimas três temporadas um dos favoritos dos fãs para se tornar o próximo assassinado, finalmente ganha alguma independência e está sinceramente em seu melhor momento. Rebeka continua tão interessante como sempre, mas sua história é diminuída para que o caos de Mencía possa ter espaço. Cayetana é o melhor personagem da temporada, com toda certeza: ela é frágil, assustada, corajosa, independente, determinada e inteligente. Sem ter praticamente nenhuma interação com nenhum outro personagem além de Philippe, ela consegue sozinha construir um arco incrível, que contrasta totalmente com as outras tramas totalmente sem vitalidade. O resto dos personagens antigos não se destacam. 

Quanto aos novos, como já dito, são bem fracos. O novo diretor e pai dos novos alunos, Benjamín, é o mais consistente e em algum ponto ele se torna até interessante, especialmente em suas interações com Samuel. É ele também quem nos faz lembrar de que quatro dos personagens novos são membros da mesma família. Bem, talvez faltou Benjamín lembrar os roteiristas disso, pois eles evidentemente esqueceram. 

Ari, Patrick e Mencía, os filhos de Benjamín e novos alunos do colégio, quase não interagem durante toda a temporada, nem que seja para demonstrarem os conflitos entre si. Os três são desinteressantes, especialmente Patrick, que existe apenas para fazer sexo com Ander e Omar. E, veja bem, não é como se os criadores tivessem esquecido de criar uma história para ele: Patrick estava no acidente em que sua mãe morreu, passou dois anos em uma cama de hospital, tem um pai exigente, uma irmã controladora e outra totalmente alienada da família. O que não faltava para ele era espaço para ser desenvolvido. No entanto, o que acontece é uma trama amorosa que não vai a lugar nenhum e quando parece estar caminhando, para do nada. 

Mencía tem a trama com mais altos e baixos dos três e seria até interessante se sua rebeldia não parecesse, às vezes, superficial (a despeito de ela ter bons motivos para ser assim). Por fim, Ari tem uma personalidade relativamente bem elaborada, mas não consegue gerar qualquer empatia. É extremamente inconsistente que ela seja apresentada como alguém sempre disposta a defender os seus, mas ignora a existência deles durante boa parte da temporada. Vê-la interferindo no problema de seus familiares, manipulando pessoas para defendê-los, errando e acertando apenas com o objetivo de ajudá-los seria bem legal, mas isso não acontece.

Philippe quase não merece menção. Uma história mediana, com uma atuação fraca e o personagem é totalmente engolido por estar quase o tempo todo interagindo com Cayetana, que chama muito mais atenção do que ele.

Trama

Quanto à trama, a quarta temporada tem um mistério débil, com uma resolução preguiçosa e que não gera muita curiosidade sobre seu desenrolar. Se era para revolucionar a série dando menos destaque a ele, isso poderia ser feito substituindo o “quem matou”/”quem morreu” por um simples “o que aconteceu?!” que realmente gerasse interesse. Não é o que acontece.

As cenas de sexo são bastante ousadas, mas como estão a serviço de uma história fraca, acabam sendo em grande medida gratuitas. O fato de a maioria dos casais não ter muita química também não ajuda. Samuel e Guzmán, por exemplo, exalam muito mais sintonia entre si do que com Ari (a amizade dos dois, aliás, foi totalmente desperdiçada; mais um ponto a menos).

Com personagens apáticos, uma história frágil, mistério irrelevante, ritmo irregular, atuações frequentemente bem medianas e roteiro perdido, Elite chega ao seu quarto ano sem saber para onde está indo. A quinta temporada já está confirmada, com três novos personagens até então. Esperamos que ano que vem seja mais fácil consumir esse guilty pleasure que ninguém nem esperava que fosse muito bom, mas ainda assim conseguiu surpreender negativamente.

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Por Joabe Andrade – Fala! UFMG

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