Na primeira final olímpica da história no Surf, o Brasil conseguiu o ponto mais alto do pódio com Italo Ferreira. O morador de Baia Formosa não só conquistou a medalha de ouro, como deu uma aula de Surf com manobras diversificadas, mas, claro, sem fugir da sua principal habilidade, o aéreo, manobra que propiciou a maior nota das Olimpíadas, um 9.73. O campeão mundial confirmou seu favoritismo e construiu uma linda história em Tóquio.
A evolução de Italo Ferreira
Italo Ferreira nasceu na Baía Formosa (RN), cidade com apenas 8 mil habitantes. Foi lá que ele iniciou sua caminhada no Surf. Desde novinho, o brasileiro sempre gostou muito de pegar ondas e, mesmo se não conseguisse alguma prancha emprestada, ele sempre dava um jeito de praticar sua paixão, mesmo que fosse em uma tampa de isopor do pai, que era pescador.
Italo, mesmo jovem, já chamava muita atenção, logo aos 12 anos, ele foi descoberto pelo diretor de marketing de uma das principais marcas de surfe do mundo, o Luiz Pinga. A partir daí, começou a acumular títulos e mais títulos. Em 2011, venceu duas etapas do Pró Junior. Depois, em 2014, sagrou-se campeão brasileiro. Com isso, classificou-se para integrar o World Championship Tour (WCT), a elite do circuito. Logo em 2015, ano de sua estreia, o brasileiro surpreendeu a todos, acabou ficando em sétimo lugar no WCT com apenas 21 anos, dessa forma, ele se tornou o melhor novato no WCT.
Com o passar do tempo, Italo evoluía cada vez mais. O que mais chamava a atenção era a sua regularidade, em virtude disso, era apenas uma questão de tempo para o morador de Baia Formosa conquistar o título mais importante de todos: o World Championship Tour. Não é à toa que, quatro anos após a sua estreia no circuito, ele se tornou o terceiro brasileiro a conquistar o mundo, depois de Gabriel e Adriano de Souza, sendo o primeiro nordestino a chegar ao ápice.
Italo Ferreira e a busca pelo ouro
O Surf estreou nas Olimpíadas de Tóquio, e ele aconteceu na praia de Tsurigasaki, que fica na cidade de Ichinomiya, a cerca de 60km de Tóquio. A primeira rodada contou com quatro surfistas por bateria, enquanto a segunda rodada teve cinco. A partir da terceira rodada, a competição se transformou no formato de um contra um. As Olimpíadas contavam inicialmente com 20 atletas.
Italo Ferreira iniciou a sua busca pelo ouro olímpico, logo na primeira bateria do torneio, junto com o japonês Hiroto Ohhara, o italiano Leonardo Fioravanti e o argentino Leandro Usuna. O brasileiro confirmou o favoritismo ficando na primeira posição da bateria e avançou diretamente para as oitavas, logo atrás dele ficou o japonês que também avançou, enquanto o argentino e o italiano foram para a repescagem.
Nas oitavas, Italo enfrentou o neozelandês Billy Stairmand. Após um início com muita intensidade, o potiguar saiu atrás no placar, entretanto, o brasileiro se recuperou, assumiu a ponta da bateria e depois foi apenas administrando, dessa forma, acabou a bateria com 14.54, enquanto seu rival ficou com 9.67, com isso, avançou para a próxima fase.
Nas quartas, o Italo teve pela frente Hiroto Ohhara, do Japão. Mas eliminou sem sustos o surfista local. Logo em sua primeira onda na bateria, o brasileiro conseguiu um aéreo espetacular, em virtude disso, recebeu a maior nota de toda Olimpíada, um incrível 9.73 com um “aéreo de backside full rotation”, colocando toda a pressão no japonês, que não aguentou e terminou a bateria com 11,90 (6,73 e 5,17), contra 16,30 (9,73 e 6,57) do brasileiro. Ao ser perguntado sobre a onda quase perfeita, o surfista potiguar comentou: “O 10 está guardado. Se Deus permitir, na final eu vou conseguir”. Além disso, ele foi enfático ao falar da briga pelo título: “não quero o bronze, quero o ouro. Eu vim para ganhar. Então eu vou para cima”.
Na semifinal, Italo enfrentou o australiano Owen Wright, que bateu Lucas Messina, do Peru, por 12.74 a 7.83. A bateria foi acirradíssima, chegou a estar empatada com 11.00 pontos para cada. Porém, o brasileiro aumentou a vantagem ao receber 6,47. Com cinco minutos para o final da bateria, o australiano precisava de uma nota 6,7 para ultrapassar, mas felizmente não conseguiu, dessa forma, Italo Ferreira se garantiu na decisão. Do outro lado da chave, o seu compatriota e líder do ranking Gabriel Medina acabou perdendo para o japonês, atualmente sexto do ranking, Kanoa Igarashi, em uma bateria recheada de polêmica. Portanto, a medalha de ouro seria decidida entre o brasileiro Italo Ferreira e o Japonês Kanoa Igarashi.
A decisão
Enfim, chegamos à decisão para ver quem se tornaria o detentor da primeira medalha olímpica de ouro no Surf. A final foi disputada entre Italo Ferreira, morador de Baía Formosa e o japonês Kanoa Igarashi. O começo da bateria tinha tudo para dar errado para o brasileiro, visto que, logo na primeira onda, sua prancha quebrou, com isso, o campeão mundial de 2019 acabou perdendo um pouco de tempo para pegar uma prancha nova, mas isso não o impediu de iniciar à frente do marcador.
Dessa forma, a bateria foi passando e, após um início muito disputado, Italo mostrou que não sentiu a pressão, mandando duas belas ondas em seguida, que renderam as notas 7.0 e 5.5, ampliando a diferença para o seu rival. Assim sendo, o japonês precisava de um 8.67 se quisesse virar a bateria. Porém, novamente o brasileiro conseguiu aumentar essa diferença no placar, já que ele tirou a nota 7.7. Com isso, a única forma de Italo ser ultrapassado era através de uma combinação. Faltando três minutos, o segundo colocado no ranking mundial sacramentou sua vitória, aumentando ainda mais sua nota.
Desse modo, o jovem que começou surfando em uma tampa de isopor se tornou o primeiro surfista campeão olímpico na história. O brasileiro não apenas ganhou, como desfilou pelo Japão com suas manobras espetaculares. Italo Ferreira de Baía Formosa para o mundo.
Criando oportunidades
Italo, em uma entrevista realizada à Rede Globo, após a conquista da medalha olímpica, não pôde deixar de mencionar a sua maior incentivadora, sua avó, Dona Marquinha.
Eu queria que minha avó estivesse viva para ela ver isso. Para ver o que eu me tornei, o que eu consegui fazer pelos meus pais, por aqueles que estão ao meu redor. Não sei, não tenho palavras, só tenho a agradecer, realmente. É algo que eu almejei bastante, que eu sonhei. Está lá do lado da minha cama essa frase que eu falei no início (“Diz amém que o ouro vem”). Todo dia eu orei às 3h da manhã, pedi a Deus que ele realizasse meu sonho. E está aí, meu nome está escrito na história do surfe.
O campeão olímpico Italo Ferreira tem a intenção de transformar a antiga casa de sua avó em um instituto, para oferecer oportunidades às crianças do Rio Grande do Norte, de conseguirem viver a vida através do esporte.
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Por Caio Padilha – Fala! Cásper